Esquerda: Pablo Perez e Denilson Baniwa – Nash Üna | @nallelysnchez
Oaxaca, México – Na véspera do Dia de Mortos de 2024, a rica tapeçaria cultural de Oaxaca foi o cenário de um encontro marcante entre o artista visual Denilson Baniwa, originário do estado do Amazonas, Brasil, e o público mexicano. A entrevista, realizada pelo correspondente zapoteca Pablo Pérez da Rádio Yandê, destacou a importância da obra de Denilson na promoção e preservação das culturas indígenas.
Denilson, conhecido por seu trabalho de divulgação da diversidade cultural, trouxe consigo a obra A Jabota Poliglota (A Tartaruga que Fala Vários Idiomas), uma narrativa que transcende fronteiras linguísticas e culturais. O livro, ilustrado pela artista Sophia Pinheiro, conta a história de uma tartaruga fêmea que, enfrentando os desafios da natureza, consegue sobreviver graças à sua habilidade de falar diversos idiomas — os mesmos que os animais ao seu redor utilizam. A inteligência da tartaruga não é apenas um recurso narrativo; ela simboliza a importância do conhecimento e da diversidade cultural como ferramentas de resistência e adaptação.
Em sua entrevista com Pablo, Denilson compartilhou que a obra é baseada em uma antiga história de seu povo, os Baniwa, e representa sua motivação para falar sobre as línguas indígenas. “As línguas indígenas no Brasil são pouco divulgadas em comparação com idiomas como inglês, espanhol, português e italiano. Essa invisibilidade afeta não apenas a comunicação, mas também a identidade e o legado de nossos povos”, afirmou.
O artista destacou a importância de sua obra como um meio de reafirmar o valor das línguas indígenas e de compartilhar com um público mais amplo a riqueza que elas representam. “Quero que as pessoas conheçam e valorizem nossas culturas e idiomas. Eles são fundamentais para a nossa sobrevivência e para a preservação de nossa identidade”, disse Denilson.
A escolha de trazer A Jabota Poliglota a Oaxaca foi também impulsionada pela percepção de Denilson sobre as semelhanças entre os povos da região e os habitantes do Amazonas. “Aqui e no Amazonas, as pessoas têm uma conexão profunda com a terra e uma sabedoria ancestral que se reflete em suas formas de viver. Essa relação com a natureza e os ancestrais é uma ponte que nos une”, afirmou.
Durante sua estadia em Oaxaca, Denilson teve a oportunidade de vivenciar o Dia de Mortos, uma celebração que ele descreveu como uma “comunhão entre os vivos e os mortos, um belo lembrete da continuidade da vida e da memória”. Para ele, esta festividade ressoa com a cosmovisão de seu próprio povo, que valoriza a transmissão de conhecimentos e tradições de geração em geração.
Denilson e Pablo já se conheceram em 2015, durante o Dia Internacional dos Povos Indígenas, realizado no Rio de Janeiro, onde Denilson atuava como cofundador e coordenador da Rádio Yandê, a primeira rádio indígena do Brasil. Desde então, tem sido inspirador acompanhar a trajetória de Denilson como defensor das expressões culturais indígenas, utilizando a arte e a mídia como plataformas para dar voz às comunidades originárias.
Com A Jabota Poliglota, Denilson leva seu compromisso com a cultura indígena a um novo patamar. Através da literatura e do arte visual, ele cria um diálogo entre gerações e culturas, convidando todos a conhecer, apreciar e preservar a diversidade linguística e cultural dos povos indígenas. Esta história simples, mas profunda, da tartaruga poliglota, ressalta a importância de valorizar as línguas e os saberes ancestrais para a identidade e sobrevivência dos povos indígenas.
Este encontro em Oaxaca, mediado pelo jornalista zapoteca Pablo Pérez, não foi apenas um momento de reconexão entre Denilson e seu público, mas também uma oportunidade de celebrar o poder da arte e da comunicação como meios de unir culturas e reafirmar a importância das raízes que nos conectam a nossos ancestrais.
Denilson Baniwa en Oaxaca 2024
Onde adquirir o livro? Martins Fonte Paulista | Amazon | Boitempo Editorial
Por Pablo Pérez, correspondente zapoteca da Rádio Yandê | Instagram: @pablo_zapoteca
Video e fotos: Nash Üna | @nallelysnchez
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