#ElasQueLutam! A jovem liderança Kayapó defende que as mulheres têm um olhar mais coletivo e cuidadoso, que complementa “a postura, o pensamento e a atitude dos homens e que é essência e que elas assumam cada vez mais papeis de liderança. Ela será cacica da Aldeia Krenhyedjá, na Terra Indígena Kayapó(MT), a partir do fim de maio
Quando era pequena, O-é Kaiapó Paiakan (@oekaiapopaiakan) gostava de se infiltrar nas discussões dos homens de seu povo. Enquanto eles se reuniam, ela inventava que seu avô, então cacique da aldeia Aukre, na Terra Indígena Kayapó, estava pedindo café; assim, poderia levar a bebida e se sentar para escutar a conversa. Este “atrevimento”, como ela mesma descreve, continua na fase adulta. Frequentemente, ela é a única mulher no meio das lideranças, “em todos os tipos de reuniões, em tomadas de decisão, para ajudar a escrever um documento, a fazer tradução”, mas gosta de participar e contribuir com as necessidades do seu povo. E, no fim de maio, se tornará a mais nova cacica da Aldeia Krenhyedjá.
“É com muita responsabilidade, com muita força de vontade e de forma transparente e honesta [que eu assumo] mais essa função junto ao meu povo”, diz.
Seu pai, o líder Paulinho Paiakan, que morreu de #Covid19 em 2020, é uma grande inspiração para o trabalho que ela pretende fazer na aldeia. “Ele cuidou muito bem daquela região. Lá tem um rio, os peixes são abundantes, tem muita caça. Da mesma forma, nós filhas vamos cuidar e proteger da melhor forma possível a nossa aldeia”, explica.
Além de melhorar a estrutura do local, ela quer executar projetos sonhados por ele, como a criação da Universidade Kayapó, onde os jovens poderão conhecer a história do povo e ter suas identidades fortalecidas.
“A nossa história são os nossos anciões, vivos. Temos que registrar isso, porque vai ficar para as futuras gerações usarem como ferramenta de proteção e de luta,” diz. Este registro das mobilizações Kayapó é justamente o tema do mestrado de O-é, para quem a educação sempre foi um instrumento de resistência e uma forma de empoderamento feminino. “Não é normal as mulheres estudarem na cidade e meu pai quebrou essa barreira conosco, mesmo todo mundo sendo contra. [Ele fez isso] para que a gente possa proteger a nossa língua, a nossa cultura, o nosso território, o nosso povo”, diz.
Nenhuma novata nos movimentos sociais e indígenas, O-é defende que a mulher tem um olhar mais coletivo e cuidadoso, que complementa “a postura, o pensamento e a atitude dos homens”. É essencial, portanto, que elas assumam cada vez mais papéis de liderança.
“As mulheres Mebêngokrê, e creio que as outras parentes, são muito corajosas, determinadas, afirmam o que dizem sem medo,” afirma. “Elas sentem primeiro os impactos negativos no território, na água, com as crianças. E têm mais precisão [para falar] sobre várias pautas, [como] mudança climática e educação”.
Embalada pela criação dada por seus avós e seu pai, grandes lideranças que a antecederam, O-é assume este novo desafio na intenção de somar sua voz à dos demais caciques e fortalecer as lutas Kayapó. “A sociedade tenta nos apagar de tudo quanto é forma. [Mas] nós somos indígenas, nós somos Mebêngokrê. Quem tem que se acostumar com a gente e aprender quem somos nós é o não-indígena,” finaliza. “Gestão passa, governo passa, mas nós ficamos”.
Comentários