Foto: Thiago Ripper

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Indígenas do Coletivo Jupago Kreká do Povo Xukuru do Ororubá (PE) e da Associação Karuajé do Povo Karuazu receberam, no dia 30 de agosto, no município de Piranhas (AL), o prêmio Dom Helder Câmara de Sistemas Agrícolas Tradicionais do Semiárido, pelas boas práticas de manejo e encantamento da cosmonucleação regenerativa de Xukuru e da agricultura indígena de Karuazu.

Os ganhadores pertencem a comunidades atendidas pela unidade da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) localizada em Alagoas, a Coordenação Regional Nordeste I, que contou com representante presente no evento, a Indigenista Especializada Juliana Duarte, do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial. Também estiveram presentes representantes da Coordenação Regional do Baixo São Francisco, que atende um grupo igualmente contemplado pelo prêmio, por meio da experiência dos Quintais Produtivos, da Aldeia Coelho Atikum Jurema. O evento contou com expressiva participação de agricultores familiares e representantes de povos e comunidades tradicionais do bioma Caatinga, dos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Piauí.

A iniciativa, promovida pela Embrapa Alimentos e Territórios, premiou doze Sistemas Agrícolas Tradicionais (SAT) do Semiárido brasileiro que se destacam por suas práticas, tecnologias, conhecimentos e rituais, contribuindo para a segurança alimentar e a conservação da biodiversidade. Além da premiação, foi concedida uma menção honrosa a mais um SAT, pelo nível de organização e contribuição para a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento da comunidade. Dinâmicas interativas e palestras sobre cultura alimentar e patrimônio cultural integraram a programação.

“Saberes, Memórias e Resistências” foram os temas da palestra proferida pela professora Renata Menasche, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que abriu o evento no Centro Xingó. “A agricultura e a sabedoria tradicionais alimentam o mundo há milênios”, destacou a professora. “A comida é uma linguagem através da qual um grupo se expressa”, reforçou.

O seminário “Formas de designação de Sistemas Agrícolas Tradicionais como Patrimônio”, realizado no período da tarde, no Centro de Convenções Miguel Arcanjo de Medeiros, contou com duas palestras. A pesquisadora Patrícia Bustamante, da Embrapa Alimentos e Territórios, apresentou o tema “Sistemas Agrícolas como Patrimônio Agrícola Mundial”. Bustamante é membro do Conselho Científico Consultivo do Programa Globally Important Agricultural Heritage Systems (Giahs) da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Ela falou sobre o Programa Giahs que já reconheceu mais de 60 sistemas ao redor do mundo, com base nos critérios de segurança alimentar, conservação da biodiversidade, conhecimento tradicional, cultura e organização social, e paisagem cultural. Também apresentou a Foodzcapes, rede internacional para preservação dinâmica das paisagens alimentares tradicionais e populares, que considera a relação dos povos com a sua comida como elemento essencial da cultura.

Nessa linha, os “Sistemas Agrícolas Tradicionais como Patrimônio Cultural e Imaterial Brasileiro”, foram temas da palestra proferida pelo historiador Maycon Marcante, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/AL). Ele ressaltou o protagonismo das comunidades presentes que se habilitaram ao prêmio, pelo fato de pensar e organizar as suas próprias referências e manifestações culturais.

A antropóloga Natália Brayner, do Iphan, explicou que a diversidade cultural também é vista como um potencial para o desenvolvimento das comunidades. “Os detentores da herança, do patrimônio, são guardiões que cuidam para que as futuras gerações possam vivenciar esse legado cultural”, disse.

O chefe de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Embrapa Alimentos e Territórios, Ricardo Elesbão, enalteceu a iniciativa do Prêmio Dom Helder Câmara, iniciada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Sustentável (BNDES) com a Embrapa e o Iphan. Ele ressaltou a importância da temática para a Empresa, para os parceiros e, em especial, para as comunidades que estão sendo reconhecidas, com o suporte do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).

Confira os SAT premiados:

1. Guerreiras do Quilombo, da Comunidade Quilombola de Guaxinin, Cacimbinhas (AL).
2. Arranjo Produtivo Raízes de Macaxeira, da Associação de Cooperação Agrícola do Assentamento Lameirão, Delmiro Gouveia (AL).
3. Organização voltada para o Sistema Agrícola, da Associação Indígena Agrícola Karuajé da Aldeia Karuazu, Pariconha (AL).
4. Território Fundo de Pasto Angico dos Dias, das comunidades Angico dos Dias, Sítio Açu, Baixão Grande, Baixão Novo e Baixãozinho, Campo Alegre de Lourdes (BA).
5. Território das Comunidades Tradicionais Fundo de Pasto Esfomeado e Vargem Comprida, Curaçá (BA).
6. Comunidade Tradicional Fundo de Pasto da Comunidade Cachoeirinha, Juazeiro (BA).
7. Brejos Dois Irmãos, Pilão Arcado (BA).
8. Cosmonucleação Regenerativa, do Coletivo Jupago Kreká, Pesqueira (PE).
9. Quintais Produtivos, da Aldeia Coelho Atikum Jurema, Petrolina (PE).
10. Grupo de Mulheres do Assentamento Mandacuru, da Associação dos Agricultores Familiares do Assentamento Mandacaru, Petrolina (PE).
11. Produção Agrícola, do Quilombo Custaneira, Paquetá (PI).
12. Conservação da Galinha Canela Preta, da Comunidade Quilombola Tapuio, Queimada Nova, (PI).
13. Menção Honrosa: Comunidade da Serra dos Paus Dóias – Agricultura Familiar Tradicional, da Associação dos Agricultores Familiares da Serra dos Paus Dóias (Agrodóia), Exu (PE).

As atividades de premiação integram o projeto Segurança alimentar e nutricional, e geração de renda para agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais do Semiárido brasileiro. Desenvolvido no âmbito do Projeto Dom Helder Câmara, segunda fase (PDHC II), é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e cofinanciado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).

São parceiros a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-Brasil), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Ministério do Turismo (MTur), a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) e a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).

No dia 31, Uma diversidade de agricultores familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais do Nordeste compartilhou suas práticas agrícolas, culturais e sociais durante o seminário Diálogos sobre Agroecologia, Territórios e Cultura Alimentar, realizado no Centro de Convenções Miguel Arcanjo de Medeiros, em Piranhas (AL).

“As atividades seguiram um percurso metodológico baseado na interculturalidade, interdisciplinaridade e na construção e intercâmbio de conhecimentos”, de acordo com o analista da Embrapa Fabrício Bianchini. Essa troca entre os pesquisadores, gestores, agentes públicos e as comunidades também permitiu um diálogo sobre as políticas de manejo e conservação da biodiversidade, redução da pobreza rural e das desigualdades de gênero, geração e etnia, fortalecendo a capacidade de organização e empoderamento dos públicos beneficiários do projeto, em especial os jovens e as mulheres.

Durante o seminário, houve seis rodas de diálogos, que contaram com a participação de pesquisadores da Embrapa e de representantes das comunidades, associações e instituições parceiras, além de uma feira da sociobiodiversidade e apresentações culturais.

Uma das mesas abordou especificamente a Apicultura Indígena, com participação do Pesquisador da Embrapa, Moacir Haverroth, a indigenista Juliana Duarte, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (CR NE I), os indígenas Franklin Melo Freitas do Povo Xocó, da Terra Indígena Caiçara/Ilha de São Pedro (SE), Maquisuel Soares da Silva, da Terra Indígena Tingui-Botó (AL) e Israel Kapinawá da Terra Indígena Kapinawá (PE). Foi um importante momento de trocas e de fortalecimento de parcerias na construção de perspectivas futuras.

A programação contou, ainda, com a participação, como debatedores, dos pesquisadores da Embrapa Alimentos e Territórios João Roberto Correia, Paola Cortez e Priscila Bassinello e vários representantes das comunidades, associações e instituições parceiras. São eles: Aline Oliveira da Silva, do Assentamento Lameirão; Ana Paula da Silva, do Assentamento Nova Esperança; Anna Luna e Maria Helena Silva, da Bioativo Consultoria; Cristiana Purcell, do Senac Alagoas; Denise Cardoso, da Central da Caatinga; Eliel Leobino, da Comunidade Andorinhas; Genilda de Brito, da Creche Cria; Maria Eunice de Jesus, da Associação de Agricultores Alternativos (Aagra); Pedro Duarte da Conceição, da Comunidade Cachoeirinha; Rute Barbosa, do Iphan; Salete Barbosa e Vera Lúcia Félix de Brito, da Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Estado De Alagoas (Coopcam); e Iran Xukuru (IPA) da Terra Indígena Xukuru de Ororubá, Pesqueira (PE).

Assessoria de Comunicação/Funai

Tags: CR Nordeste IPrêmio

Fonte:https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2023/indigenas-do-nordeste-recebem-premio-dom-helder-camara-de-sistemas-agricolas-tradicionais-do-semiarido

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