É enganoso um post no Facebook, compartilhado pelo advogado e suplente de deputado federal João Barros (PSL-BA), que relaciona um acampamento na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com uma suposta mobilização de manifestantes pró-governo que estariam reunidos para ato do dia 7 de Setembro.
O vídeo, como verificado pelo Projeto Comprova, é do acampamento indígena Luta pela Vida, organizado pela Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), que visa fazer pressão contra o que classifica como “agenda anti-indígena” do governo federal e do Congresso Nacional.
Procurado por telefone, o autor da postagem enganosa, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), afirmou que o material não é de sua autoria, e que compartilhou um vídeo que está circulando nas redes sociais.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações, e que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.
COMO VERIFICAMOS?
Buscamos no Google pelo local exato em que foi gravado o vídeo. Isso nos levou ao mesmo ponto em que está concentrado o acampamento indígena Luta pela Vida, que terá atividades até o próximo sábado (28). O ato é organizado pela Apib. Também analisamos as imagens do vídeo e fotos divulgadas pelo movimento indígena.
Para entender o que é o acampamento, entramos em contato com a associação e consultamos notícias na mídia. Por fim, falamos com o autor do post.
VERIFICAÇÃO
Vídeo mostra acampamento indígena
O vídeo compartilhado nas redes sociais mostra o acampamento Luta pela Vida. Os indígenas começaram a chegar a Brasília no domingo (22) e devem permanecer na capital até sábado (28). Os manifestantes estão instalados na Praça da Cidadania, na Esplanada dos Ministérios.
No vídeo, é possível ver que a filmagem foi feita exatamente no mesmo local do acampamento indígena. No fundo, aparecem prédios compatíveis com a localização, como o Teatro Nacional Cláudio Santoro e a sede da CNN Brasil em Brasília. Além disso, é possível ver um ônibus, nas cores verde e branco, similar a um que aparece em imagens divulgadas pelo CTI (Centro de Trabalho Indigenista, porém, de outro ângulo.
O acampamento Luta pela Vida
Povos indígenas de todo o país estão reunidos em Brasília desde domingo (22). A movimentação acontece na semana do julgamento no STF sobre a demarcação de terras indígenas (RE 1017365). O Supremo vai se debruçar sobre a tese do “marco temporal” que, se referendada, só permitiria aos indígenas reivindicar terras que ocupavam antes da promulgação da Constituição de 1988. A tese é considerada um golpe contra o movimento indígena, o que gerou a mobilização.
De acordo com informações da Apib, aproximadamente 6 mil indígenas, de 170 etnias, estão acampados em Brasília. Para a entidade, esta é a maior mobilização deste grupo desde os atos realizados na época da elaboração da Constituição Federal.
À reportagem, a entidade afirmou que “esse vídeo é mais uma mentira que está circulando sobre a mobilização indígena em Brasília“. O movimento também disse não ter informações sobre as manifestações do dia 7 de Setembro. “As declarações são mentirosas e devem ser desconsideradas por não possuir qualquer credibilidade.”
Atos de 7 de Setembro
Apoiadores de Bolsonaro têm convocado a população para atos a favor do governo em várias cidades do país no dia 7 de Setembro. O próprio presidente confirmou que irá discursar nos atos em Brasília e em São Paulo. As convocatórias para o 7 de Setembro ganharam força nos últimos dias, especialmente depois da tensão entre os Poderes. Também foi um fator para as movimentações a prisão do presidente do PTB, Roberto Jefferson, e os mandados de busca e apreensão contra o cantor Sérgio Reis, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), e outras oito pessoas – alvos do STF em uma ação que investiga a convocação de atos violentos contra a Corte.
Quem é João Barros
Advogado e suplente de deputado federal pelo PSL-BA, em 2020, Barros se candidatou a prefeito de Ilhéus, na Bahia, pelo PRTB, mas não venceu a eleição. Atualmente, a cidade baiana é governada por Mário Alexandre Correa de Sousa, do PSD. Conhecido como “João Bolsonaro”, por ser um forte apoiador do presidente, o deputado realizou sua campanha para ocupar o cargo na prefeitura baseado em alguém que “luta contra bandeiras defendidas por partidos de esquerda, como o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] e falsos índios”.
Em entrevista por telefone, Barros disse que não gravou o vídeo e somente compartilhou o conteúdo. “Está circulando e recebi em vários grupos do WhatsApp. Eu vi esse vídeo em várias outras páginas também.” O advogado também afirmou que, quando falou em mobilização para o 7 de Setembro, foi uma forma de expressão. “O 7 de Setembro não especificamente, mas o que ele significa de independência.”
POR QUE INVESTIGAMOS?
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos enviados por leitores que falem da pandemia, de políticas públicas ou eleições. Só checamos conteúdos que tenham atingido um alto grau de viralização. O vídeo aqui verificado teve mais de 895 mil visualizações e 38 mil compartilhamentos até esta quinta-feira (26).
Este conteúdo também foi checado pela Agência Lupa e foi marcado como falso pelo Facebook.
O Comprova também já mostrou que é enganoso que o voto impresso já estaria previsto em lei e que é falso que urnas brasileiras teriam sido hackeadas nos Estados Unidos.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações disponíveis no dia 26 de agosto de 2021.
A investigação desse conteúdo foi feita por Estadão, Correio Braziliense e Poder360 e publicada na quinta-feira (26) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 33 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus, políticas públicas e eleições. Foi verificada por Folha, UOL, Correio, GZH e Correio de Carajás.
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