O Ministério da Saúde e o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) encerraram, nos últimos dias de abril, o primeiro ciclo de ‘Oficinas para o Desenvolvimento de Competências de Famílias Indígenas para o Direito Humano à Alimentação Adequada e Segurança Alimentar e Nutricional’. A última etapa do projeto aconteceu na aldeia Buaçu, no município de Manoel Urbano (AC), onde vivem 230 indígenas da etnia Madja Kulina.
A aldeia foi escolhida por ter sido a primeira a implementar a estratégia de fortificação da alimentação infantil por meio de vitaminas e minerais em pó (NutriSUS) na área de jurisdição do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Purus. O estilo de vida da comunidade, peculiar pelas tradições alimentares preservadas ao longo de anos pelo povo Madja Kulina, foi outro motivo que levou a oficina à aldeia Buaçu.
“Encerramos este primeiro ciclo com chave de ouro. O que aprendemos aqui com eles foi impressionante. Mostraram-nos como vivem em perfeita harmonia com a natureza, são exímios caçadores e agricultores. Vimos uma grande riqueza de alimentos no roçado deles, a exemplo da mandioca, banana, batata, milho, arroz, sem falar na quantidade de fruteiras que vimos na aldeia”, destacou a nutricionista da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), Élida Amorim.
Ao proporcionar momentos de interação e reflexão entre a comunidade e a equipe de saúde, a respeito da introdução de novos alimentos, bem como sobre os hábitos alimentares durante a gestação e primeiros seis meses de vida da criança indígena, a metodologia adotada na oficina permitiu a troca de experiências e a construção conjunta de uma definição para vida saudável.
“A primeira avaliação que faço dessas oficinas é que foram bastante produtivas para todas as partes, para as comunidades, para as equipes de saúde e para nós, que trabalhamos na gestão central. Falo isso porque há em nós uma ansiedade para entender os indicadores de desnutrição infantil, e poder conferir de perto como eles vivem é muito importante. Além disso, a metodologia da oficina também permite capacitar as próprias equipes de saúde, para que multipliquem este formato em outras aldeias”, complementa Élida Amorim.
A possibilidade de trabalhar outros temas importantes nas aldeias com a mesma metodologia aplicada na oficina também foi destacada pela nutricionista do DSEI ARPU, Janara Jinkings. “Esse projeto é de grande valia, não só para a comunidade indígena, mas para nós, profissionais, também”, destacou.
Projeto
As oficinas de nutrição têm como objetivo contribuir para o fortalecimento da Agenda Integrada da Saúde da Criança, visando a redução da mortalidade infantil em 15 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) apontados como prioritários. Para tanto, o projeto busca construir, com a participação de lideranças e mulheres indígenas, novas abordagens e estratégias que ajudem a melhorar o estado nutricional das crianças menores de cinco anos.
Realizadas nas próprias aldeias indígenas, essas oficinas oferecem um momento de reflexão ao propor que a própria comunidade avalie a forma como se alimenta, contrapondo os hábitos alimentares do passado e do presente. A noção de alimentação saudável é construída ao observarem que alguns alimentos já não fazem parte de seus hábitos, sobretudo pela introdução de produtos trazidos das cidades, e que essa mudança na alimentação pode estar relacionada ao surgimento de novas doenças.
Nesse primeiro ciclo, foram contemplados com a realização do projeto os DSEIs Xavante (MT), Yanomami (RR), Médio Rio Solimões e Afluentes (AM), Alto Rio Juruá (AC) e Alto Rio Purus (AC). A previsão é que um novo ciclo seja iniciado ainda este ano.
“O próximo passo é sentarmos, SESAI e Unicef, para fazermos uma avaliação desse primeiro ciclo de oficinas e decidir quais serão os próximos DSEIs prioritários, em consonância com a Agenda Integrada da Saúde da Criança Indígena. O que é de grande importância é fortalecer essa parceria com a SESAI na garantia de direitos de crianças e adolescentes indígenas e dar continuidade ao projeto. Estamos buscando viabilidades para realizar, ainda este ano, cinco oficinas, e no próximo mais cinco, fechando assim os 15 DSEIs prioritários selecionados pela SESAI”, explica o especialista em Saúde e HIV/Aids do UNICEF na Amazônia Legal Brasileira, Antônio Carlos Cabral.
Para ele, o grande benefício do projeto está no legado que as oficinas deixam para as equipes multidisciplinares de saúde indígena. “Acredito que o diferencial deste projeto está na sua multiplicação, no comprometimento das equipes de saúde, com o necessário apoio da SESAI e gestão do DSEI, de levarem este formato de oficina para outras comunidades indígenas, numa ação permanente de educação em saúde, abordando, inclusive, outros temas importantes para a melhoria da qualidade de vida de crianças e adolescentes indígenas”, frisou.
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