Sem que se ouça quem sempre protegeu os ecossistemas, humanidade seguirá rumo ao colapso
Txai Suruí
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé
Participantes da 6ª Etapa do COParente, em Ji-Paraná (RO) – Ministério dos Povos Indígenas no Instagram
Os movimentos, organizações e povos indígenas no Brasil lutam para garantir suas vozes na COP30, em Belém.
Os povos indígenas querem ser reconhecidos e ouvidos. E querem sentar às mesas de negociações como principais atores na defesa do clima. Para tanto, querem apresentar propostas que assegurem a justiça climática.
O movimento vem discutindo a possibilidade de fazer uma COP paralela, que estão chamando de COP Indígena.
O Ministério dos Povos Indígenas e a Funai, em parceria com movimentos indígenas e ONGs indigenistas, vêm realizando os COParente, momentos preparatórios à COP30 baseados nos conhecimentos dos povos originários, de onde tiram propostas concretas sobre justiça climática, desmatamento, créditos de carbono, demarcação de territórios e financiamento climático.
Esses encontros estão ocorrendo nos diversos biomas do país, em 14 estados.
Em 6 e 7 de julho, ocorreu em Rondônia uma nova etapa do COParente, com a presença de lideranças de mais de 30 povos.
Houve as seguintes propostas:
1. O reconhecimento e a proteção de todos os territórios indígenas, em especial os territórios com a presença dos povos indígenas isolados e de recente contato, como política de ação climática;
2. Financiamento direto e autonomia financeira dos povos;
3. Representação e participação efetiva, em todos os espaços de decisão climática das COPs;
4. Proteção dos defensores e defensoras indígenas;
5. Ratificação do Acordo de Escazú;
6. Conhecimentos e modos de vidas sustentáveis devem ser reconhecidos como estratégias de mitigação, adaptação e restauração ambiental;
7. Territórios livres de exploração de petróleo e gás;
8. Não aceitação de projetos de desenvolvimento que impactam diretamente os territórios, a exemplo da ponte binacional Brasil-Bolivia e das UHE Cachoeira Esperança e Tabajara;
9. Monitoramento dos territórios indígenas e planos de desintrusão efetiva, a exemplo do feito na Terra Indígena Uru-eu-wau-wau;
10. Participação nas discussões da Conferência de Minamata, que trata sobre mercúrio e mineração;
11. Que a ONU recomende ao Estado brasileiro que não reconheça a lei 14701 (o Marco Temporal);
Movimentos indígenas como Apib, Coiab e Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e Noroeste do Mato Grosso continuarão fazendo incidência e articulações em diversos outros espaços de discussão e preparatórios para a COP30.
Essas iniciativas se somam às articulações de redes como a Cúpula dos Povos e o Grupo de Trabalho Amazônico (Rede GTA), que reúne 200 organizações locais para posicionar a amazônia no centro das políticas climáticas globais.
Belém se tornará mais uma arena de batalha, onde os povos da floresta levarão ao mundo suas soluções para a crise planetária. Levarão suas falas e propostas de forma livre, baseadas em seus modos de vida, em harmonia com a natureza, e que apontam caminhos para evitar a queda do céu.
A COP30 será um teste decisivo: ou os governos escutam quem sempre protegeu os ecossistemas, ou a humanidade seguirá rumo ao colapso.
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