Publicações bilíngues da Hutukara Associação Yanomami em parceria com o ISA apresentam o trabalho de pesquisadores indígenas
Tulio Gonzaga – Jornalista do ISA
Segunda-feira, 30 de Setembro de 2024 às 16:20
A coleção “Urihi anë thëpëã pouwi” (ou Saberes da Floresta Yanomami, em português), da Hutukara Associação Yanomami em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), foi selecionada como projeto de destaque da 14ª Bienal Brasileira de Design, na categoria profissional de Margens & Colunas – Livros de ficção e não ficção.
A seleção conta com dois títulos: Puu naki thëã oni: o conhecimento yanomami sobre abelhas; e Diários Yanomami: testemunhos da devastação da floresta. As publicações contaram com apoio da União Europeia (UE), Fundação Rainforest da Noruega, Embaixada da Noruega, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Centro de Documentação Indígena (Missionários da Consolata).
O projeto “Urihi anë thëpëã pouwi/Saberes da Floresta Yanomami” foi um dos 23 selecionados na categoria Margens & Colunas, na subcategoria Livro de ficção e não ficção, destinada aos projetos gráficos editoriais de livro de ficção, não ficção ou em quadrinhos, podendo ser edições isoladas ou coleções.
Em Puu naki thëã oni, os elementos gráficos de composição na página – ilustrações e aquarelas – complementam a produção científica sobre abelhas sociais, transmitindo os saberes e conhecimentos tradicionais yanomami. Por sua vez, Diários Yanomami desponta como uma publicação que oferece, em edição única, quatro diferentes estruturas textuais: diários, entrevistas, depoimentos e notas.
Os volumes são bilíngues, produzidos originalmente nas línguas Yanomami, por pesquisadores locais, e depois traduzidos para o português. Como parte das línguas indígenas brasileiras utilizam caracteres ausentes na maioria das fontes tipográficas comerciais, o emprego de uma fonte com suporte às línguas yanomami se tornou fundamental para a execução do projeto gráfico da coleção.
Promovida pela Hutukara e pelo ISA em 2022, a iniciativa tem como objetivos a valorização e fortalecimento dos saberes e das línguas yanomami, além de proteger a Terra Indígena Yanomami. A coleção divulga estudos de pesquisadores yanomami sobre diversas áreas do conhecimento, tradicional ou não, e reúne pesquisas realizadas em colaboração com especialistas napë pë (não-yanomami).
O projeto contou com os autores de design Felipe Cavalcante e Gabriel Menezes, a ilustração dos pesquisadores Yanomami e aquarelas de Hadna Abreu, e a diagramação de Felipe Cavalcante, Gabriel Menezes e Cecília Cartaxo.
Sobre a 14ª Bienal Brasileira de Design
A 14ª Bienal Brasileira de Design será sediada em Aracaju (SE), entre 6 e 20 de dezembro deste ano, com o tema “Giros: movimentos que dão voz às nossas histórias, culturas e identidades”. O tema desta edição resgata a herança sergipana, inspirado pela vibrante tradição conhecida como Parafuso, uma dança que celebra a cultura e a história ancestral de seu povo.
Em 2024, a curadoria da Bienal optou por selecionar projetos para destacar, buscando reconhecer aqueles que celebram e expandem o design brasileiro. Foram inscritos projetos realizados, produzidos e/ou publicados entre janeiro de 2019 e junho de 2024, no Brasil. As 15 categorias de destaque foram concebidas para representar de maneira mais lúdica e abrangente a diversidade do design brasileiro.
Esta será a primeira edição desde a pandemia de Covid-19: a última edição ocorreu em dezembro de 2019, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR). O momento sinalizou a necessidade de mudanças na Bienal, com desafios e novas pautas que visam aproximar a diversidade que almejamos para nosso país.
O evento é organizado pela Associação dos Designers Gráficos (ADG Brasil) em parceria com o governo do Estado de Sergipe, além de receber apoio do banco Itaú. A Bienal será montada no Centro de Convenções AM Malls Sergipe.
Diários Yanomami: testemunhos da destruição da floresta
O livro reúne uma coleção de textos produzidos por pesquisadores yanomami, entre 2019 e 2022, sobre os impactos negativos da exploração garimpeira no seu território. São diários, testemunhos e entrevistas, que se aprofundam nas transformações causadas pelo garimpo na vida yanomami nos últimos anos: na cultura, na natureza, na liberdade e nas relações pessoais.
Além de descrever a devastação da paisagem e a desestruturação social provocada pela mineração ilegal, a produção é um convite aos não indígenas para uma tomada de ação pelos direitos dos povos originários e o respeito ao seu território.
A produção editorial é assinada por Estêvão Senra, geógrafo do ISA, que também faz parte dos times de organização e edição junto a Alcida Ramos e Corrado Dalmonego. A tradução de Yanomae para Português foi feita por Dalmonego conjuntamente com os pesquisadores.
O livro foi produzido pela Hutukara Associação Yanomami e o ISA, com apoio do Fundo das Nações Unidas para a criança e adolescente (UNICEF), da Rainforest Foundation Norway e do Centro de Documentação Indígena (Missionários da Consolata). Também contribuem com apoio financeiro o Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (ECHO) da União Europeia.
“Diários Yanomami” está à venda na loja online do ISA, que entrega para todo o Brasil
Puu naki thëã oni: o conhecimento yanomami sobre abelhas
Este livro apresenta os resultados de uma pesquisa sobre abelhas sociais realizada na aldeia Piau, na região do Toototopi, Terra Indígena Yanomami. O trabalho foi desenvolvido por jovens pesquisadores yanomami, orientados por velhos conhecedores de suas aldeias, com assessoria técnica do ISA.
A pesquisa transcorreu em quatro etapas, de abril de 2016 a março de 2018. Ao todo, o trabalho apresenta trinta e duas nomenclaturas de abelhas sociais. Para cada uma das abelhas listadas estão descritas a sua aparência, comportamento, características do mel, local de nidificação, aspectos do ninho e flores preferenciais.
Diante da emergente crise contemporânea da biodiversidade, o povo Yanomami tem prestado um serviço inestimável à conservação das florestas no norte da Amazônia. Nesta publicação, os yanomami fortalecem a associação entre o saber tradicional ao conhecimento técnico-científico, com valiosas informações para a salvaguarda das abelhas nativas.
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