Inaugurada no dia 21 de setembro, a cozinha é uma conquista da ATAA, ASMOGA, em parceria com o IEB e o Fundo Socioambiental Caixa, junto ao projeto “Mulheres Marajoaras”
Ainda existem muitas iniciativas comunitárias no território amazônico desenvolvendo atividades de gestão dos recursos naturais, experiências que precisam ser reconhecidas e visibilizadas, como é o caso da comunidade Santo Ezequiel Moreno em Portel, Marajó, Pará.
Entre as riquezas desta localidade estão manejo dos açaizais, que permite às famílias ribeirinhas colher os frutos o ano inteiro, além do beneficiamento e verticalização da produção de maneira plenamente solidária e sustentável. Bens sociais e coletivos conquistados com muita organização, busca constante por mais conhecimentos e parcerias estratégicas.
Foi graças a isso que a comunidade deu mais um passo na última sexta, 21, quando inaugurou a Cozinha Agroextrativista Iaçá, uma conquista da Associação de Moradores Agroextrativistas do Rio Acutipereira (ATAA), Fundo Açaí, Associação dos Moradores Agroextrativistas do Assentamento Acutipereira (Asmoga), em parceria com o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e Fundo Socioambiental Caixa, junto ao projeto “Mulheres Marajoaras”.
Mas a lógica dos povos da floresta é avessa ao sistema que vem regendo perversamente a maioria dos países do mundo. Por isso, essa riqueza foi colocada à disposição durante a cerimônia de inauguração para as outras comunidades do rio Acutipereira, assim como para outras comunidades de Portel e de municípios da região, como Melgaço, Breves e Belém.
“Estou muito emocionada de ver a conquista que, sobretudo, as mulheres dessa comunidade estão tendo”, se emocionou Graci Costa, coordenadora de mulheres do Sindicato de trabalhadores/as Rurais de Portel. Segundo ela, a cozinha também ajudará famílias portelenses e da região na geração de renda, além de servir de laboratório de tecnologia social para as organizações de assistência técnica e universidades.
Durante a cerimônia, também participaram representantes do poder público municipal, da Emater, ICMbio, da UFPA, da rádio local Arucará FM, SEBRAE, do IEB, da Escola Municipal Santo Ezequiel Moreno e do Fundo Socioambiental da Caixa.
COLHENDO BONS FRUTOS
“Como a comunidade já tem uma história na área da culinária, nós vimos que essa cozinha poderia potencializar ainda mais a nossa produção. Hoje conseguimos fornecer alimentação de qualidade para uma escola, através do PNAE. Queremos, em breve, atender mais três escolas, e assim sucessivamente”, relata Sônia do Socorro, liderança da comunidade Santo Ezequiel Moreno. Já Teófro Lacerda, também liderança comunitária desta localidade, recorda que a cozinha recebeu apoio do projeto “Mulheres Marajoaras” com capacitação e compra de equipamentos. O prédio, entretanto, foi levantado a partir da mobilização popular. “Nós criamos o Fundo açaí para que, a partir da contribuição solidária das famílias daqui nós pudéssemos angariar recursos para melhorar as nossas vidas. Foi assim que fizemos pontes, o centro comunitário, a igreja, e, além de outras aquisições, erguemos de alvenaria a cozinha”, argumentou Teófro.
“A cozinha agroextrativista era um sonho para todas nós mulheres da nossa comunidade. Sabemos que não foi fácil chegar até aqui, isso só demostra que a nossa união é que faz a força. É por isso que quero agradecer ao IEB e ao fundo Caixa por estar junto com a gente neste trabalho”, relatou emocionada a agroextrativista Ana Maria Ramos de Melo, uma das principais protagonistas da cozinha e autora das principais receitas produzidas na culinária local.
EMPODERAMENTO FEMININO
Essa cozinha é uma conquista de toda gleba Acutipereira, segundo Maria Claudia, presidente do fundo Açaí e liderança de Santo Ezequiel Moreno. “Tenho certeza que conseguiremos nos unir às mulheres de outras regiões para que, juntas, lutemos para seguir adiante, porque esse é só o começo”, convocou Maria, que com naturalidade costuma observar diversas mulheres da localidade colocarem sua peconha e apanharem açaí. Assim, a participação das mulheres se dá em todas as etapas da produção agroecológica do açaí, gerando segurança alimentar e nutricional, além de valorizar a cultura alimentar marajoara.
Nesse sentido, as colaborados do IEB, a pesquisadora Waldiléia Amaral e a tecnóloga de alimentos Thayse Primo realizaram oficinas desde a segunda, 17, para refletir sobre aspectos relacionados à organização das mulheres no contexto de insegurança alimentar, apresentando estratégias coletivas para acessar novos mercados, de como a preparação de alimentos poderia ser potencializada, somando a estrutura da cozinha industrial agroextrativista com a já criativa culinária marajoara das mulheres da região do rio Acutipereira, tendo um cuidado maior com a organização das receitas agroecológicas e com a forma como os pratos são apresentados.
COZINHA JÁ NASCE VITORIOSA
Não só pelos pratos ricos em nutrientes, beleza e simbologias do Bem Viver, mas a constatação das pessoas que participaram da cerimônia de lançamento foi de que a experiência já é um modelo a ser seguido. Uma das pessoas a fazer tal reconhecimento foi Zibia Carvalho, assistente de projeto social do Fundo Socioambiental da Caixa. Ela recordou que a experiência dessa comunidade já foi premiada nacionalmente. É, para ela, uma satisfação perceber como os recursos humanos e financeiros empregados já estão gerando resultados positivos.
“A Cozinha Extrativista Iaçá é um exemplo claro de políticas públicas que surge através de uma demanda local, e aí a comunidade foi buscar parcerias que viabilizam as benfeitorias que vão favorecer a geração de renda das mulheres e das famílias”, declarou Marcos Silva, representante do IEB no evento. Segundo ele, vale lembrar que todas as receitas que compõem os alimentos produzidos na cozinha e que são servidos na merenda escolar da comunidade por meio do PNAE, fazem parte da cultura local, são alimentos produzidos na própria comunidade e que, somado à capacidade que agora elas têm de aumentar a produção, através da cozinha equipada, também podem conseguir financiamentos futuros.
Comentários