Nosso Manifesto do Encontro Estadual das Mulheres indígenas no Estado de São Paulo de 01 á 03 de setembro, na Terra Indígena Jaraguá!!!

MANIFESTO DO ENCONTRO DE MULHERES INDÍGENAS NO ESTADO DE SÃO PAULO

Entre os dias 01 a 03 de setembro de 2018, na Terra Indígena Jaraguá, realizamos o “Encontro de Mulheres Indígenas no Estado de São Paulo”, com a presença de mulheres indígenas das cinco regiões no Estado. Além de mulheres indígenas de outros Estados do Brasil e do mundo, como as Mapuche, Aymará da Bolívia, refugiadas da Síria, Haiti, Palestina e Zulu da África do Sul. Nós mulheres indígenas aldeadas e de contexto urbano nos encontramos para traçar, discutir, refletir, fortalecer e, sobretudo, reivindicar as questões, pensamentos e necessidades que vivenciamos em nosso cotidiano, além de comemorar o 05 de setembro dia internacional das mulheres indígenas.

Durante os dias que estivemos reunidas, discutimos as especificidades que são enfrentadas em nossas comunidades. Foram manifestadas demandas de abrangência política, jurídica, cultural, social, ambiental, de saúde, educação, trabalho, costumes e tradições, espiritualidade, políticas afirmativas e de afirmação, sobre as violências e violações de direitos que as mulheres indígenas sofrem, principalmente, a pauta do reconhecimento do direito às terras, da dignidade à moradia e sustentabilidade dos povos originários.

Repudiamos a tese do marco temporal que descaracteriza a originalidade de nossas terras e subtrai nossos direitos congênitos, sendo a assinatura do atestado de morte de nossos irmãos e irmãs indígenas. Nossa história não começou em 1988. Exigimos a demarcação de nossas terras!
Abominamos as ações etnocidas e genocidas do Estado brasileiro, que impedem o cumprimento e a aplicação eficaz das políticas públicas, criando uma cortina de invisibilidade às necessidades dos povos originários em contexto aldeado e urbano.

Exigimos respeito por nossas especificidades, crenças e tradições. Também exigimos o respeito às nossas culturas, à nossa memória e ao nosso modo de vida originário, as nossas pinturas e cantos, aos nossos sábios e às nossas sábias e o desenvolvimento da nossa autonomia. Nossas organizações sociopolíticas autônomas vêm sendo impedidas de serem exercidas pela cultura eurocêntrica, imposta desde a invasão de nossos territórios ancestrais em 1500.

Sofremos ameaças cotidianamente que nos impede ou dificulta estabelecer uma relação de diálogo com o poder público. Vivemos em contextos de guerra que geram o massacre ou em uma guerra silenciosa e muito perigosa.

O machismo patriarcal ocidental está presente em nossas vidas, afetando drasticamente o nosso modo de vida, perpetuando o silenciamento de nossas vozes. O Estado tenta nos manter restritas às Terras Indígenas, controlando nossas vidas e contribuindo para a reprodução de pensamentos e discursos distorcidos e despolitizados acerca de nossas realidades, o qual grande parte da sociedade brasileira repete e reafirma.
Este cenário evidencia o desconhecimento sobre as estratégias e políticas de assimilação cultural, implantadas com o objetivo de nos “integrar” ao Estado brasileiro, no qual deixamos de sermos “índios” selvagens e viramos cidadãos brasileiros “civilizados”.

Reivindicamos políticas públicas para defesa de nossos direitos, um Conselho Estadual de Mulheres Indígenas, e uma Conferência para deliberar nossas demandas.

Pedimos também mais apoio às nossas lutas para promovermos um debate sobre as questões relacionadas às nossas especificidades para mulheres indígenas aldeadas e em contexto urbano. Queremos construir junto com o poder público nossas exigências para garantir que sejam exercidas.
Declaramos que o mês de setembro seja o Mês das Mulheres Indígenas no calendário nacional, em homenagem a luta de Bartolina Sisa, guerreira Aymará, que deu sua vida pela defesa do Bem Viver e dos nossos territórios ancestrais, assassinada em 5 de setembro de 1782, à frente das tropas contra os invasores espanhóis.

Nós mulheres indígenas estamos unidas na luta por nossos direitos e não admitimos a prática do colonialismo, do capitalismo e do patriarcado em nossos modos de vida. Exigimos que nossas demandas sejam atendidas!

Este encontro é marcado por 518 anos de muita luta e resistência, em que compartilhamos nossos saberes ancestrais através de nossos rituais, pinturas e cantos; assim como também nossas experiências de vida, agregando ao nosso fortalecimento individual, coletivo, espiritual e político. Deste modo, evidenciamos que nós, mulheres indígenas, também somos linha de frente nas batalhas contra as violências e violações que sofremos.

Nos reunimos entre as etnias Guarani-mbyá; Pataxó; Terena; Wapichana; Guarani Kaiowá; Tapajó; Guarani Nhandeva; Kaingang; Tabajara; Guarani-Canindé; Kaimbé; Pankarare; Kalapalo; Aymará; Mapuche; Maxacali; Xucuru; Tupy Guarani; Pankará; Tupinambá; Guajajara; Xavante; Xucuru Kariri; Payayá; Pipipã; Pankararu; Bororo; Kariri-Xocó; Kariri; Tikuna; Parintintin e demais mulheres indígenas auto-declaradas em contexto urbano que estiveram no encontro!

Hoje dia 03 de setembro seguiremos em marcha no centro de São Paulo, para dar visibilidade às nossas lutas e reivindicações.

“Nós, mulheres, somos a metade de cada povo,somos a
metade da esperança do mundo”Julieta Paredes

“Somos a resistência viva de diversas etnias”.

“Queremos a nossa liberdade de volta”.

Coletivo Mulheres Indígenas – Lutar é Resistir.

Fonte: http://radioyande.com/default.php?pagina=blog.php&site_id=975&pagina_id=21862&tipo=post&post_id=850

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