Carta contendo estratégia do Coletivo Mídia para a cobertura da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima foi apresentada como conclusão do 1º Encontro dos Comunicadores Indígenas
– Foto: Mídia Indígena
No domingo (31), último dia do 1º Encontro de Comunicadores Indígenas, realizado em Belém-PA, um plano de comunicação da Mídia Indígena foi apresentado como estratégia voltada à cobertura da Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima, a COP 30, marcada para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. De acordo com o documento, mais do que registrar formalmente o que acontece dentro das salas de negociação do evento, a cobertura em si será um instrumento político e cultural para ecoar as vozes dos indígenas em múltiplos espaços da COP, ou seja, dentro das negociações oficiais, nas ações paralelas, nos territórios indígenas conectados virtualmente e na opinião pública nacional e internacional.
“O objetivo central da cobertura colaborativa da Mídia Indígena na COP 30 é assegurar que os povos indígenas sejam reconhecidos e ouvidos como protagonistas das discussões climáticas globais, não apenas como participantes periféricos ou ‘consultados’ de forma simbólica. Para isso, a comunicação deve ser colaborativa, criativa e descentralizada, refletindo a diversidade de vozes, línguas, culturas e territórios que compõem o movimento indígena no Brasil”, afirma o texto da carta contendo o plano de comunicação.
A cobertura colaborativa da COP 30 será organizada de forma a articular coletivos indígenas de todo o Brasil e também parceiros internacionais, garantindo um Plano de Comunicação da Mídia Indígena para a COP 30 tenha fluxo contínuo de produção, distribuição e engajamento. Essa estratégia estará estruturada a partir de diferentes públicos-alvo, o público presente na COP, os negociadores e tomadores de decisão, a sociedade em geral e as aldeias e comunidades de base, para que cada grupo receba conteúdos adequados em linguagem, formato e canal de comunicação.
“A COP 30 servirá como catalisador para fortalecer a rede nacional de comunicadores indígenas, integrando jovens, mulheres e lideranças à prática da comunicação autônoma. Ao mesmo tempo, será momento de conexão internacional com comunicadores da América Latina e Caribe, África, Oceania e Norte Global, criando vínculos duradouros de troca de experiências, coprodução de conteúdos e solidariedade política. Isso deixará como legado uma rede mais ampla, sólida e articulada, com capacidade de incidir não apenas em pautas nacionais, mas também em fóruns globais”, relatou Samela Sateré Mawé, ativista ambiental, comunicadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e integrante da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).
A produção será multimídia e multiplataforma, com ênfase em TikTok, YouTube (priorizando transmissões ao vivo), Instagram, Kwai, Facebook e X/Twitter, valorizando também rádios comunitárias, podcasts e boletins. Como referência metodológica, será retomada a experiência do Acampamento Terra Livre online.
As pautas prioritárias incluirão desde conteúdos de base, como explicar “O que é a COP?” para aldeias e territórios, até temas climáticos, territoriais e de direitos das mulheres indígenas. Serão lançadas campanhas específicas, como “A resposta somos nós”, que reafirma a demarcação como saída para múltiplas crises, e “Indígenas presentes”, que demarca simbolicamente o território da COP tanto no espaço físico quanto no digital.
“A cobertura colaborativa assegurará que os povos indígenas sejam vistos e ouvidos como protagonistas, e não como figurantes. Pela primeira vez em uma COP realizada no Brasil, haverá um projeto estruturado de comunicação indígena, garantindo que falas, imagens e propostas não sejam invisibilizadas ou distorcidas. Essa visibilidade terá repercussão imediata nas redes sociais e na imprensa, mas também ecoará nos espaços de decisão política, pressionando autoridades e organismos internacionais a reconhecerem o papel central dos povos indígenas na agenda climática”, disse Eric Terena, jornalista e um dos fundadores da Mídia Indígena.
Com apoio do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o Coletivo Mídia Indígena, que recentemente completou uma década, organizou o 1º Encontro de Comunicadores Indígenas, entre os dias 28 e 31, na Casa Maraká, localizada na capital do Pará.
CRONOGRAMA Pré-COP 30 (setembro – outubro/2025)
O período será dedicado à preparação estratégica, formativa e mobilizadora.
• Formação de comunicadores indígenas: realização de oficinas presenciais (em Belém e nos territórios) e virtuais sobre técnicas de reportagem, edição de vídeo, fotografia, transmissões ao vivo e segurança digital. O objetivo é nivelar capacidades e fortalecer a rede de comunicadores, garantindo que todos cheguem preparados para a cobertura coletiva.
• Produção de materiais explicativos sobre a COP 30: elaboração de cartilhas visuais, vídeos curtos e podcasts que expliquem de forma simples o que é a COP, por que ela é importante e qual o papel dos povos indígenas. Esses conteúdos servirão para engajar comunidades indígenas e sensibilizar a sociedade civil antes mesmo da abertura da conferência.
• Lançamento de campanha nacional e internacional de mobilização: ativação de hashtags, peças digitais, vídeos colaborativos e chamadas públicas para marcar presença indígena na COP 30. Essa fase buscará criar expectativa e adesão social, garantindo que a narrativa indígena já esteja em circulação antes do início do evento.
Durante a COP 30 (novembro/2025)
O período da conferência será o momento de intensidade máxima de produção e difusão.
• Produção diária de boletins multimídia: sínteses em vídeo, áudio e texto distribuídas todos os dias, trazendo os principais acontecimentos da COP 30 do ponto de vista indígena. Os boletins funcionarão como memória instantânea e como ferramenta de incidência política e midiática.
• Lives coletivas direto da Casa dos Povos Indígenas: transmissões ao vivo que conectem lideranças, comunicadores e comunidades, mostrando debates, rituais, falas e análises em tempo real. Essas lives terão papel essencial para fortalecer a participação à distância. Plano de Comunicação da Mídia Indígena para a COP 30 12
• Registro de falas indígenas em plenárias oficiais: documentação em vídeo e áudio das intervenções feitas por lideranças indígenas nos espaços de negociação e decisão. Esses registros serão compartilhados rapidamente, garantindo que a palavra indígena não seja apagada ou distorcida.
• Ações performáticas de comunicação: criação de intervenções artísticas e culturais no espaço da conferência, como rádios-posts (intervenções sonoras em tempo real), murais colaborativos e “paredes de vozes” (espaços físicos ou digitais com frases, imagens e áudios das delegações indígenas). Essas ações terão como objetivo visibilizar a presença indígena de forma criativa e impactante.
Pós-COP 30 (dezembro/2025 – fevereiro/2026)
Após a conferência, o foco será na sistematização, devolução e preservação da memória.
• Publicação do Dossiê Indígena da COP 30: relatório multimídia (texto, fotos, vídeos, áudios) que registra de forma organizada a participação indígena e as principais pautas defendidas. Esse material será disponibilizado em português, inglês, espanhol e línguas indígenas, funcionando como ferramenta de incidência junto a governos, ONGs, universidades e movimentos sociais.
• Exibições comunitárias nos territórios: realização de mostras audiovisuais, rodas de conversa e devolutivas nos povos participantes, assegurando que o resultado da cobertura volte às comunidades e fortaleça a memória coletiva.
• Formação de um arquivo audiovisual indígena permanente: organização e catalogação de todo o material produzido em uma plataforma digital segura, de fácil acesso e com gestão indígena. Esse arquivo será patrimônio cultural e político, servindo como memória histórica e como base para futuras mobilizações globais.
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