Oficina com jovens da Rede Juruena Vivo na TI Tirecatinga. Foto: Aline Janaina Njãsi

Oficinas na TI Tirecatinga e na TI Apiaká-Kayabi engajam juventude da Rede Juruena Vivo, que propõe ações de adaptação para a região

Jovens da Rede Juruena Vivo se reuniram para discutir os impactos da crise climática em seus territórios e construir propostas de ação. As atividades foram realizadas em agosto na Aldeia Serra Azul, na Terra Indígena (TI) Tirecatinga, em Sapezal, e na Aldeia Ytu Cachoeira, na TI Apiaká-Kayabi, em Juara e contaram com especial participação de Tatianny Soares, da Rede Jandyras.

Realizadas com o apoio da OPAN e suporte do Instituto Clima e Sociedade (iCS), da iniciativa Vozes pela Ação Climática (VAC) e do Fundo Brasil de Direitos Humanos (FBDH), os encontros proporcionaram um espaço para troca de conhecimento e formação de 77 participantes, sendo 49 na TI Apiaká-Kayabi (da Casa de Umbanda São Sebastião, Comunidade Pedreira e Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB) e 28 na TI Tirecatinga (Enawene Nawe e Irantxe) para atuarem nas discussões sobre justiça climática em diferentes níveis, desde o municipal até o internacional, fortalecendo suas articulações com outros grupos que lutam por essa causa.

Oficina com jovens da Rede Juruena Vivo na aldeia Ytu – TI Apiaka-Kayabi. Foto: Liliane Xavier/OPAN

Ao longo dos três dias de oficina, os jovens indígenas compartilharam suas experiências e revelaram um quadro alarmante da crise climática em seus territórios. O desmatamento desenfreado, a contaminação dos rios, as ondas de calor e a poluição do ar foram apenas alguns dos desafios mencionados. A preocupação com o futuro das próximas gerações permeou todos os depoimentos.

Propostas para o futuro

Com olhar no futuro, os jovens indígenas elaboraram durante as duas oficinas propostas para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. 

O desmatamento foi apontado como um dos principais causadores da degradação ambiental na região da TI Tirecatinga, no município de Sapezal, levando à destruição de hábitats naturais e perda de espécies, o que compromete não apenas a biodiversidade, mas também as tradições indígenas que dependem dos recursos naturais. Como proposta, os jovens querem implementar programas de reflorestamento comunitário e políticas de conservação que protejam áreas sensíveis, além de fortalecer as práticas tradicionais de manejo sustentável.

Segundo eles, o calor extremo, o aumento de chuvas intensas e a poluição do ar também têm prejudicado a saúde da população, especialmente das crianças. Para este tema, a sua intenção é implementar medidas de adaptação, como construção de cisternas para captação de água da chuva e programas de saúde pública voltados a mitigar os efeitos dessas mudanças.

Outro problema crescente apontado pelos jovens foi a poluição por agrotóxicos e sedimentos, que agravam a contaminação dos rios e do solo, resultando no aumento de doenças, como câncer. Para combater esses problemas, os participantes pretendem desenvolver projetos de monitoramento da qualidade da água e do solo, além de promover práticas agrícolas que reduzam o uso de produtos químicos prejudiciais.

Participantes escrevem matéria de jornal sobre quais ações querem fazer até 2030, para combater e se adaptar às mudanças do clima. Foto: Aline Janaina Njãsi

Incêndio durante oficina 

Um imprevisto marcou o último dia de oficina, 30 de agosto, na Aldeia Ytu: um incêndio atingiu o território e interrompeu as atividades, servindo como um alerta real das consequências do aquecimento global que estavam sendo discutidas.

Aldeia Ytu foi cercada pelo fogo e moradores se concentraram na área central da comunidade. Foto: Liliane Xavier/OPAN

“Fazia uns dois dias que estava pegando fogo em uma fazenda e a informação era que o proprietário estava se articulando com um grupo para poder apagar e que não precisava se preocupar. Mas no último dia, quando a gente começou a liberar para o almoço, pareceu que uma tempestade estava chegando, porque ficou tudo escuro. Começou aquele barulho, como se fosse de chuva, mas na verdade já era o fogo queimando no mato”, lembra Liliane Xavier, indigenista da Operação Amazônia Nativa (OPAN) e secretária executiva da Rede Juruena Vivo, que ministrou a oficina ao lado da consultora Tatianny Soares.

Os moradores da aldeia, lideranças e brigadistas da TI Apiaká-Kayabi uniram forças para tentar conter as chamas. Porém, não tinham pessoal ou equipamentos suficientes para conter a extensão do incêndio, que se aproximou das casas. 

“Chegou a pular uma faísca dentro de uma casa e começou a pegar fogo em uma coberta. Sorte que o dono da casa entrou no momento e conseguiu controlar e apagar aquele fogo, que estava iniciando ali”, conta Liliane. 

O incêndio causou danos irreparáveis ao meio ambiente, destruindo a fauna e a flora local. Vários animais, como pacas, pássaros e jacarés, foram encontrados mortos carbonizados.

Após incêndio na Aldeia Ytu, crianças da comunidade encontraram animais mortos. Foto: Liliane Xavier/OPAN

Jovens indígenas e o futuro 

Gilmar Kayabi, da Aldeia Ytu Cachoeira, elogiou o envolvimento da juventude na oficina e afirmou que as propostas são valiosas para enfrentar as mudanças climáticas. “É importante encontrar meios de sobrevivência que respeitem e preservem a natureza, destacando que o futuro pertence às crianças, que estão se tornando líderes nas comunidades. A união entre os povos indígenas e não indígenas é crucial nesse processo”, disse a liderança.

#povos indígenas#Rio Juruena

Fonte: https://amazonianativa.org.br/2024/10/28/jovens-da-bacia-do-juruena-discutem-justica-climatica/

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