Documentos contrariam versão do ex-ministro da Saúde na CPI da Covid de que sua gestão havia adquirido cloroquina, azitromicina e ivermectina apenas para uso previsto em bula
São Paulo – Pelo menos 265 mil comprimidos do chamado “kit covid]’ para o suposto tratamento precoce contra a covid-19, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, foram distribuídos para indígenas de cinco estados pelo Ministério da Saúde sob gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello. Apesar de comprovadamente não terem eficácia contra a doença, as doses de cloroquina, azitromicina e ivermectina foram adquiridas para tratar infecções pelo coronavírus nas comunidades.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) orientou formalmente os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), ambos ligados ao Ministério da Saúde, a “instruir seus respectivos processos de aquisição” de cloroquina e hidroxicloroquina, caso municípios e estados se negassem a fornecer o medicamento. Os DSEIs atuam diretamente nas comunidades. A orientação está em um informe técnico de junho do ano passado, poucas semanas após o general Eduardo Pazuello assumir interinamente o Ministério da Saúde.
Pazuello assumiu em 15 de maio, após Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, os dois primeiros ministros nos tempos da pandemia, deixarem o ministério. Entre outros motivos, ambos motivados por não concordarem com a insistência de Bolsonaro no uso do “kit covid” e na tese do tratamento precoce.
Documentos do próprio ministério comprovam que as compras e distribuição dos medicamentos se destinaram para o tratamento precoce contra a covid-19. Um deles aponta aquisição de azitromicina para Acre e Cuiabá visando o “enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do Covid-19″ ou “medidas de controle de infecção humana pelo novo coronavírus (Covid-19)”. A documentação contraria a versão que Pazuello deu na CPI da Covid, de que as compras seriam para combate a outras doenças. De acordo com as respectivas bulas, azitromicina é um antibiótico usado principalmente no tratamento de doenças respiratórias e a ivermectina se destina a infecções por parasitas. A cloroquina é usada no tratamento de malária.
Distribuição
O “kit covid” para o tratamento precoce de indígenas no Acre e em Cuiabá, sempre de acordo com a Folha, foram 20 mil comprimidos de azitromicina para cada estado, ambos com dosagem de 500 mg. No caso do Acre, cada comprimido saiu por R$ 1,82, totalizando R$ 36,4 mil. Para Cuiabá sairam R$ 25 mil, com R$ 1,25 o valor unitário. Também houve compras em Mato Grosso, aos indígenas do Xingu e xavantes, e Rondônia, para etnias como suruí, cinta larga e terena. Além de Roraima e Amazonas.
De acordo com o Localiza SUS, portal do Ministério da Saúde para divulgar os gastos e ações de combate à pandemia, foram enviados 100,5 mil comprimidos de cloroquina aos indígenas em Roraima para tratamento de Covid-19, segundo o portal. Do total, 39,5 mil se destinaram aos yanomami e o restante a comunidades da terra indígena Raposa Serra do Sol.
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