Sob governo Bolsonaro, cresce tensão entre mundurukus favoráveis e contrários à atividade ilegal
Mundurukus pró-garimpo destruíram nesta quinta-feira (25) o prédio que abrigava quatro associações do próprio povo indígena contrárias à atividade ilegal, em Jacareacanga, no sudoeste do Pará.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram a sede vandalizada e pichada com as inscrições “Fora [Polícia] Federal” e “Fora ONG”. O nome da Associação das Mulheres Munduruku Wakoburun foi parcialmente apagado da fachada. Na calçada em frente, os invasores queimaram documentos e produtos tradicionais que eram comercializados no local.
“Hoje, em manifestação do pequeno grupo de mundurukus favorável ao garimpo, junto com os demais bandidos pariwat [não indígenas] invasores da nossa terra, queimaram nosso escritório. Depredaram todos nossos documentos e equipamentos coletivos. Eles já vinham anunciando que iam fazer isso, e o poder público local, e os demais órgãos competentes nada fizeram para manter a nossa segurança”, afirma carta divulgada pelas quatro associações.
Sob a condição do anonimato, mundurukus relataram à Folha que lideranças contrárias ao garimpo estão escondidas, em meio a ameaças de morte, entre elas Maria Leusa Munduruku.
A Terra Indígena Munduruku está localizada na bacia do Tapajós, epicentro da exploração ilegal de ouro na Amazônia. Vários rios e igarapés da região já estão completamente destruídos. A atividade é financiada por garimpeiros não indígenas, que aliciam mundurukus, gerando conflitos internos.
Essa tensão aumentou a partir do início do governo Jair Bolsonaro, em 2019, que vem prometendo legalizar a atividade. Em agosto do ano passado, um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) levou mundurukus pró-garimpo de Jacareacanga a Brasília, para reuniões com o governo federal.
Na semana passada, o Ministério Público Federal (MPF) pediu atuação urgente de forças federais para conter o avanço da invasão de garimpeiros na região do igarapé Baunilha, perto de Jacareacanga, com apoio até de um helicóptero. Essa nova frente em um dos poucos igarapés ainda intactos gerou temores de violência entre os mundurukus, mas até agora não houve nenhuma ação do governo federal na região.
“Estamos gritando tem dias, pedindo que as forças policiais ajam sobre esse grupo de criminosos que querem devastar nosso território e que ameaçam a nossa própria vida e integridade. Exigimos que com urgência algo possa ser feito. Todos sabem quem são os envolvidos, denunciamos a todos os órgãos que deveriam estar colaborando com os povos indígenas”, afirma a carta das associações.
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