Por Assessoria de Comunicação – Cimi

Em convocatória publicada na manhã de hoje (14), Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade (Ongdip) estimula violência contra retomada Avá Guarani, na cidade de Guaíra (PR), fronteira do Brasil com o Paraguai. No texto compartilhado em redes sociais e em grupos de mensagem, Ongdip indicava a localidade da retomada e chamando a população para retirar os indígenas. Ao meio dia, 200 pessoas acompanhadas pela guarda municipal e polícia militar de Guaíra removeram as famílias. Trinta indígenas estavam no local, grande maioria eram crianças e mulheres. Sobre a terra indígena de retomada está a Companhia Matte Larangeira, de exploração de erva-mate.

Entre Guaíra e Terra Roxa vivem 1800 indígenas, em 13 tekohas. A retomada é parte da Terra Indígena Tekoha Guassú Guavirá, que se encontra em fase de estudo para demarcação. A delimitação da terra indígena noroeste do Paraná foi autorizada em 2009 pela Presidência da República.

Realidade de racismo

“Devido ao clima hostil instalado na região, a convivência entre indígenas e não indígenas tem ocasionado episódios de racismo e intolerância”, destaca texto do MPF sobre visita técnica nas comunidades em 2013. “Nas redes sociais, sites e jornais é possível verificar que há bolsões de repúdio à presença dos índios na cidade”, aponta notícia do MPF.

Segundo Ministério Público, nas escolas da região crianças indígenas são acusadas por seus colegas “de querer “tomar” a cidade”. “Atitudes racistas têm sido praticadas por alguns dos munícipes”, afirma MPF ao relatar agressões psicológicas sofridas por estudantes indígenas.

O Ministério Público Federal, em 2013, realizou visitas técnicas que resultaram em relatórios. Os documentos apontam uma série de violências contra os Guarani na região. “Há relatos de castigos aos indígenas, que ficam sem lanche, o que teria ocasionado desmaios na escola”. Envenenamento dos rios e destruição dos plantios das comunidades pelos fazendeiros são crimes recorrentes contra as populações tradicionais da região. “Tacam veneno encima das casas indígenas em época de plantio”, denuncia cacique.

Em 2016 o Conselho Nacional de Direitos Humanos fez uma visita nas aldeias dos Avá Guarani em Guaíra,  e no Relatório do Grupo de Trabalho sobre os direitos dos Povos Indígenas e das Comunidades Quilombolas da Região Sul está registrado os vários ataques que o povo vem sofrendo. O CNDH publicou um alerta aos proprietários da região para que todos se reunissem para evitar conflitos nas retomadas. Um o grupo de pessoas arregimentadas pelos ruralistas – algumas delas empunhando facões – foi ao local em que estavam acampadas as famílias e retiraram os indígenas.

Em agostodeste ano, a Comissão Guarani Yvyrupa Guarani (CGY) lançou o “Guaíra e Terra Roxa – Relatório sobre violações de direitos humanos contra os Avá Guarani do oeste do Paraná”. Os Avá Guarani denunciam: “A Ongdip, no entanto, também utiliza seus perfis nas redes sociais para mobilizar, incitar e auxiliar grupos armados a agir contra as retomadas indígenas em Guaíra e Terra Roxa”. A denúncia dos Avá Guarani contra a Ongdip é recorrente.

A Ongdip

Em março de 2013, os proprietários rurais de Guaíra e Terra Roxa fundaram a Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade (Ongdip).  os canais de comunicação da organização é utilizado constantemente na condução de uma campanha permanente contra a atuação da Funai e contra os direitos dos povos indígenas no Oeste do Paraná e em outras partes do estado e do país.

“A Ongdip, no entanto, também utiliza seus perfis nas redes sociais para mobilizar, incitar e auxiliar grupos armados a agir contra as retomadas indígenas em Guaíra e Terra Roxa. Para tanto, divulga imediatamente novas ocorrências do que denominam “invasõe indígenas”; instam os agricultores da região a se dirigirem até o local para repeli-las com as próprias mãos; e comemoram as vitórias obtidas pela união dos proprietários”, aponta o relatório da CGY.

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