Em Roraima a medicina tradicional faz parte do dia a dia dos povos indígenas, seja por meio de xaropes, chás, lambedores, garrafadas e banhos. Os saberes ancestrais são passados de geração em geração.

E para fortalecer as ações nas comunidades, o Conselho Indígena de Roraima (CIR), por meio do Departamento de Mulheres Indígenas, realizou entre os dias 10 a 13 de outubro a I Oficina Estadual da Medicina Tradicional com o tema “A medicina tradicional indígena: Cuidado, cultura e cura.”

Realizada no auditório Dionito Macuxi, localizado no Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS), com cantos, danças tradicionais e a defumação do Maruwai, a abertura foi conduzida pela Tuxaua Geral do Movimento de Mulheres Indígenas de Roraima. O encontro reuniu mulheres, jovens e lideranças tradicionais de diferentes territórios, regiões e comunidades indígenas. A iniciativa contou com a parceria da Ford Foundation, Funai e Fimi.

No primeiro dia da oficina o espaço foi aberto para as coordenadoras regionais de medicina tradicional das etnoregiões Serras, Surumu, Baixo Cotingo, Serra da Lua, Murupú, Amajari, Alto Cauamé e Tabaio, compartilharem informações com destaque para as iniciativas desenvolvidas dentro das comunidades e região.

Laudisa André e Edilza Level foram as responsáveis para o andamento da oficina e mostraram na prática como é feita a pomada e o xarope tradicional, usando plantas medicinais colhidas diretamente no território.

Laudisa destacou que a coleta dos ingredientes não pode ser feita de qualquer jeito. É preciso redobrar os cuidados e pedir licença à mãe natureza de forma carinhosa.

“Temos que preservar a nossa natureza, pois é dela que tiramos o nosso sustento, assim como tiramos as nossas plantas medicinais. E não é de qualquer jeito que podemos fazer a retirada das plantinhas, porque nela também há vida. Temos que tomar cuidado, pois a natureza se revolta assim como nós seres humanos.” disse André.

A Tuxaua Geral do Movimento de Mulheres Indígenas de Roraima, Kelliane Wapichana, refletiu sobre o momento afirmando que a medicina tradicional é muito importante e o Departamento de Mulheres do CIR tem apoiado e fortalecido as iniciativas e projetos das mulheres para a valorização dos saberes tradicionais.

“Estamos aqui na comunidade Barro, no Centro Indígena de Formação promovendo essa I Oficina, com o intuito de fortalecer a medicina tradicional. Foi uma demanda das mulheres para realizar e poder valorizar mais ainda a medicina tradicional indígena. O departamento atua em várias linhas e ter esse olhar é importante. Não é somente o autocuidado com as mulheres, mas é com a terra, com o espírito, que as mulheres trazem as diversas experiências que elas têm e estamos aqui como Departamento de Mulheres Indígenas para fortalecer as iniciativas de fato das mulheres.” ressaltou Kelliane.

A coordenadora Regional da Funai/RR, Marizete de Souza, também esteve presente no evento e destacou a medicina tradicional como necessária dentro e fora das comunidades indígenas.

“Quando chego aqui eu vejo um espaço de calmaria e energia positiva, onde tem várias mulheres com conhecimentos importantes e que devem ser valorizadas. Sempre acreditei na medicina tradicional produzida dentro das comunidades indígenas. Hoje estamos aqui como apoiadores e sempre seremos, porque é muito importante esse trabalho que está sendo desenvolvido pelo Departamento de Mulheres Indígenas, uma iniciativa importante para o fortalecimento da medicina tradicional.” disse Marizete.

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Equipe CIR e lideranças participantes da oficina. (Fotos: ASCOM/CIR).

Momentos e práticas tradicionais da produção de pomadas e xaropes

Divididos em grupos os jovens e demais lideranças presentes participaram do processo da produção dos remédios, guiados pelas mulheres experientes na produção dos insumos. Foram feitas pomadas e xaropes.

O grupo tradicional da pomada composto por 20 componentes de diferentes regiões entre mulheres, homens e jovens foi conduzido pela mestra da medicina tradicional e parteira Edilza Level da comunidade indígena Sapã, região das Serras, que frisou a importância da valorização da medicina tradicional e por estar fazendo este intercâmbio juntamente com outras regiões.

“Hoje estamos aqui em conjunto, fazendo esse intercâmbio das regiões. Nós estamos trazendo essa valorização para que a nossa medicina tradicional não seja extinta, que ela possa ser valorizada por todos os povos indígenas do Brasil, tanto aqui em Roraima, com os povos Macuxi, Wapichana, Taurepang, Ingaricó, Yekuana, Patamona, Wai wai, Yanomami, Sapará. Então somos os povos indígenas que temos aqui no estado de Roraima. Nosso trabalho é realizado com atenção, dedicação e respeito à medicina tradicional, reconhecida por seu valor significativo. Acreditamos na importância desse conhecimento.” relatou Edilza.

A equipe utilizou sete tipos de plantas medicinais como folha santa, saratudo, mangarataia, capivarol, folha do melão São Caetano, limão e tabacurana, além do óleo de sucuri, vela e cera.

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Medicações tradicionais feitos durante a oficina (Fotos: ASCOM/CIR).

Foram produzidos 51 frascos de pomadas para dores nas articulações, dores musculares, 31 frascos de pomadas para micose e 35 frascos de pomadas cicatrizantes. As pomadas servem para doenças de pele, cortes, cirurgias, parto cesáreo e cirurgias de hérnias.

Por outro lado o grupo de xarope conduzido por Laudisa André também composto por 20 pessoas entre mulheres e jovens produziu 23 xaropes antibióticos e 44 xaropes anti-inflamatórios. Os xaropes são consumidos através de orientações feitas por Agentes Indígenas de Saúde (AIS), porque não é de qualquer jeito que pode usar o xarope.

Na oficina também foi lançada a cartilha de receitas da medicina tradicional na versão português e wapichana, um momento histórico para a valorização da cultura indígena. Além disso, teve mostra dos projetos de medicina desenvolvidos dentro das comunidades e regiões.

O evento foi auxiliado pelo secretário-geral do CIR, João Mota, que ajudou na elaboração básica do projeto  para atender a demanda das comunidades e regiões. No total de 12 inscritos, 3 projetos foram selecionados em formato de sorteio, sendo 2 projetos comunitários, 1 para a comunidade Maloquinha da região Surumu, 1 para o Centro Campo Formoso da região Serras e 1 projeto regional para a região Alto Cauamé, ambos sobre a medicina tradicional. E de forma simbólica foram colocados no varal da mostra.

A realização da I Oficina Estadual da Medicina Tradicional é mais um passo importante para o Departamento de Mulheres do Conselho Indígena de Roraima (CIR), que fortalece as iniciativas das comunidades e regiões e principalmente valoriza os saberes ancestrais. Parte dos materiais produzidos foi doada para as regiões e para os estudantes do CIFCRSS.

Fotos: Maciel Macuxi- ASCOM/CIR e André Pereira- Rede Wakywaa CIFCRSS

Fonte: https://cir.org.br/post/i-oficina-estadual-da-medicina-tradicional-e-realizada-na-regiao-surumu