Marinete Tukano na plenária da Bancada do Cocar. Foto: Talita Oliveira/OPAN
Dafne Spolti/OPAN
Candidaturas de mulheres indígenas têm o potencial de elevar o nível político do Congresso Nacional e das assembleias legislativas
Estamos a menos de um ano das eleições gerais de 2026 e, portanto, diante da oportunidade de atualização das representações políticas em âmbito federal e estadual. O período requer empenho nas escolhas para a presidência da República e para os governos, e exige atenção especial às vagas a serem ocupadas na Câmara dos Deputados, no Senado, nas casas legislativas estaduais e distrital, no caso de Brasília. O direcionamento do Congresso Nacional em sua atual configuração – seguido por parte significativa das assembleias legislativas – têm causado danos para a população com a aprovação de projetos de devastação ambiental e fragilização de direitos fundamentais. No entanto, um novo desenho pode dar lugar a um conjunto de legislaturas que trabalhem efetivamente em benefício do povo brasileiro.
Dada a proximidade com as eleições, a Bancada do Cocar fez um chamado para que as mulheres indígenas do Brasil se candidatem, amplificando as vozes e fornecendo mais qualidade às políticas públicas no país. O convite foi feito na IV Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, realizada em agosto, que reuniu mais de 5 mil mulheres em Brasília sob o tema “Nosso corpo é território! Somos as guardiãs do planeta pela cura da terra!”.
Com a ministra Sonia Guajajara, a deputada Célia Xakriabá, a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, junto a outras representantes da Bancada do Cocar e lideranças do movimento indígena, o chamado foi entusiástico e impossível de ignorar. “Nossa bancada é do movimento indígena, do movimento social. É uma estratégia que nós buscamos de fortalecer, enquanto mulheres indígenas, os espaços de decisão”, afirmou Marinete Tukano, coordenadora geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab).
A sequência de falas amplia um caminho de esperança e demonstra o valor da persistência na luta. Elas podem ser assistidas no YouTube da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), representação do movimento das mulheres indígenas do país, onde também estão disponíveis os vídeos da I Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, realizada como parte da programação da Marcha.
Uma ajudando a outra no enfrentamento político
Dado o profundo conhecimento das mulheres indígenas sobre os povos, comunidades e territórios, há um grande potencial de, ao ampliarem sua participação política, mobilizarem resultados mais significativos em defesa da vida das pessoas. Porém, é preciso aumentar essa participação política.
Em um Congresso Nacional marcado por uma maioria conservadora e pela maior desigualdade de gênero da América do Sul, a deputada Célia Xakriabá resiste diariamente a ataques racistas e discriminatórios. Mesmo diante desse cenário, ela segue mobilizando esperança e força coletiva: “Quando não somos vítimas do racismo, a solidão machuca, a solidão adoece. E este é um momento único na história: o momento em que podemos eleger, no próximo ano, dez mulheres indígenas para o Congresso Nacional!”.

Célia reforçou o compromisso com a luta, mesmo em meio às dificuldades e indicou as possibilidades de avanço ainda que o investimento não seja o mesmo para as diferentes candidaturas: “O que nos elege é a nossa verdade, o nosso projeto que nós não podemos abandonar pelo meio do caminho”.
Do movimento às instituições de Estado
“Nós estamos aqui para dizer que nunca mais vamos permitir silenciar as nossas vozes. Nunca mais”, disse a ministra Sonia Guajajara, do Ministério dos Povos Indígenas, também eleita deputada federal em 2022. Ela retomou o histórico da Marcha das Mulheres Indígenas, onde começou a Bancada do Cocar, em especial em 2021 – período marcado pela pandemia e pelo governo de Jair Bolsonaro, quando a violência contra os povos indígenas, inclusive na própria marcha, demonstrou ser ainda mais necessária a organização das mulheres para ocupação dos espaços políticos.
“Todos os lugares que nós estamos, desde o chão do nosso território, até hoje o Congresso Nacional, o Poder Executivo, é lugar de poder. E isso não se deu à toa. Não nos foi dado de graça. Isso aqui é conquista do movimento indígena. Conquista das mulheres indígenas”, afirmou.
A ministra reforçou que ocupar esses lugares não significa estar acima umas das outras, mas que a força das mulheres se complementa. “Aqui não é o topo, não é o topo de lugar nenhum. Nós vamos alcançar o topo quando for feita justiça pelos nossos povos. Quando tivermos todos os nossos territórios demarcados. Quando tivermos mais mulheres ocupando esses espaços, quando nenhuma mais de nós for assassinada”.

O caminho está aberto
A presidente da Funai, Joenia Wapichana, além de primeira indígena a ocupar a direção do órgão, foi também a primeira mulher indígena deputada federal do Brasil, – marcando o retorno da representação dos povos indígenas na Câmara, 30 anos após a atuação de Mário Juruna. Com seu histórico, onde a atuação como advogada também tem um lugar de grande relevância, ela reforça que cabe às mulheres estarem em todos os lugares, onde quiserem.
“Hoje estamos abrindo as portas para as demais. Hoje estou presidenta da Funai, mas amanhã pode ser qualquer uma aí na plateia”, disse à plenária da Marcha.
“Pra gente chegar aqui não foi fácil. Foi uma luta que veio das nossas ancestrais. Das nossas mães, das nossas avós, das mulheres que fizeram e lutaram pela sustentabilidade e pela demarcação e proteção dos territórios indígenas. Acima de tudo, as mulheres que deram a sua vida para mostrar que os povos indígenas, principalmente as mulheres, merecem respeito e merecem ser incluídas em todos os programas, em todas as ações, em todos os direitos que são para todos e para todas”, afirmou Joenia.

Como se candidatar
Para se candidatar à eleição, é preciso estar em um partido político no mínimo seis meses antes da data de votação, ou seja, no máximo até o começo de abril de 2026. Preferencialmente, a escolha do partido deve se orientar por seus princípios ideológicos para que se trate de um grupo político atento à defesa dos direitos indígenas.
Entre outros aspectos, é fundamental ter título de eleitor e só é possível se candidatar no estado de moradia para os cargos de deputados, senadores e governadores (ou distrital, no caso de Brasília), e viver em território brasileiro para candidaturas à presidência da república.
Além disso, é importante observar as diferentes idades para cada tipo de candidatura. Na data da posse, a pessoa deverá ter, conforme descrito no portal do Tribunal Superior Eleitoral:
– 35 anos para presidente (e vice-presidente).
– 35 anos para o Senado.
– 30 anos para governador (e vice-governador dos estados e do Distrito Federal).
– 21 anos para o cargo de deputado federal, estadual ou distrital.
Com a proximidade das eleições, conforme destacaram as lideranças, é preciso que potenciais candidaturas comecem a se mobilizar com antecedência. A deputada Célia Xakriabá alerta: “Ano que vem é um ano importante. Mas candidatura indígena não se faz no mesmo ano da eleição. É preciso começar a mobilizar agora.”
Fonte: https://amazonianativa.org.br/2025/10/30/o-chamado-da-bancada-do-cocar-para-as-eleicoes-de-2026/
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