Filme sobre a rede de comunicadores indígenas do Rio Negro (AM), que já percorreu festivais de cinema em 11 países, tem lançamento online

Ana Amélia Hamdan – Jornalista do ISA

“Vai começar”! diz o comunicador João Nilton, do povo Yanomami, em cena que dá início ao documentário Wayuri. A obra conduz o espectador para dentro da Amazônia, durante a primeira oficina da Rede Wayuri, na comunidade de Duraka, em São Gabriel da Cachoeira (AM) e tem estreia online nesta quinta-feira (14/12).

Assista!

As imagens – muitas feitas pelos comunicadores – mostram rostos e vozes dos comunicadores indígenas que navegam pelas águas do Rio Negro e pelos mais diversos meios de comunicação levando adiante cultura e informações. E são muitas as histórias da Rede Wayuri.

Durante a pandemia, os comunicadores trabalharam bastante para produzir e divulgar informação confiável, inclusive em línguas indígenas, e combater as fake news que colocaram vidas em risco. Em 2020, o coletivo recebeu o título de herói mundial da comunicação, concedido pela Repórteres Sem Fronteiras.

cartaz wayuri

A rede também foi reconhecida pela inovação e o combate à desinformação na Amazônia brasileira e recebeu, em 2021, outra premiação: o Prêmio Estado de Direito 2022, do World Justice Project (WJP), na cidade de Haia, na Holanda, durante o Fórum Mundial de Justiça.

Reconhecimento internacional

Japão, Portugal, França, Irlanda, Panamá, Estados Unidos, Austrália, Malásia, Índia e, é claro, Brasil. No total, “Wayuri” já percorreu 15 festivais em 11 países, levando adiante a história da Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas, que atua no médio e alto Rio Negro, uma das regiões mais preservadas da Amazônia, dando voz à diversidade e à luta de povos como Baré, Tukano, Baniwa, Wanano, Piratapuia, Hup´dah e Yanomami.

O documentário levou o prêmio de melhor filme do Borderless Film Festival, no Japão, e foi vencedor do Prêmio Patrimônio Cultural/Linguístico e Identidade, no estadunidense Latino & Native American. Na Índia, a história dos comunicadores da Amazônia venceu na categoria ecologia.

A exibição mais recente no exterior aconteceu em Bagnolet, no entorno de Paris, em 6 de setembro. O documentário também foi indicado para o Goverla Cinema Lovers, na Ucrânia, mas possivelmente não foi exibido devido à guerra.

O filme é de Diana Gandra, que vive entre a França e o Brasil, com coordenação de produção e editorial da articuladora de políticas socioambientais do ISA, Juliana Radler.

A estreia do filme aconteceu em janeiro deste ano, durante a V Oficina de Comunicação da Rede Wayuri, em São Gabriel da Cachoeira (AM), na presença dos protagonistas: os comunicadores indígenas.

Além disso, o documentário foi exibido em maio, na inauguração do Cine Japu, no Telecentro do ISA, também em São Gabriel e teve uma exibição especial para 40 convidados no Centro Cultural Casarão de Ideias, em Manaus, seguido de roda de conversa com quatro comunicadores da Wayuri.

A Amazônia pelos povos indígenas

Coordenadora da Rede Wayuri, Cláudia Ferraz, do povo Wanano, fala da importância do reconhecimento dos trabalhos do coletivo de comunicação indígena. 

“Essa divulgação é muito importante e nos fortalece. Estamos também cada vez mais falando nas universidades. Mesmo sem termos formação em comunicação, fazemos a comunicação popular. É importante a gente ir expandindo e mantendo a troca de parcerias, de produções coletivas. Mas é importante também que nosso trabalho seja reconhecido por quem está no território indígena”, diz. 

Para Juliana Radler, a Rede Wayuri ecoa as vozes da Amazônia e o documentário dá visibilidade a esse trabalho. 

“A Rede Wayuri dá voz a quem é da Amazônia, a quem mora aqui, aos povos indígenas. As pessoas daqui vão falar do seu lugar. A gente vê muito acontecer de uma pessoa que vem à Amazônia, passa alguns meses e escreve um livro, faz palestras, enquanto as pessoas daqui são invisibilizadas. A Rede Wayuri dá voz a quem de fato vive nesse território ancestral. São os povos indígenas essas vozes da Amazônia. E o filme ecoa essas vozes”, reflete. 

E para se comunicar com o território e a diversidade cultural de 23 povos, a Rede Wayuri tem sua linguagem própria, seja falando português ou em línguas indígenas. 

“A Rede tem linguagem própria e esse é nosso diferencial. Fazemos comunicação de parente para parente, dando vez e voz a essas pessoas, mulheres, homens, jovens, crianças. E somos capazes de comunicar com nossas linguagens! É muito bom ver o filme rodando o mundo”, diz Juliana Albuquerque, do povo Baré, comunicadora da Wayuri.  

Liderança jovem e ex-coordenadora do Departamento de Adolescentes e Jovens da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (DAJIRN-Foirn), Adelina Sampaio, povo Desana, ressalta que a Wayuri é uma conquista do movimento e da juventude indígenas. “A rede vem para mostrar a luta das lideranças, a realidade nos territórios e outros temas. A Wayuri mostra um pouco de tudo em suas redes, em áudios, vídeos e fotos, multiplicando e debatendo informações”, afirma.

Com muita emoção, a diretora Diana Gandra conta que conhecer a Rede Wayuri e filmar com os comunicadores foi especial tanto profissional quanto pessoalmente. A cineasta diz que, seja no exterior ou no Brasil, a principal reação das pessoas quando veem o “Wayuri” é de surpresa e encantamento. “Acho que existe uma mobilização para que esse filme seja visto. É hora de o espaço para a voz dos indígenas ser mais amplo”, diz. 

Diana Gandara, Cláudia Wanano, Auxiliadora Fernandes, povo Dâw, Elizângela Baré e Moisés Baniwa durante as filmagens do documentário Wayuri
Diana Gandara, Cláudia Wanano, Auxiliadora Fernandes, povo Dâw, Elizângela Baré e Moisés Baniwa durante as filmagens de ‘Wayuri’ 📷 Juliana Ralder/ISA

Segundo Diana, o filme mostra a Rede Wayuri e também a luta na qual a rede se engaja, trazendo uma mensagem de preservação socioambiental, de não à mineração, sim aos espaços e às vozes indígenas, não ao marco temporal, não à violência contra as mulheres indígenas.

Ela sonha agora em fazer um longa-metragem com a Rede Wayuri. “Os comunicadores, a Claudinha, o Moisés, a Laura, todas as pessoas que participam da Rede, são para mim exemplos que os brasileiros e todas as pessoas no mundo deveriam conhecer”, finaliza.

Navegando na informação

Ligada à Foirn e com a parceria do Instituto Socioambiental (ISA), a Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas foi criada em 2017. Começou com poucos comunicadores e vem ganhando força a partir da valorização das próprias comunidades indígenas e da importância do trabalho dos comunicadores na defesa dos seus direitos e do acesso à informação. Mesmo com as dificuldades de comunicação em algumas áreas remotas da Amazônia, o coletivo de comunicação leva as informações adiante.

A rede atua em um território indígena onde estão cerca de 750 comunidades de povos de 23 etnias nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. Em São Gabriel da Cachoeira, além do português há quatro línguas indígenas co-oficiais: Nheengatu, Tukano, Baniwa e Yanomami. 

 Os comunicadores Moisés Baniwa e Álvaro Socot, povo Hup'äh
Os comunicadores Moisés Baniwa e Álvaro Socot, do povo Hup’äh, durante as filmagens do documentário, em São Gabriel da Cachoeira 📷 Juliana Radler/ISA

Atualmente, a Rede Wayuri está em fase de expansão. Até 2022, o coletivo contava com cinco bolsistas e 50 colaboradores voluntários. Este ano, são 19 bolsistas que atuam a partir das áreas urbanas e de comunidades indígenas, sendo que os colabores continuam atuantes.

O coletivo realiza semanalmente o programa de rádio Papo da Maloca, que vai ao ar na FM 92,7. Em seguida, Cláudia Wanano edita o programa, dando forma ao Podcast Wayuri, disponibilizado nas principais plataformas de áudio.

A Rede também está reforçando sua presença nas redes sociais, com participação em coberturas de eventos como o Acampamento Terra Livre (ATL) e Marcha das Mulheres.

Visite o instagram da Rede Wayuri: https://www.instagram.com/rede.wayuri/.

Novos projetos estão a caminho!

Ficha Técnica “Wayuri”
Cartaz do filme

Filme:
Diana Gandra

Coordenação de produção e editorial:
Juliana Radler

Imagens:
Rede Wayuri, Instituto Socioambiental, Adelson Ribeiro (Tukano), Álvaro Socot (Hup´dah), Naiara Bertoli, Ana Tui, Raquel Uendi, Moisés Baniwa, Juliana Radler, Diana Gandra, Irinelson Piloto (Tukano), Christian Braga, Plínio Guilherme (Baniwa)

Apoio: German Cooperation, Idem Institute e Rainforest Foundation Norway

 
Prêmios

Melhor filme – BORDERLESS FILM FESTIVAL (Japão)

Patrimônio Cultural/Linguístico e Identidade – LATINO & NATIVE AMERICAN (EUA)

Melhor filme na categoria ecologia – THILSRI INTERNACIONAL FILM FESTIVAL (Índia)

Participação em festivais

ACAMPADOC | País: Panamá
https://www.acampadoc.com/festival/

BOOM FESTIVAL | País: Portugal
https://boomfestival.org/boom2023/

MARMOSTRA | País: Portugal
https://marmostra.pt/

BORDERLESS FILM FESTIVAL | País: Japão
https://borderlessfilmfestival.weebly.com/

GOVERLA CINEMA LOVERS | País: Ucrânia
(O festival pode ter sido interrompido pela guerra)

CORK FILM WEEK | País: Irlanda
https://corkfilmfest.org/

LATINO & NATIVE AMERICAN | País: EUA
https://www.lanaff.org/

FORT SMITH | País: EUA
https://fortsmithfilm.com/

TAGUÁ FESTIVAL DE CINEMA | País: Brasil (Brasília)
https://festivaltaguatinga.com.br/

CINEMAZ | País: Brasil
https://www.cinemaz.com.br/

INTERNATIONAL KUALA LUMPUR ECO FILM FEST 2023 | País: Malásia
https://filmfreeway.com/kleff

INTERNATIONAL MULTICULTURAL FILM FESTIVAL | País: Austrália
https://filmfreeway.com/InternationalMulticulturalFilmFestival

AUSTRALIA INDEPENDENT FILME FESTIVAL (AIFF) | País: Austrália
https://www.ausindefest.com/

THILSRI INTERNACIONAL FILM FESTIVAL | País: Índia
festivalthilsri@gmail.com

NATURE & CULTURE – FILME FESTIVAL | País: Dinamarca
https://filmfreeway.com/poeticphonotheque

Fonte: https://www.socioambiental.org/noticias-socioambientais/documentario-wayuri-ecoa-vozes-indigenas-da-amazonia-assista

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