Entre os dias 16 e 21 de dezembro, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) realizou o II Módulo da Formação de Multiplicadores Indígenas em Restauração Ecológica (MIRE). A iniciativa, conduzida pela Coordenação de Conservação e Recuperação Ambiental da Funai, ocorreu no âmbito do Projeto BRA/13/019 – Implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
O evento ocorreu na sede do Programa Arboretum, em Teixeira de Freitas (BA), e na Terra Indígena (TI) Barra Velha, localizada em Porto Seguro (BA).
A formação tem como objetivos engajar representantes indígenas para atuarem como multiplicadores da restauração em nível local, regional e nacional, bem como fortalecer processos de restauração já realizados em territórios indígenas. Espera-se, também, dar maior visibilidade ao papel fundamental dos povos indígenas na restauração e contribuir para a qualificação das ações de restauro que tenham interface com os povos indígenas.
O II Módulo foi focado em experiências práticas, como regeneração natural assistida, plantio de mudas, uso de muvuca e sistemas agroflorestais. Além disso, foram discutidos e compartilhados protocolos de monitoramento, etapa essencial para o sucesso da recuperação de vegetação nativa.
A coordenadora de Conservação e Recuperação Ambiental da Funai, Nathali Germano, ressaltou a relevância do módulo. “O II Módulo foi especialmente enriquecedor por ter acontecido, quase que integralmente, em território indígena. Isso possibilitou vivenciar práticas e tecnologias indígenas de restauração, que abrangem dimensões ecológicas, socioculturais e espirituais. Além disso, cabe destacar a presença uma rede de parceiros que estão sendo mobilizados para apoiar a Funai na condução desse processo, fortalecendo a complementariedade entre conhecimentos indígenas e ocidentais, bem como para contribuir com a construção do Programa Indígena de Restauração Ecológica, previsto para o próximo ano.”
Participação e Parcerias
A iniciativa contempla 15 indígenas selecionados para a formação, representantes de 12 povos indígenas e dos seguintes territórios: Araribóia, Barra Velha, Cachoeirinha, Kapinawá, Karitiana, Krikati, Katokinn, Kumaruara, Nioaque, Parque do Xingu, Renascer/Ywty Guaçu, Xacriabá e Xukuru.
No II Módulo ainda participaram servidores de seis coordenações regionais da Funai. O evento também reuniu parceiros como a Aldeia Tatuí, COOPAJÉ, Programa Arboretum, Ecoporé, FAO, Conservação Internacional, Fundo Ambiental Sul Baiano e Pacto pela Restauração da Mata Atlântica.
Para Tainan Kumaruara, participante do módulo, “esse segundo módulo foi muito fundamental por ter acontecido dentro de um território indígena que tem uma grande experiência, por ser um dos territórios que teve grandes impactos devido à colonização, o território Pataxó. Destaco as vivências e oportunidade que tivemos de conhecer os trabalhos em andamentos de restauração na T. I. Barra Velha. E credibilizo a importância de envolver os indígenas nessas ações devido ao fortalecimento das atividades que já realizamos tradicionalmente e a importância de termos acesso a novas técnicas e conhecimentos científicos devido a necessidade de adaptação para combatermos a mudança do clima. A ação de deixar 200 mudas plantadas na aldeia Tatuí foi o momento de conexão individual e de firmarmos ainda mais o compromisso com essa agenda da Restauração Ecológica”.
Mathias Santana da Conceição, do povo Pataxó, afirmou que “essa capacitação trouxe mais conhecimento e segurança para os trabalhos na área da restauração. O que eu mais achei importante foi que a funai faz parte dessa capacitação, trazendo mais conhecimento e segurança”.
Representando o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Ricardo Viani destacou que “participar do segundo módulo do programa de formação de Multiplicadores Indígenas em Restauração Ecológica (MIRE) representando o Pacto foi uma experiência única e cativante. Vivenciar uma intensa troca de experiência entre saberes indígenas e acadêmicos ampliou meu entendimento do quanto a restauração ecológica envolve pessoas e sociedades com diferentes visões de mundo, indo muito além de apenas recuperar processos ecológicos. Sai do evento convicto de que precisamos ter uma participação efetiva dos povos indígenas nos coletivos biomáticos de restauração ecológica”.
Matheus Couto, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), “Participar do modulo do MIRE foi uma experiencia marcante, destacando a troca de saberes técnicos e práticos em restauração de ecossistemas entre os multiplicadores indígenas. O conhecimento tradicional desempenha um papel fundamental nos processos de restauração em terras indígenas, especialmente quando se pensa que nas TI o monitoramento e manejo das áreas ocorre em longo prazo, o que muitas vezes não é a realidade de muitos projetos de restauraçao em outras circunstâncias. Esta interação aprofunda a relação entre as pessoas e a natureza. Durante o módulo, os multiplicadores trouxeram perspectivas, discutiram e fortaleceram capacidades, conhecimentos técnicos e acadêmicos, juntamente com profissionais líderes em seus campos. Dessa forma, a restauração foi abordada de maneira a integrar as cosmovisões indígenas, enriquecendo os processos com uma abordagem mais holística. Sem dúvida, foi uma experiência valiosa e transformadora para todos os envolvidos.”
A formação MIRE teve início em outubro de 2024 e se estenderá até março de 2025, com três módulos presenciais e atividades complementares. O terceiro módulo está previsto para ocorrer em fevereiro, no bioma Cerrado, em Nova Xavantina (MT).
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