Atualização – 13:45, quarta-feira, 18 de setembro de 2024.

O renomado compositor e multi-instrumentista Zândhio Huku, do povo Xerente de Tocantins, acaba de lançar o emocionante segundo single de sua carreira solo, intitulado “Aviso do Pajé”. A estreia aconteceu em 12 de setembro de 2024, e o novo trabalho está disponível nas principais plataformas digitais. O videoclipe que acompanha o single já pode ser assistido no canal oficial do artista no YouTube, através do link Aviso do Pajé – Zândhio Huku.

Um Alerta Musical: A Urgência da Preservação Ambiental

“Aviso do Pajé” é mais do que uma canção; é um grito urgente pela proteção da nossa casa comum. A letra da música, com um tom de alerta, explora o impacto devastador das práticas predatórias, como monocultura, agronegócio intensivo, extração desenfreada de madeira e mineração predatória. Essas atividades, combinadas com queimadas frequentes, estão acelerando a degradação ambiental e agravando as mudanças climáticas.

Zândhio Huku não apenas denuncia a destruição física de florestas e habitats, mas também toca na dimensão espiritual da questão. Ele sugere que, ao desrespeitar o meio ambiente, estamos perturbando os seres sagrados que, de acordo com muitas tradições indígenas, são os guardiões desses ecossistemas. Esses seres, que simbolizam o equilíbrio e a harmonia entre homem e natureza, estão sendo afastados pelas ações irresponsáveis da humanidade.

Produção Internacional e Direção Criativa

O single foi produzido, mixado e masterizado pelo renomado produtor Caio Duarte em Londres. Duarte, conhecido por seu trabalho com Zândhio Huku e outros artistas de renome, também ficou responsável pelo projeto gráfico. As gravações dos instrumentos e vozes foram realizadas no Durand Estúdio, em Brasília, e o videoclipe contou com a direção criativa de João Mancha, parceiro de longa data de Zândhio no Arandu Arakuaa.

Uma Nova Faceta do Artista: Intimista e Ambiental

Com seu projeto solo, Zândhio Huku explora novas dimensões sonoras. O trabalho traz uma fusão de influências de música indígena e regional com toques de MPB, refletindo uma abordagem mais intimista e pessoal. As letras, em português, tornam a mensagem acessível a um público mais amplo, mantendo a rica herança cultural indígena que é característica de seu trabalho.

Zândhio expressa: “Este registro solo é a materialização de um desejo antigo meu de gravar canções que venho compondo há muito tempo. São músicas que fogem do formato de uma banda de metal progressivo e experimental e abordam questões ambientais de uma perspectiva mais pessoal.”

Entrevista com Zândhio Huku.

Rádio Yandê: Zândhio Huku, o que inspirou a criação de “Aviso do Pajé” e qual é a mensagem principal que você espera transmitir com essa música?

Zândhio Huku:  Essa música nasceu em 2015, após um sonho que tive e que acabou sendo traduzido em parte na letra. Acordei no meio da noite e imediatamente escrevi o que havia sonhado. Na manhã seguinte, já com a melodia na cabeça, peguei minha viola e comecei a tocar. A música traz uma mensagem de alerta: se não cuidarmos do planeta, nós seremos extintos. Infelizmente, mesmo nos últimos nove anos desde que a compus, essa mensagem não perdeu sua relevância. Pelo contrário, o desrespeito pela natureza e a ganância só se intensificaram, o que faz com que o “Aviso do Pajé” continue mais atual do que eu gostaria. O ideal seria que essa música tivesse ficado no passado, como um problema superado e tivesse sido necessário gravá-la.

Rádio Yandê: Você menciona na letra da música a perturbação de seres sagrados e a dimensão espiritual da destruição ambiental. Pode nos falar mais sobre a importância desse aspecto espiritual na sua visão sobre a preservação da natureza?

Zândhio Huku:  Para nós, povos indígenas, a natureza não é apenas um conjunto de recursos, mas um ser vivo, habitado por seres encantados, que são os guardiões da biodiversidade. Quando ocorre o desequilíbrio ambiental, não estamos apenas destruindo o meio físico, mas perturbando a ordem espiritual dos nossos ecossistemas. Considero que essa visão espiritual é muito importante, pois reforça que a preservação da natureza não é apenas uma questão de sobrevivência material, mas de harmonia entre o físico e o espiritual. Além do mais, enquanto artista toda a minha inspiração vem do contato com esse sagrado presente na natureza.

Rádio Yandê: Como foi o processo de produção e gravação deste single, especialmente com a colaboração internacional do produtor Caio Duarte?

Zândhio Huku: O processo de produção começou no final de 2021 e foi concluído no início de 2022, junto com outras quatro músicas, incluindo “Alma de Socó”, que foi o primeiro single lançado. Essas músicas já existiam há anos, mas nunca tinha tido o momento certo para serem gravadas. Fiz uma pré-produção e enviei ao Caio Duarte, com quem trabalho há bastante tempo nas produções do Arandu Arakuaa. A partir desse material, ele desenvolveu os arranjos e me enviou de volta as músicas já com a sua visão do resultado final. Gravei os instrumentos e vozes no Durand Estúdio, em Brasília, que é uma referência na gravação de artistas de MPB da região. O Caio é um profissional extraordinário, com uma sensibilidade incrível, e consegue captar a essência de cada música, elevando-a a outro patamar. Trabalhar com ele é sempre um aprendizado e um prazer imenso.

Rádio Yandê: O videoclipe de “Aviso do Pajé” também foi lançado junto com o single. Qual foi o conceito por trás da direção do clipe e como ele complementa a mensagem da música?

Zândhio Huku: A ideia central do videoclipe foi criar uma ligação visual com a letra da música, utilizando a floresta do bioma Cerrado como cenário. Com cenas mesclando minha interpretação da canção com cenas que buscam retratar a figura do pajé descrita no sonho que inspirou a música. Em toda a minha carreira sempre fiz questão de gravar em áreas preservadas da região de Brasília, mostrando que ainda há espaços naturais importantes, apesar de estarem sob constante ameaça, e infelizmente enquanto respondo a essa entrevista muitas dessas áreas estão ardendo em chamas como todo o país, estamos cobertos de fumaça nesse momento. O clipe é uma denúncia, reforçando o alerta contra a destruição ambiental e a total falta de respeito pela Mãe Terra.

Rádio Yandê: Você está fazendo uma transição do metal progressivo e experimental da banda Arandu Arakuaa para um som mais intimista em seu trabalho solo. Como essa mudança influenciou sua abordagem criativa e a forma como você compõe suas músicas?

Zândhio Huku: Acredito que essa transição tenha sido algo previsível para quem acompanha o trabalho do Arandu Arakuaa, já que, desde o primeiro disco, incluímos algumas músicas com essa pegada. A diferença mais importante agora é que as letras estão em português, e eu toco e canto sozinho nas gravações. A temática continua próxima ao que faço com a banda, abordando questões ambientais e indígenas, que sempre foram centrais para mim. 

Eu como uma pessoa que cresci bebendo diretamente da fonte da música indígena e regional do Norte e Nordeste, e também tendo tido contato com o Rock nos anos 90, tendo como referências possíveis grandes bandas da época como Chico Science e Nação Zumbi e Raimundos. Quando adentrei no cenário musical comecei compondo músicas em português abordando questões ambientais e sobre o pluriverso indígena em geral, e tocando guitarra. Na verdade, a ideia de fundar o Arandu Arakuaa com toda essa diversidade de influências e compondo em idiomas indígenas, foi meu grito de resistência por estar inserido no meio do Rock/Metal que provavelmente é um nicho ainda mais colonizado que os outros, e olha que todos são bem colonizados. Com o Arandu Arakuaa a mensagem sempre foi clara: “toco guitarra, gosto de rock, mas eu sou indígena e é isso que eu defendo; sou diverso, gosto de muitos diferentes tipos de música, toco outros instrumentos também, posso trazer para as minhas músicas o que eu quiser”

Hoje, me sinto mais livre para um trabalho solo, que me permite explorar mais meu o lado cantor e atingir novos públicos, porém o Arandu Arakuaa continua sendo meu projeto principal, inclusive recentemente tivemos um lançamento e continuaremos a lançar material novo. Na verdade, toda a equipe do Arandu Arakuaa está envolvida na minha carreira solo: o produtor Caio Duarte, o baterista João Mancha, que está à frente da produção dos videoclipes, a baixista/vocalista Andressa Barbosa e o guitarrista Guilherme Cezario, que tocam comigo nos shows. Nossa estreia nos palcos foi no dia 14/09, no Memorial dos Povos Indígenas, durante o evento Omombe’u Nhandereko, que conto com a produção e apresentações de artistas indígenas da região. Foi maravilhoso!

Rádio Yandê: A música é cantada em português, o que torna a mensagem acessível a um público mais amplo. Qual a importância de usar o português para este projeto e como você acredita que isso afetará a recepção da sua música?

Zândhio Huku: Embora existam 305 povos indígenas no Brasil, falando 274 línguas diferentes, o processo de colonização nos impôs o português como idioma oficial. É o único idioma que todos os brasileiros, em tese, compreendem, o que naturalmente amplia o alcance das músicas cantadas nessa língua. No entanto, a escolha pelo português não foi estratégica nesse sentido, mas sim uma vontade de registrar algumas músicas que compus nesse idioma. Nos próximos projetos, pretendo também incluir faixas em Xerente e Tupi, porque cantar em línguas indígenas é um ato de resistência e fundamental para a preservação e divulgação das línguas indígenas.

Rádio Yandê: Quais são seus próximos planos em relação à sua carreira solo? Podemos esperar mais lançamentos ou projetos que continuem a explorar temas semelhantes?

Zândhio Huku: A ideia é continuar lançando singles acompanhados de videoclipes e abrir mais espaço para shows, levando o trabalho ao maior número de pessoas possível, dentro das nossas possibilidades como artistas independentes. E, sem dúvida, os próximos trabalhos continuarão a abordar questões ambientais e a defesa das culturas indígenas. Isso é algo que considero minha missão, tanto como artista quanto como educador e pesquisador. Acredito que esses temas precisam ser constantemente abordados para que possamos avançar na conscientização da sociedade sobre a preservação do planeta e de nossas culturas.

Não Perca: Assista ao Videoclipe e Ouça o Single

A Rádio Yandê convida todos os ouvintes a assistir ao videoclipe de “Aviso do Pajé” e a mergulhar na mensagem poderosa de Zândhio Huku. A música é uma oportunidade única de refletir sobre a nossa relação com a natureza e a necessidade urgente de ação para proteger o meio ambiente.

Acesse o videoclipe no YouTube e sinta a força e a urgência do recado musical de Zândhio Huku. Não deixe de acompanhar a jornada solo deste artista incrível e se envolver na conversa sobre a preservação do nosso planeta.

Assista agora e compartilhe a mensagem!

https://youtube.com/watch?v=H0k6pVwYVHk%3Ffeature%3Doembed

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Fonte: https://radioyande.com/artista-indigena-zandhio-huku-lanca-novo-single-e-videoclipe-um-chamado-urgente-a-protecao-da-natureza/

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