Foto: Mário Vilela/Funai
O Centro de Formação em Política Indigenista da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Brasília (DF), sediou entre os dias 26 e 28 de agosto a Oficina Intercâmbio de Saberes sobre Mudanças Climáticas, integrante do Projeto BRA Bioma Mulheres Indígenas. O encontro reuniu mulheres indígenas de diferentes povos e regiões do país, servidores da Funai e consultoras, promovendo a troca de experiências e reflexões sobre mudanças climáticas, gestão ambiental e territorial sob a perspectiva das mulheres indígenas dos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
A abertura foi conduzida pela coordenadora-geral da Coordenação-geral Promoção da Cidadania (CGPC), Danielle Brasileiro, que destacou o protagonismo das mulheres indígenas na proteção da vida e dos territórios.
“As mulheres são guardiãs das sementes, das águas, da floresta, dos territórios e das relações comunitárias que sustentam a vida. E é por isso que esta oficina é tão especial: ela nos permite escutar e reunir essas vozes, experiências e estratégias, transformando-as em dossiês e metodologias que fortalecem a luta coletiva em defesa dos territórios e do bem viver”, afirmou.
Segundo Danielle, a crise climática é um dos maiores desafios da atualidade e os povos indígenas, em especial as mulheres, carregam práticas e saberes fundamentais para enfrentá-la.
Projeto BRA Bioma Mulheres Indígenas
O Projeto BRA Bioma Mulheres Indígenas teve início em 2019, no âmbito da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), com o objetivo de fortalecer o protagonismo das mulheres diante das mudanças climáticas.
A coordenadora de Gênero, Assuntos Geracionais e Participação Social da Funai, Lídia Lacerda, explicou que a metodologia envolveu consultas nos seis biomas brasileiros, com foco inicial no Cerrado e na Caatinga, historicamente menos contemplados nas discussões ambientais.
“Colocamos como objetivo alcançar pelo menos cinco terras indígenas em cada bioma e esse resultado foi atingido. Esse processo de escuta permitiu reunir as percepções das mulheres indígenas sobre as mudanças climáticas, promovendo debates regionais e locais que fortaleceram a construção coletiva de conhecimentos”, destacou Lídia.
Funai promove escuta de mulheres do Bioma Mata Atlântica para enfrentamento às mudanças climáticas
A coordenadora de Planejamento em Gestão Territorial e Ambiental, Priscila Colodetti, reforçou que a iniciativa está diretamente ligada à implementação da PNGATI e observou que não existe gestão territorial e ambiental sem a participação das mulheres nos espaços de decisão, considerando que o trabalho realizado representa efetivamente gestão territorial e ambiental, dentro e fora das aldeias.
A oficina também se constituiu como um espaço de intercâmbio de saberes e de proposição de reflexões para a gestão territorial. A metodologia aplicada visa disseminar as informações coletadas entre as mulheres participantes e suas comunidades, apoiando servidores da Funai no trabalho de base em aldeias, territórios e contextos urbanos . O objetivo é contribuir para a elaboração de Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs), em parceria com movimentos de mulheres indígenas.
Protagonismo feminino
Durante a oficina, representantes de diferentes biomas destacaram a importância do espaço para o fortalecimento da luta e da participação feminina.
Terezinha Sateré-Mawé, representante da Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas (MAKIRA-E’TA), ressaltou o valor da troca de experiências. “Conversamos sobre nossas dificuldades e sobre como queremos mostrar nosso trabalho e nossas formas de viver, plantar, cultivar e compartilhar”.
Josi Xokó, da Associação de Mulheres Indígenas Xokó (AMIX), do bioma Caatinga, destacou a importância da escuta nos territórios. “No nosso povo, na beira do Rio São Francisco, a consulta foi um momento essencial de ouvir nossas vozes. Estar aqui em Brasília com parentes de vários biomas, trocando experiências, é motivo de grande alegria e fortalecimento”.
Para Telma Taurepang, coordenadora-geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB) e co-fundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), a oficina representou um marco histórico. “Hoje, a Funai nos traz um documento que vai se tornar política pública para as futuras gerações. É um fato histórico para nós, mulheres indígenas, que queremos políticas adequadas à nossa realidade”, declarou.
Já Fernanda Kaingáng, servidora da Funai e representante do bioma Pampa, alertou para os impactos ambientais vivenciados em seu território. “O Pampa hoje sofre com a desertificação, a contaminação das águas e o avanço de monoculturas. Ouvir e valorizar os saberes ancestrais das mulheres é fundamental, pois são conhecimentos que sustentam a vida e devem ser reconhecidos como ciência e tecnologia”, afirmou.
As indígenas também ressaltaram a importância de discutir o enfrentamento ao racismo ambiental e o preconceito étnico.
Dossiê
A oficina também apresentou um dossiê sobre as práticas e enfrentamentos das mudanças climáticas nos seis biomas e a proposta metodológica elaborada a partir do processo de escuta. O material servirá de subsídio para o trabalho da Funai junto às comunidades, orientando as Coordenações Regionais (CRs) na elaboração de seus Planos de Trabalho e apoiando a construção de PGTAs em parceria com os movimentos de mulheres indígenas.
Os relatos destacaram impactos como desmatamento, queimadas, grandes empreendimentos, atividades de mineração e avanço de monoculturas. Também evidenciaram o papel das mulheres na mobilização política, na promoção de formas organizativas e na conquista de espaços de participação em instâncias decisórias.
A programação incluiu mesa de abertura, apresentação das participantes e dos biomas, exposição dos resultados das consultorias, debates em grupos temáticos e encaminhamentos finais.
Valorização de saberes ancestrais
O encontro reafirmou o compromisso da Funai em valorizar a cidadania, os direitos e os saberes tradicionais das mulheres indígenas, reconhecendo sua contribuição essencial na gestão territorial e no enfrentamento às mudanças climáticas.
Além da Funai, esteve presente representantes da Secretaria Nacional de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas, do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), além de diversas associações de mulheres indígenas.
Assessoria de Comunicação/Funai
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