Série é lançada para incentivar extrativistas a usarem a “calculadora do castanheiro”
Uma série de três vídeos tutoriais acaba de ser lançada para orientar os castanheiros da região norte do Brasil a usar o aplicativo Castanhadora. O nome da ferramenta vem da sua funcionalidade: auxiliar extrativistas a calcular o valor de sua produção de castanha-do-brasil.
O extrativista ocupa um papel central na cadeia produtiva: o da coleta manual dos frutos da castanheira durante o período da safra. Apesar de indispensável o castanheiro não tem controle sobre a formação do preço de sua própria safra,já que nem sempre considera fatores como alimentação, transporte, combustível, ferramentas e mão-de-obra no cálculo dos gastos para desenvolver a atividade extrativista. Muitas vezes a venda da castanha é feita “às escuras”, sem um mínimo balizamento do real valor embutido num quilo de castanha. Neste cenário, a desinformação e dependência favorecem atravessadores e patrões, que beneficiam-se do trabalho de milhares extrativistas espalhados pela Amazônia.
Lançada há a três meses, a ferramenta desenvolvida por indígenas e extrativistas de dez municípios e áreas protegidas do Amazonas e Rondônia já tem 240 downloads e vem transformando a realidade de muitas famílias extratoras. O aplicativo procura empoderar as famílias extrativistas , levando a informação precisa de quanto custou coletar determinado volume de castanha do interior da floresta.
“A Castanhadora pra nós foi uma ferramenta muito importante, tivemos um norte na produção da castanha. Foi aonde a gente viu a quantidade que a gente produzia para ver se tava devendo o não. O acompanhamento no aplicativo dá pra saber quantas latas ou barricas faltam produzir pra obter o saldo que precisamos”, diz Paulo Silva da Costa, de Guajará-Mirim/ RO (RESEX Rio Ouro Preto), que trabalha com sua família e gera em torno de 200 latas por safra.
Para se ter uma ideia, o quilo da castanha-do-brasil, vendido nas grandes capitais do país a até R$ 20,00 com casca, sai muitas vezes das mãos do produtor a menos de R$ 2,00.
“Apesar de ser uma ferramenta bastante intuitiva, os vídeos aproximam, humanizam e reforçam a facilidade em se obter um valor de venda justo, usando ferramentas tecnológicas. Ainda é cedo para avaliarmos os resultados e alguns ainda são resistentes ao uso, mas aos poucos estamos quebrando esse paradigma, sobretudo entre os jovens, que passaram a trocar ainda mais informações em grupos de whatsapp sobre os diferentes preços praticados e formas de utilização do app”, explica André Tomasi, assessor de projetos do IIEB.
Até agora a Castanhadora vem sido disseminada em redes e coletivos de produtores e beneficiadores de castanha, nas comunidades extrativistas indígenas e ribeirinhas, tanto pelo download nas sedes das cidades amazônicas, como via bluetooth no interior das comunidades e aldeias, além da própria divulgação no corpo a corpo, em oficinas comunitárias e em diálogos no interior das florestas produtoras de castanha – trabalho este feito por assessores capacitados e remunerados para disseminar em suas próprias comunidades – Manicoré/ AM (RESEX Lago do Capanã Grande), Boca do Acre/AM (RESEX Arapixi), Novo Airão/AM e Barcelos/AM (RESEX Rio Unini), Lábrea/ AM (RESEX Ituxi, TI Caititu e TI Paumari) Beruri/ AM (RDS Piagaçú Purus e TI Itxi Mitare), Alta Floresta d’Oeste/ RO (TI Rio Branco), Ji-Paraná/RO (TI Igarapé Lourdes) Costa Marques/ RO (RESEX Rio Cautário), Guajará-Mirim/ RO (RESEX Rio Ouro Preto) – explicando como ela funciona.
A série é apresentada pela extrativista Kely Reggis, de Ji-Paraná, da organização Pacto das Águas, parceira da criação e desenvolvimento do Castanhadora, e foi dividida em três episódios: Introdução/Cadastro, Despesas e Trabalho e Venda– capítulos lançados simultaneamente para que os usuários tenham toda a dimensão do uso do aplicativo..
O lançamento da série também inaugura o canal do YouTube do Semear Castanha, coletivo criado para o incentivo da cadeia produtiva da castanha no Brasil e que reúne, além dos castanheiros, organizações de apoio técnico, associações comunitárias, movimento social, pesquisadores e órgãos do estado.
Em dezembro de 2019, a Castanhadora foi uma das 12 propostas vencedoras do prêmio de inovação social do PNUD, e o projeto acaba de receber R$ 100 mil de prmiação. O dinheiro será usado para promover e disseminar o aplicativo em outros estados.
As organizações envolvidas na concepção e criação do aplicativo são o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), o Serviço Florestal Americano (USFS), em parceria com o IEB, Pacto das Águas, Operação Amazônia Nativa (OPAN), a Cooperativa de Trabalho em Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão (EITA) , além dos 35 indígenas e ribeirinhos dos estados de Rondônia e Amazonas
O Castanhadora pode ser baixado aqui.
Fonte: https://iieb.org.br/iieb-e-parceiros-lancam-videos-tutoriais-para-divulgar-o-castanhadora/
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