A denúncia é do Ministério Público, que calcula que 80 corpos tenham desaparecido e local, adulterado
Em 12 de setembro de 2013, servidores do MPF e da Fundação Nacional do Índio (Funai) foram até a Fazenda Vô Lauro, localizada em território reivindicado pelo povo Guarani-Kaiowá, que mantém um acampamento a nove quilômetros da área. Com eles, estava, também, Bonifácio Reginaldo, líder indígena da região.
Enquanto vistoriavam a área, os servidores foram interrompidos por Dierings, que os expulsou da fazenda, de que é proprietário formal. Antes, disse que “não havia indígenas ali enterrados, como também frisou que todos os corpos haviam sido removidos”, segundo o depoimento de um dos membros da diligência.
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Ainda de acordo com os depoimentos dos servidores, no dia 17 de setembro de 2013 eles retornaram à Fazenda Vô Lauro para registrar as coordenadas geográficas do cemitério. No entanto, a área havia sido modificada.
Quando os servidores foram ao local pela primeira vez, em 13 de setembro, havia uma árvore, uma cerca de arame e cruzes. Quando retornaram, em 17 de setembro, encontraram um terreno terraplanado, sem qualquer uma das referências anteriores.
Um laudo pericial confirmou que a área foi modificada. “Na análise multitemporal realizada, foi possível verificar que entre as datas de 17/04/2013 e 04/10/2013 (data da perícia) o local foi significativamente alterado”. O perito adicionou, ainda, que a mudança podia ser notada por fotos antigas da ferramenta digital “Google Street View”.
Sobre a área, a perícia indicou que pode ter havido um cemitério no local. “Há anomalias que são potenciais alvos para investigação. Tanto podem ser cavitações, restos humanos ou restos de objetos, quanto raízes da árvore que ali estava. É recomendável a intervenção por meio de escavação arqueológica cuidadosa.”
Para além das provas periciais, em seu testemunho, o líder indígena Bonifácio Reginaldo contou a história do cemitério. “O cemitério já estava neste local antes da ocupação da área, em agosto de 1986, tanto que meu pai, falecido em 1948, estava enterrado lá, assim como outros índios. Havia uns 80 corpos no cemitério, que foram sendo retirados um a um pelos funcionários da fazenda, acompanhados do proprietário. Os corpos foram retirados por escavadeiras e colocados em um reboque de trator e levados em direção à sede da fazenda. Depois, não sei para que local os corpos foram levados.”
Cooperativa e sindicato rural
Dierings é o presidente da Cooperativa Agropecuária Sulmatogrossense (Coopasol) e um dos sócios da Alecrim Agropecuária Ltda, razão social da Fazenda Vô Lauro, que trabalha com cultivo de soja, arroz e milho em Dourados. O outro proprietário é Cesar Roberto Dierings, seu irmão, que é filiado ao PDT desde 1989 e atualmente também é suplente de diretor do Sindicato Rural de Dourados.
Ambos são filhos de Lauro Dierings, homenageado com o nome da fazenda, nascido no Rio Grande do Sul em 1942, mas que em 1968 se mudou para Dourados, onde em 1972 começou a criar gado. O gaúcho morreu em 2013, deixando a propriedade rural para Cesar e Laertes.
A Alecrim Agropecuária Ltda foi registrada em julho de 2012 e possui um capital social de R$ 2,8 milhões. O Brasil de Fato tentou contato com Laerte Dierings, mas não conseguiu localizar o fazendeiro ou seus representantes.
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