Empresas vão para a floresta, reconhecem o trabalho da Rede Terra do Meio e se unem a ribeirinhos, indígenas e agricultores familiares da região de Altamira (PA)
A oitava edição da Semana do Extrativismo, evento anual que celebra o trabalho de indígenas, ribeirinhos e agricultores familiares da região de Altamira (PA), reforçou laços entre empresas e comunidades e mostrou mais uma vez que o futuro depende de uma economia do cuidado com o Xingu.
Realizada em meados de julho no polo Gabiroto, na Reserva Extrativista Rio Xingu, o encontro reuniu de forma presencial, depois de três anos afastados pela pandemia da Covid-19, mais de 100 representantes da rede. Lá, eles discutiram os caminhos para o território e negociaram contratos com 13 empresas de forma ética e transparente (saiba mais abaixo).
O encontro foi marcado pela criação e formalização de uma nova associação, chamada Rede Terra do Meio, que será a representante legal dos grupos organizados em cantinas, paióis e miniusinas e das associações dos povos e comunidades tradicionais que fazem parte deste arranjo territorial.
Uma nova diretoria também foi eleita para o mandato de 2022 a 2025, e terá como presidenta Juma Xipaya, da associação Pyjahyry Xipaya, e como vice-presidente Assis Porto, da Associação de Moradores da Reserva Extrativista Rio Iriri (Amoreri).
A Rede Terra do Meio trabalha com alimentos das roças, castanhas, farinhas, sementes, óleos e borracha natural com rastreabilidade, o que conecta cada um dos produtos aos seus territórios de origem, que por sua vez contribuem para a regulação climática, saúde e bem-estar em todo o planeta.
O desejo das comunidades é que esses produtos possam chegar a uma parcela cada vez maior da população. “Os produtos orgânicos, os produtos naturais, precisam estar acessíveis para as pessoas, não somente quem é de classe alta, quem é rico, quem tem dinheiro”, afirmou Juma Xipaya.
“Isso tem que estar na mesa de todo o cidadão, dentro da favela, dentro da comunidade, dentro das escolas”, continuou.
Os primeiros passos nesse sentido já foram dados. A Rede Terra do Meio acessa editais do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do Ministério da Educação, e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
“A gente vive da floresta, mora na floresta, todos os produtos que a gente trabalha vem da floresta. Se não fosse a floresta, nós não existiríamos”, reforçou Marinês Lopes de Sousa, ribeirinha, cantineira, gestora de miniusina da comunidade Baliza, na RESEX Rio Xingu.
Sousa, por exemplo, processa farinha e óleo do coco babaçu, que são entregues tanto para a merenda escolar por meio do PNAE quanto para instituições parceiras, que distribuem os produtos a famílias vulneráveis em Altamira por meio do PAA.
A previsão é que, neste ano, três toneladas da farinha do coco babaçu sejam entregues para a merenda escolar. Essa conexão começou há mais de cinco anos, com esforços de entrada do produto nas compras municipais, e na sensibilização de nutricionistas e merendeiras da região.
Como foram os primeiros passos dessa campanha, chamada “Da Floresta para a Merenda!”? Leia aqui!
Compromisso e respeito
Parte importante da Semana do Extrativismo é o compromisso assumido por representantes de empresas com as comunidades em reuniões para discussão de preço e transparência. Diante do avanço do garimpo ilegal, da grilagem e do roubo de madeira no Corredor Xingu (saiba mais), são acordos que mantêm a esperança das comunidades por dias melhores.
“O madeireiro, a gente sabe que eles não veem como nós. Para eles, o que dá dinheiro é derrubar a floresta. Para a gente, não”, disse Melânia da Silva Gonçalves, da Associação dos Extrativistas do Rio Iriri-Maribel (Aerim). “A gente tem um ganho maior com ela lá, ela viva, ela em pé que vai dar retorno para essas populações”, afirmou.
Empresas participantes do encontro firmaram novos compromissos com aumento do preço praticado sobre os produtos, e outras definiram volumes que serão adquiridos das comunidades.
Um dos objetivos das negociações é criar condições para que as comunidades tenham garantia da compra de seus produtos, o que estimula o monitoramento dos territórios e a transmissão do conhecimento tradicional para a juventude, que enxerga na floresta seu sustento e seu futuro.
Para concretizar esse movimento, foram discutidos mecanismos de reconhecimento e retribuição às comunidades pelo cuidado com as florestas e os serviços socioambientais associados a esse cuidado.
A relação entre a Rede Terra do Meio e as empresas é fortalecida pela iniciativa Origens Brasil®, que promove o comércio ético, transparência e rastreabilidade. Atualmente, os produtos da Rede Terra do Meio são comercializados por meio de uma marca própria, a Vem do Xingu.
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O que é a Rede Terra do Meio?
A Rede Terra do Meio, articulada por ribeirinhos, indígenas e agricultores familiares da região de Altamira (PA), tem a função de mobilizar e coordenar ações relativas à gestão, promoção e valorização do manejo tradicional praticado há milênios pelas populações no território.
Esse manejo é praticado por 27 grupos organizados (cantinas, paióis, miniusinas), que representam 13 associações comunitárias no âmbito da rede. Esses grupos estão distribuídos ao longo de 8,5 milhões de hectares, e a produção resultante de seu manejo tem contribuído e pode contribuir mais para alimentar as cidades do entorno, e se conectar com empresas que já entenderam o valor socioambiental do trabalho das comunidades.
Além de castanhas, óleos e farinhas que compõem uma cesta de produtos diversificada e com grande capacidade produtiva, as pessoas e organizações que compõem a Rede Terra do Meio são provedoras de uma série de serviços socioambientais e detentoras de conhecimentos que geraram e podem gerar inovações sociais e tecnológicas.
As relações estabelecidas entre parceiros (públicos e privados) e comunidades buscam operar em uma lógica de contratos diferenciados, que reconhecem os modos de vida e os valores associados ao manejo tradicional do território, e buscam promover esses valores em acordos definidos de forma transparente.
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