Ataque ocorrido na aldeia Parima essa semana evidencia que o garimpo ilegal continua fazendo vítimas dentro da Terra Indígena
Não importa o que você esteja fazendo agora – neste momento, uma mãe procura por sua filha, uma menina de sete anos que morreu num ataque a tiros e cujo corpo, que foi jogado num rio no interior da Amazônia, permanece desaparecido até agora.
Esse é o resultado do mais recente ataque promovido contra o povo Yanomami, que aconteceu nesta terça-feira (4) e que, além de causar a morte da menina, feriu outras cinco pessoas: uma liderança indígena de 48 anos; uma mulher de 24 anos; e três garotas de 15, 12 e 9 anos. Os agressores fugiram e as vítimas foram encaminhadas para hospitais em Boa Vista (RR).
As informações são do Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Após o ataque, servidores da Polícia Federal, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Força Nacional foram enviados para a região.
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Terror
O ataque na aldeia Parima é o reflexo do cenário de terror que se desenrola dentro da Terra Yanomami. Apesar da intervenção federal iniciada em janeiro de 2023 para expulsar daquele território os mais de 20 mil garimpeiros, relatos feitos por lideranças indígenas e servidores públicos mostram que o território ainda tem focos de tensão. Muitos garimpeiros seguem entrincheirados nos garimpos ilegais, que seguem funcionando.
Em abril, por exemplo, um indígena Yanomami de 36 anos morreu e outros dois, de 24 e 31 anos, foram baleados por garimpeiros ilegais na comunidade Uxiu. Poucos dias depois, um sobrevoo feito por agentes federais na região encontrou corpos de oito garimpeiros – todos tinham marcas de tiros. Neste mesmo período, na região de Waikás, quatro garimpeiros foram mortos após receberem, a tiros, servidores do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Incapacidade
Os ataques a servidores que trabalham na Terra Indígena Yanomami têm sido constantes – o primeiro deles aconteceu em 23 de fevereiro, quando garimpeiros furaram um bloqueio e atiraram contra agentes do Ibama. Um dos invasores foi baleado na ocasião. Somando a criança assassinada esta semana, já são 15 pessoas mortas violentamente na Terra Indígena Yanomami nos últimos seis meses.
E já se sabe que o Primeiro Comando da Capital, o PCC, uma das maiores facções criminosas do Brasil, está presente no território Yanomami explorando ouro, traficando drogas e armas; bem como ameaçando de maneira ainda mais séria a vida dos povos que vivem naquela região.
“Esses episódios todos mostram que o crime se organizou e que o Estado precisa repensar sua estratégia para impor a lei e a ordem dentro daquele território”, explicou o porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar.
Para o especialista, faltam ações efetivas e eficientes que acabem com o garimpo ilegal e que deem condições para que os Yanomami tenham acesso a saúde, educação e segurança, por exemplo: “Não se pode pedir paciência ou compreensão aos povos indígenas deste país, afinal, estes esperam por reparação há séculos, e nem mesmo as poucas reparações materializadas pela demarcação de seus territórios estão sendo respeitadas. Não há que se falar em calma, para os que estão morrendo, sendo contaminados por mercúrio ou assistindo ao avanço da degradação de seus modos de vida e a destruição de seus territórios”.
Invasão garimpeira
O garimpo ilegal causou uma verdadeira tragédia humanitária dentro da Terra Indígena Yanomami. Ainda que tenha sido demarcada há trinta anos entre os estados do Amazonas e Roraima, o poder público nunca foi capaz de garantir plenamente a defesa desse território e o usufruto exclusivo dos Yanomami. Vivem por ali cerca de 27,6 mil indígenas, numa área de 9,6 milhões de hectares – quase duas vezes o tamanho da Suíça.
O relatório “Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo”, lançado em abril de 2022, afirma que os últimos cinco anos são “o pior momento de invasão desde que a TI foi demarcada e homologada”.
Segundo o projeto Mapbiomas, a Terra Indígena Yanomami possui 1.556 hectares de seu território ocupado por garimpo ilegal – num ranking de terras indígenas mais ocupadas pelo garimpo, o território Yanomami está em terceiro lugar. E informações do Instituto Socioambiental (ISA) mostram que os diversos impactos do garimpo afetam mais de 56% daquela população originária.
Por uma Amazônia Livre de Garimpo
Vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, uma das organizações representativas dos povos da região, Dario Kopenawa falou que há décadas os Yanomami denunciam a invasão do território e demandam do poder público a retirada dos invasores.
“Nosso objetivo é conseguir a desintrusão da Terra Indígena Yanomami, ou seja, a retirada total dos garimpeiros ilegais do nosso território. A gente não quer operação hoje, operação amanhã, operação depois de amanhã. Isso a gente não quer. Queremos que se acabe de uma vez por todas com o garimpo, que ocorra a expulsão dos garimpeiros e que depois o Exército, a Polícia Federal monitorem o nosso território, façam policiamento e impeçam a entrada de novos garimpeiros. É isso que a gente pensa, é isso que a gente já falou, é isso que a gente espera que o presidente faça”, disse Dario.
Jamais vamos conseguir ser o país que queremos e precisamos se os povos originários continuarem tendo seus direitos desrespeitados – e eles permanecem sendo vítimas de terror e violência. Isso não pode continuar! Precisamos de uma Amazônia Livre de Garimpo!
Fonte: https://www.greenpeace.org/brasil/blog/seis-meses-depois-a-violencia-ainda-ameaca-os-yanomami/
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