A Sociedade para a Antropologia das Terras Baixas de América do Sul, uma organização acadêmica internacional composta por 500 professores, estudantes e profissionais, condena veementemente a indicação em 5 de fevereiro de 2020 de Ricardo Lopes Dias para o cargo de coordenador do CGIIRC da FUNAI. Essa indicação continua a tendência assustadoramente perigosa do governo brasileiro sob Jair Bolsonaro, descontando os direitos dos povos indígenas e colocando em risco sua integridade cultural e territorial.

Treinado como antropólogo, o Sr. Lopes Dias trabalha há mais de duas décadas como membro da Missão Novas Tribos (hoje chamado Ethnos360), uma organização religiosa evangélica fundada nos EUA em 1942 com o objetivo expresso de converter as populações tribais isoladas do mundo ao Cristandade. Ele trabalhou extensivamente no Território Indígena Vale do Javari, onde grupos indígenas denunciaram publicamente a Missão Novas Tribos e continuam sofrendo com a destruição das crenças cosmológicas e éticas provocadas pela evangelização forçada. Como pesquisadores de todo o mundo, falamos em voz unida como defensores de pesquisas éticas e humanas sobre questões relacionadas às terras baixas da América do Sul, seus povos e ambientes. Além disso, consideramos a liberdade religiosa e a liberdade de expressão como direitos humanos usufruídos por todos os povos e, portanto, estamos profundamente preocupados com o fato de que a nomeação de um missionário para este alto cargo altere fundamentalmente o trabalho da FUNAI e ponha em risco a autonomia cultural de grupos que vivem em isolamento voluntário. O papel principal da FUNAI não pode deixar de ser o garante dos direitos indígenas (santificados nos artigos 231 e 232 da Constituição de 1988) para o de impor a conversão religiosa sancionada pelo Estado. Além disso, os povos tribais têm o direito de viver isolados do estado e da sociedade brasileira, se assim o desejarem; a nomeação de um missionário comprometido com a destruição da religião indígena é completamente contrária à missão do CGIIRC.

Desde que Bolsonaro assumiu o cargo no início de 2019, o apoio financeiro à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) entrou em colapso, os técnicos foram proibidos de prosseguir seu trabalho sobre a demarcação de territórios indígenas, e os profissionais de pesquisa e advocacia foram demitidos ou tiveram seus reputações manchadas por motivos políticos. Enquanto jornalistas e pesquisadores de outras disciplinas podem ter perspectivas sobre os motivos de Bolsonaro ligadas aos interesses agrícolas e um militarismo ressurgente, nossa experiência como antropólogos nos leva a condenar o flagrante ataque contra os povos indígenas que o Sr. Bolsonaro está realizando, que em realidade é uma agenda assimilacionista. Temos solidariedade com os diversos povos e culturas do Brasil, com nossos colegas do governo que veem a loucura da nomeação do Sr. Lopes Dias ,e com os defensores dos direitos humanos em todo o mundo.

 

Fonte: https://www.salsa-tipiti.org/action-items/nomination-of-ricardo-lopes-dias/

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