Indígenas soltaram mais de 3 mil filhotes de tracajás nos rios e lagos das Terras Indígenas de Oiapoque (AP) no mês de abril.
Texto: Maria Silveira
Soltura de tracajás na aldeia Santa Izabel. (Imagem: Maria Silveira/ Instituto Iepé)
Combinando os conhecimentos dos povos indígenas com educação ambiental, o projeto Kamahad Tauahu – Nukagmada Mewka, que significa “amigos dos tracajás” nas línguas Kheuól e Parikwaki, completa 20 anos.
“Esse é um gesto de conservar essa espécie porque percebemos que ela estava acabando. Estamos ajudando a natureza também”, afirmou Marinelson dos Santos, Agente Ambiental Indígena da aldeia Açaizal.

Desde que começou, o projeto tem garantido o aumento da população de tracajás nos rios e lagos da região, contribuindo para a conservação da espécie e fortalecendo a autonomia das comunidades indígenas.
O tracajá é uma espécie de quelônio amazônico, de grande importância cultural, alimentar e ecológica para os povos indígenas do Oiapoque.
Coordenada pelos Agentes Ambientais Indígenas (Agamin), a ação envolve práticas de educação ambiental com crianças, adolescentes e famílias por meio das escolas. Em 2025, o manejo foi feito por 36 Agamins, que atuaram em 23 aldeias das Terras Indígenas Uaçá e Juminã. A soltura resultou na devolução de 3.291 filhotes de tracajás à natureza.
“Estamos fazendo o manejo junto com a comunidade e com a escola, para que eles aprendam sobre a importância do manejo para que a espécie ainda exista para as novas gerações”, disse Lázaro Getúlio dos Santos, Agamin da aldeia Kumarumã.

O que é o manejo dos tracajás
O manejo começa meses antes: entre setembro e outubro, os Agamin monitoram os locais de desova — praias, troncos de buriti, raízes e barrancos, coletam os ovos e os transferem para berçários protegidos nas aldeias. Essa prática reduz a predação natural por animais como macacos, aves e formigas, e aumenta a taxa de sobrevivência dos filhotes, que são posteriormente devolvidos à natureza.
Para Luane Farias, assistente administrativa do Instituto Iepé, que acompanhou a soltura pela primeira vez neste ano, a forma como os Agamin conduzem o manejo é inspiradora. “Conheci um jovem da aldeia Flamã que influenciou outra pessoa da comunidade a também participar. Esse tipo de atitude mostra que o trabalho tem impacto e está gerando resultados. Quando outras pessoas se inspiram, sabemos que vale a pena”, relembra Luane.

A soltura é realizada de forma colaborativa junto às comunidades, com apoio da Associação de Mulheres Indígenas em Mutirão (AMIM) e assessoria técnica do Instituto Iepé. Neste ano, em uma parceria com o campus binacional da Universidade Federal do Amapá (Unifap), alunos do curso de biologia acompanharam a soltura na aldeia Manga e na aldeia Kunanã.
Além de preservar a espécie — fundamental para o equilíbrio ecológico dos rios amazônicos — o projeto está de acordo com o Plano de Vida dos Povos Indígenas do Oiapoque e de seu Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA).

A soltura dos tracajás nas Terras Indígenas do Oiapoque, em 2025, contou com o apoio da Embaixada da Austrália.
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