Marcos Corrêa/PR
Salles e seu ex-chefe, o então presidente Jair Bolsonaro (PL), que queria legalizar o garimpo
Ex-ministro de Bolsonaro tenta se desvencilhar da sua responsabilidade e passa a culpar os militares. No entanto, está na mira da PGR, do MPF e da Polícia Federal pela possível participação no genocídio
São Paulo – O ex-ministro do Meio Ambiente e atual deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) voltou a minimizar o genocídio Yanomami e a se eximir da responsabilidade. Em entrevista nesta quinta-feira (9) ao Canal UOL, ele negou atos que tenham acabado com a fiscalização e permitido a explosão do garimpo em terras indígenas. E chegou a responsabilizar os militares pela situação.
“O que está acontecendo agora e que neste um ano e meio passado não aconteceu? O envolvimento grande da única força, o único vetor público que tem condições de atuar naquela região, que são as Forças Armadas”, disse o ex-ministro, que lotou a pasta do Meio Ambiente de militares, bem como os órgãos subordinados a ela.
Salles quer se desvencilhar de sua responsabilidade na grave situação enfrentada pelos povos Yanomami. Mas contribuiu para o domínio dos garimpeiros sobre as terras indígenas. O governo do qual fazia parte tinha um discurso pró-legalização da atividade em áreas protegidas. E enquanto ministro, pelo menos uma vez, recebeu garimpeiros ilegais em conversa fora da agenda oficial. Essa visita foi em 7 de agosto de 2020, aliás, que nem chegou a ser registrada.
Transportar criminosos configura desvio de finalidade
Na véspera, Salles foi a Jacareacanga se encontrar com garimpeiros alvo da operação do Ibama, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Na ocasião, lideranças Munduruku enviaram carta aos promotores, negando que houvesse indígenas apoiando a mineração, como chegou a ser noticiado. E que essas pessoas defendem o interesse dos garimpeiros.
Para o MPF, que abriu investigação, o transporte de criminosos configura desvio de finalidade, já que a presença da FAB na região tinha como objetivo apoiar operação contra os crimes ambientais.
O episódio é central na determinação de investigação da possível participação de autoridades do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em crimes como o de genocídio contra os povos Yanomami. A medida foi tomada no final de janeiro pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso.
Sob investigação
Relator dos casos relacionados aos povos indígenas no STF, Barroso ordenou ainda a expulsão definitiva de todos os garimpos ilegais das terras Yanomami. Com a determinação, a Procuradoria-Geral da República (PGR), o Ministério Público Militar (MPM), o Ministério da Justiça e Segurança Pública e a Superintendência Regional da Polícia Federal de Roraima estão apurando o possível cometimento de crimes. Entre eles, o de desobediência, quebra de segredo de Justiça e crimes ambientais relacionados à vida, à saúde e à segurança de comunidades indígenas.
Na ocasião, Barroso afirmou que documentos sugerem um quadro de absoluta insegurança dos povos indígenas envolvidos. E também a ocorrência de ação ou omissão, parcial ou total, por parte de autoridades federais, agravando tal situação.
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Redação: Cida de Oliveira – Edição: Helder Lima
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