Faz uns dias que dona Machica dorme um pouquinho mais tarde. Depois que um bico de luz surgiu em sua casa, no início de setembro, ela consegue fazer anotações em seu caderno e estender as tarefas do lar depois das 18h, quando o sol vai embora. Nascida Maria Maximina, ela mora com mais seis pessoas numa casa da comunidade Vila Nova, na RESEX (Reserva Extrativista) Arióca-Pruanã, no município de Oeiras do Pará, a nordeste do estado.

A comunidade é uma das tantas da região que nunca tiveram acesso à rede de energia elétrica e usam gerador a diesel para abastecer de luz suas casas, escolas e o pequeno comércio. Dona Machica e sua família foram contempladas com uma das 400 lâmpadas solares doadas pela ACNUR – Agência da ONU para Refugiados – e distribuídas pelo IEB, por já atuar nas longínquas comunidades, beneficiando ainda famílias do arquipélago do Marajó, região Bragantina e oeste do Pará.

A ACNUR vem atuando na Amazônia no acompanhamento de populações refugiadas, e no Pará esse público é majoritariamente indígena e venezuelano, da etnia Warao. “Nossa missão é garantir a proteção de pessoas refugiadas, mas é essencial quando também podemos contribuir com as comunidades que as acolhem”, afirma Janaína Galvão, chefe do escritório do ACNUR em Belém.

O IEB garantiu que, além da entrega das lâmpadas, as comunidades beneficiadas pelas doações dos equipamentos também fossem sensibilizadas sobre a realidade da população indígena refugiada em processo de imigração pela Amazônia. Sobre as lâmpadas, trata-se de um equipamento pequeno, mas extremamente funcional, especialmente nesses lugares, que têm incidência solar durante todo o ano.

A bateria é recarregada por uma placa solar e tem autonomia de 10 a 18 horas, e a lâmpada funciona como lanterna ou luminária, clareando uma área de até 5m². “Esses bicos de lâmpadas serão utilizados no fazer dos professores, em salas de aula e reuniões pedagógicas, as lideranças também farão uso em reuniões e assembleias”, ressalta Graça Tapajós, liderança do grupo Consciência Indígena, um dos beneficiários das doações na Resex Tapajós-Arapiuns.

Fotos: José Filho

 

“As famílias ficaram muito agradecidas. O preço do combustível está muito alto, e elas não estão conseguindo alimentar os geradores, então a gente priorizou as comunidades que moram mais longe. É uma doação simples, mas com uma importância gigantesca, pois chega num momento de muita precisão. Agora na pandemia, ajuda a alumiar os encartes que as crianças recebem da escola pra fazer a lição em casa, já que elas passam o dia ajudando os pais”, conta José Filho, manejador sustentável na Resex Arióca-Pruanã.

Logística desafiadora

As famílias atendidas são de comunidades bastante distantes umas das outas. Além da Resex Arióca-Pruanã, a de Santa Luzia do Pará, que abriga agricultores familiares, também fica a nordeste do estado; mas as Resex Terra Grande-Pracuúba e Mapuá, localizam-se no arquipélago do Marajó, enquanto a Tapajós-Arapiuns fica mais próximo de Santarém, a extremo oeste do estado.

“Para se ter uma ideia, só se chega nas localidades do arquipélago do Marajó de navio, saindo de Belém e com média de 12 horas de viagem. Já as comunidades de Santa Luzia ficam na divisa com o Maranhão, são 400 km desde a capital paraense”, explica Marcos Silva, assistente de projetos do IEB em Belém.

O colaborador explica ainda que a escolha das comunidades junto ao ACNUR levou em conta a vulnerabilidade social dessas populações, ainda que morem em regiões ricas em recursos hídricos e são produtoras de energia elétrica, mas que, infelizmente, não são atendidas por esse bem fundamental para o desenvolvimento local.

Fonte: https://iieb.org.br/comunidades-sem-energia-eletrica-recebem-lampadas-solares-no-para/

Thank you for your upload