Com o objetivo de somar esforços para que indígenas enfrentem a pandemia, o Asas da Emergência já levou, desde janeiro, 36 toneladas de alimentos e insumos de saúde a comunidades no Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima
O primeiro caso da Covid-19 no Brasil foi anunciado no final de fevereiro de 2020 e pouco depois, em 25 de março, foi registrado o primeiro caso de contaminação entre indígenas – ocorrido com uma jovem do povo Kokama, residente no estado do Amazonas. De lá pra cá, a situação se manteve desafiadora e segue preocupante. Dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) apontam que quase um ano depois, já se tem registro de mais de 50 mil casos de contaminação indígena pelo país e 1012 óbitos.
Em todo o país, o Amazonas segue como o estado com maior número de casos de contaminação indígena. De acordo com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), na Amazônia Brasileira o vírus já atingiu 147 povos indígenas. Os povos indígenas muitas vezes enfrentam situações sociais, econômicas e de saúde desafiadoras e isso reflete em sua vulnerabilidade maior à doença. A taxa de mortalidade do coronavírus (óbitos/por 100 mil habitantes) entre esses povos chega a ser 7 vezes maior do que a da população brasileira, comparada em diferentes faixas etárias, segundo a Fiocruz.
E foi também no Amazonas que a pandemia deu os primeiros sinais de agravamento em janeiro de 2021, quando a população de Manaus e outras cidades do estado sufocavam por falta de oxigênio. Em resposta ao cenário caótico da região, em 16 de janeiro, o projeto Asas da Emergência retomou seus voos de ajuda humanitária, voltados, especialmente, para levar insumos médicos, como concentradores e cilindros de oxigênio, para as populações indígenas da Amazônia.
Nesses dois meses, o projeto já percorreu 70 mil quilômetros, levando 36 toneladas de alimentos, água, materiais de limpeza e higiene, equipamentos médicos, concentradores e cilindros de oxigênio, entre outros produtos, a dezenas de comunidades indígenas no Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, incluindo para áreas mais remotas, de difícil acesso.
“A Terra Indígena Yanomami, por exemplo, só é acessível de avião e nós só alcançamos aquele local com voos fretados, que são caros. Por meio do projeto, fizemos o transporte de gêneros alimentícios e equipamentos que vão integrar as unidades de atenção primárias, que dão o primeiro suporte para os parentes que estão com suspeita de Covid-19. A iniciativa tem sido muito útil por permitir que se possa dar apoio e assistência aos nossos irmãos que estão em locais mais distantes”, afirma Toya Manchineri, coordenador de Territórios e Recursos Naturais da Coordenação de Organizações Indígenas da Bacia do Rio Amazonas (COICA).
Todas as ações do Asas da Emergência são realizadas graças a doadores e a uma rede de organizações que têm se mobilizado para agir rapidamente frente à situação dramática que os povos indígenas têm enfrentado na pandemia. Entre os parceiros do Greenpeace nesta frente de ajuda humanitária estão a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Amazon Watch e os Expedicionários da Saúde (EDS). Ações específicas também são promovidas com o Projeto Entrega, SOS AM, Instituto Socioambiental (ISA), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Aliança Covid-Amazonas, que reúne uma série de instituições e é liderada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Respira Amazonas e União Amazônia Viva.
Para o porta-voz do Greenpeace, Iran Magno, o momento ainda é de grandes desafios a serem enfrentados juntos. “No ano passado foram muitos os esforços para proporcionar melhores condições de enfrentamento à pandemia para populações indígenas na Amazônia. Esse ano, com as primeiras notícias do sufocamento de Manaus, a gente viu a rede de solidariedade se mobilizar rapidamente mais uma vez. No Greenpeace, tornamos novamente esta atuação do Asas da Emergência uma prioridade da organização. Nesse cenário dolorido e de incertezas que estamos vivendo, sem clareza de quando a população estará de fato imunizada e protegida, a sociedade civil segue se organizando para fazer o que está ao seu alcance para apoiar quem mais precisa”.
Desde o início da pandemia em 2020, a carência de infraestrutura de saúde, logística de transporte e vontade política, tornaram a situação bastante crítica na região Norte, especialmente nas áreas remotas onde residem povos indígenas, extremamente vulneráveis à Covid-19.
Foi com o objetivo de ajudar esses povos a enfrentar e sobreviver à pandemia que o Asas da Emergência nasceu em maio de 2020, somando esforços em uma grande rede de solidariedade. Desde então, o Greenpeace tem colocado sua aeronave, infraestrutura e equipe à disposição desta rede. Em dez meses, o projeto já percorreu 167 mil quilômetros, realizou 110 viagens e entregou quase 100 toneladas de produtos e insumos essenciais para salvar vidas.
Comentários