Por meio da Defensoria Pública da União em Campo Grande, inúmeras organizações de direitos humanos dirigem ofício ao governador do estado, o tucano Reinaldo Azambuja
São Paulo – Por meio da Defensoria Pública da União em Campo Grande, diversas entidades, entre as quais a Associação dos Juristas para a Democracia, a Comissão Pastoral da Terra (CPT/MS), a Comissão Regional de Justiça e Paz de Mato Grosso do Sul (MS), a CUT-MS, o coletivo Terra Vermelha, o Conselho Indigenista Missionário, encaminharam ao governador do Mato Grosso do Sul (PSDB), Reinaldo Azambuja, e ao secretário de Estado de Governo e Gestão Estratégica (Segov), Eduardo Corrêa Riedel, um ofício pedindo providências para que sejam contidos atos violentos na cidade de Dourados contra indígenas.
A violência é promovida por produtores rurais próximos às aldeias Bororó e Jaguapiru. Segundo o ofício, no dia 8 as entidades ouviram relatos de dezenas de indígenas, mulheres, idosos e crianças sobre os ataques, que são praticados por seguranças particulares dos ruralistas.
Segundo os relatos, as agressões são realizadas com armas de grosso calibre, caminhonetes e um trator blindado, para aterrorizar a comunidade e destruir suas moradias. Depois de inúmeros ataques durante o ano de 2019, em 3 de janeiro deste ano três indígenas e um segurança foram baleados nos conflitos.
Os membros da comitiva alegam que, durante sua visita, duas caminhonetes pertencentes aos ruralistas tinham ocupantes que “pareciam fotografar ou filmar” sua reunião com os indígenas. “Não restam dúvidas, tanto pelos relatos ouvidos, como pela presença dos seguranças nas proximidades, que o cenário é de intenso conflito. Há risco de novos atos violentos que poderão vitimar crianças e idosos indígenas”, diz o documento encaminhado ao governo sul-mato-grossense.
O ofício informa às autoridades que uma criança de 12 anos perdeu os dedos da mão esquerda ao manipular uma granada de efeito moral. As entidades dizem ser urgente que o governo estadual acione o governo federal para que envie a Força Nacional de Segurança Pública em número suficiente para coibir os ataques
Em setembro, seguranças de proprietários rurais atacaram um grupo guarani kaiowá durante invasão ao tekoha (“lugar onde se é”, definição de terra indígena para os guarani e kaiowá) Ñu Vera, em Dourados. Na ocasião, dois indígenas foram feridos a tiros de bala de borracha. Segundo os indígenas, os momentos são de desespero. “Começa sempre com muito tiro nos barracos e depois os jagunços vêm e destroem tudo”, conta uma liderança.
Em outubro, um jovem indígena de 21 anos foi baleado, mantido refém e torturado por seguranças privados. Como se não bastasse, depois da violência ainda foi detido pela polícia, segundo os indígenas. Em novembro, mais ataques, em áreas limítrofes à Reserva Indígena de Dourados. Em um deles, um indígena foi ferido e barracos foram destruídos.
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