Formação promovida pelo IEB, em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e o Conselho Warao Ojiduna, abordou mudanças climáticas, geração de renda e estratégias de incidência política.

Entre os dias 2 e 4 de setembro, o projeto “Yaota Kasaba Jese – Sustentabilidade Warao”, realizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e apoio do Conselho Warao Ojiduna (CWO), promoveu uma formação sobre mudanças climáticas e incidência política, no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Outeiro, em Belém (PA), para 35 indígenas Warao que vivem na Região Metropolitana de Belém.

Durante três dias, os indígenas refletiram sobre as causas e consequências da crise climática, discutiram alternativas de adaptação e geração de renda, e começaram a construir estratégias para a participação do CWO na COP 30, que será realizada no mês de novembro na capital paraense.

Rafael Zilio, professor de geografia da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), apresentou diferentes formas de organização e luta dos povos indígenas frente aos efeitos das mudanças climáticas; Bruna Oliveira, assessora da Cooperativa Agrícola Resistência de Cametá (CART), liderou uma dinâmica para as lideranças Warao pensarem a geração de renda a partir dos seus potenciais produtivos; enquanto Katia Cilene e Silvia Letícia, apresentaram o funcionamento e a trajetória de organização da CART. A formação contou ainda com a facilitação de Clémentine Márechal e Vitor Gonçalves, analistas socioambientais do IEB.

É muito importante falar de incidência política porque somos refugiados e estamos em um país estrangeiro. Falar de meio ambiente é falar da natureza e de nós mesmos, não só os povos indígenas, mas do mundo inteiro. E como criamos uma organização que se chama Conselho Warao Ojiduna, estamos nos preparando cada vez mais para dialogar com e acessar políticas públicas”, explicou Josefina Jimenez, uma das integrantes do CWO.

Josefina Jimenez foi uma das 35 participantes do curso “Mudanças climáticas e incidência política”, promovido entre os dias 2 e 4 de setembro, em Outeiro.

Antropóloga e analista socioambiental do IEB, Clémentine Maréchal explica que a formação integra um processo contínuo de fortalecimento dos Warao. “Esse curso foi pensado tanto como uma preparação dos Warao para a COP 30, como também um aprofundamento de uma formação anterior sobre práticas sustentáveis. Retomamos conceitos de mudanças climáticas a partir das vivências dos Warao, refletindo sobre como essas transformações impactaram seus territórios na Venezuela e agora em Belém. Também trabalhamos a questão da geração de renda e práticas sustentáveis, que é uma demanda forte da comunidade, com troca de experiências junto à Cooperativa Agrícola Resistência de Cametá”, pontua Clémentine.

A participação da Cooperativa Agrícola Resistência de Cametá (CART) foi um dos destaques da programação. Assessora de negócios comunitários, Bruna Ferreira acredita que o intercâmbio pode ajudar na trajetória dos Warao.
A experiência da Cart pode contribuir com os Warao mostrando como uma cooperativa pode engajar as pessoas, pode promover um trabalho coletivo de geração de renda, que o trabalho coletivo pode dar certo. Eles já têm atividades como plantações, artesanatos e criação de animais que podem se tornar base para uma cooperativa ou associação. É um caminho possível diante de tantas alternativas.”, disse Bruna.

As falas dos participantes revelaram os desafios do cotidiano e o desejo de seguir adiante. “Temos tentado plantar, pescar, mas temos dificuldades. Para plantar, precisamos de terreno, e até agora não conseguimos. E na pesca, tentamos, mas canoas redes de pescas já foram roubadas, e isso nos desanimou, especialmente os homens que estavam à frente dessas atividades”, contou Mariluz Mariano.

Para o indígena Freddy Cardona, a formação também abriu caminhos para fortalecer a organização política do povo Warao. “Estamos aqui nos capacitando para conseguir mais respeito para a nossa população e aprender como atuar enquanto indígenas. Muitas coisas nós não sabíamos, agora estamos aprendendo, como a maneira de nos comunicar, de atuar politicamente e de buscar autonomia. Isso é importante para seguirmos adiante com mais conhecimento e respeito.

Próximos passos

A formação vai subsidiar a construção coletiva de um documento que deve reunir as reflexões da formação e orientar a atuação dos Warao tanto na COP 30, quanto em ações futuras no Brasil.

Fonte: https://iieb.org.br/noticias/em-belem-pa-indigenas-warao-se-preparam-para-a-cop-30-com-formacao-sobre-mudancas-climaticas-e-incidencia-politica/