Alvo de grileiros, a Terra Indígena (TI) Ituna/Itatá, no Pará, sofreu uma onda de desmatamento sem precedentes em áreas protegidas nos últimos dois anos. A avaliação é da iniciativa Mapbiomas, o maior programa independente de monitoramento do solo por satélite no Brasil.
Imagens geradas pelos sistema Planet/SCCON e analisadas pelo MapBiomas mostra que, em 2017, a TI Ituna/Itatá, de 142 mil hectares, estava praticamente intacta. Dois anos depois, é possível ver estradas e grandes áreas desmatadas.
Entre 2018 e 2020, foram 112 km2 desmatados (o equivalente a 71 parques Ibirapuera, em São Paulo), segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.
“Nunca vi nada parecido”, afirma Tasso Azevedo, do projeto MapBiomas. “Tem todos elementos de uma coisa sistemática e intencional de inviabilizar a área protegida.”
A situação é mais dramática por se tratar de uma área de índios isolados, bastante vulneráveis, afirma Azevedo. Ao longo da história, são inúmeros os casos de etnias extintas por terem baixa imunidade a doenças como gripe e sarampo.
Localizada na região da usina de Belo Monte, Ituna/Itatá é uma área de restrição de uso, por meio de uma portaria renovada em janeiro de 2019, com validade de três anos. O objetivo é permitir que a Funai faça estudos sobre o grupo de isolados, de etnia desconhecida, e garantir a sua proteção. A política oficial é de que o contato com não indígena seja feito apenas de forma voluntária pelos isolados.
Com a eleição de Bolsonaro, contrário à demarcação de terras indígenas, os grileiros invadiram a área protegida com a expectativa de que Ituna/Itatá deixe de existir. A ação conta com o apoio do senador Zequinha Marinho (PSC-PA).
Em janeiro, Marinho chamou os fiscais do Ibama de “bandidos e malandros” por destruir e aprender equipamento na TI.
Para legalizar as invasões, o senador conta com a assessoria do antropólogo bolsonarista Edward Luz. No domingo (16), ele foi detido e algemado dentro da Ituna/Itatá após tentar impedir a fiscalização do Ibama.
Seu pai, que também se chama Edward Luz, é o presidente da organização evangélica MNTB (Missão Novas Tribos do Brasil), expulsa, no começo dos anos 1990, da região habitada pelos índios zoés, no Pará, contatados ilegalmente por eles.
Recentemente, a Funai nomeou o teólogo e missionário da MNTB Ricardo Lopes Dias para a Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Fundação Nacional do Índio (Funai).
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