Sessão solene na Câmara dos Deputados comemora a 21ª edição do ATL e celebra duas décadas da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil

Na terça-feira (8), ao lado da ministra Sonia Guajajara, o movimento indígena realizou a marcha “APIB Somos Todos Nós: Nosso Futuro não está à venda” desde o Acampamento Terra Livre (ATL) até o Congresso Nacional para a realização de uma sessão solene em homenagem à 21ª edição da maior assembleia indígena do Brasil.

Cerca de 7 mil indígenas se concentraram no ATL e, por volta das 10 horas, iniciaram a passeata que coloriu a Esplanada dos Ministérios com os rostos de centenas de povos indígenas brasileiros entoando cânticos e danças típicas.

“Me orgulho muito de ter feito parte por nove anos da coordenação desta articulação que é referência mundial. Estamos aqui somando com lideranças indígenas de todos os estados, com indígenas que ocupam cargos estratégicos no governo federal e parlamentares aliados do Congresso Nacional”, disse a ministra em meio a um cordão humano que avançava rumo à Praça dos Três Poderes

O coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Kleber Karipuna, destacou que a marcha de terça é a primeira prevista na programação do ATL e que além de protestar sobre retrocessos defendidos pela ala ruralista do Congresso também celebra o aniversário de atividades da Articulação.

“A marcha de hoje comemora os 20 anos da APIB e termina com uma sessão solene em uma casa onde a maioria dos parlamentares são anti indígenas. Por isso, estamos caminhando com parlamentares progressistas aliados. Vamos falar para os que são contrários a nós sobre a importância da demarcação e seguiremos fazendo enfrentamento, seja do chão de nossos territórios, seja a partir dos espaços que estamos ocupando no Legislativo e no governo federal”, comentou Karipuna.

Participaram da sessão solene o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, o secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, e a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, Joenia Wapichana.

Congresso Indígena

O Congresso Nacional recebeu uma comissão de representantes do ATL, assim como do governo federal. Habituado aos ternos, gravatas e cabeças brancas, o plenário da Câmara dos Deputados foi tomado por centenas de indígenas e se converteu de cúpula monocromática em palco para a diversidade pluriétnica que retrata o Brasil, com cocares, pinturas corporais e uma mesa ocupada pela bancada indígena e seus apoiadores.

Enquanto um vídeo contendo retratos de indígenas que foram assassinados – desde 1987 até o presente – defendendo os direitos dos povos indígenas era exibido no telão da Câmara, a deputada federal Célia Xakriabá afirmou que se os povos indígenas são bons para cuidar dos próprios territórios e para lutar, também estão mais do que preparados para ocupar o parlamento.

“Em 1511, os europeus exportaram cinco mil toras de pau-brasil para Portugal. Esta foi a primeira atividade econômica em nosso solo e até hoje o Congresso Nacional quer promover essa extração em nossos territórios, arrancando toda a proteção da terra. O Brasil começou por nós, mas demorou centenas de anos para ter um deputado indígena. Mário Juruna Xavante presente”, protestou a deputada federal Célia Xakriabá, responsável por requerer a sessão solene, ao citar o nome do primeiro parlamentar indígena a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional, em 1983.

Sonia Guajajara comentou sobre a relevância das duas décadas de existência da APIB devido à reunião que promove das organizações de base que a compõem anualmente ao promover o ATL, o que torna o Acampamento uma grande ferramenta de luta para o movimento indígena brasileiro.

A ministra também exaltou a memória de todos os deputados e deputadas que, ao longo de 20 anos de APIB, subiram na tribuna para defender os direitos constitucionais dos povos ou fizeram articulações para que indígenas de diversos povos pudessem adentrar a casa do povo para denunciar as inúmeras violações de direitos sofridas.

“O ATL é sinônimo de luta, resistência, teimosia e denúncia, mas também de beleza, cultura, diversidade e sabedoria ancestral. O movimento indígena no Brasil e no mundo precisa avançar em uma grande teia global para o enfrentamento da crise climática e dos retrocessos provocados por uma sociedade que não leva em conta os conhecimentos produzidos por nós”, disse Guajajara.

Direitos Humanos

A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, se pronunciou sobre a reivindicação do ATL sobre o assassinato de lideranças indígenas e o aperfeiçoamento da revisão do programa de proteção, que está sendo encaminhada com participação da própria APIB por meio do Conselho Deliberativo do Programa de Proteção.

“Nosso ministério acompanha com muita preocupação o assassinato de lideranças indígenas e as permanentes ameaças aos povos indígenas. É preciso enfrentar essa situação de impunidade sistêmica que está na base dos atentados e assassinatos dirigidos às lideranças indígenas de várias etnias”, afirmou a ministra.

Fonte: https://www.gov.br/povosindigenas/pt-br/assuntos/noticias/2025/04/com-sonia-guajajara-acampamento-terra-livre-marcha-ate-o-congresso-nacional