A atividade aconteceu na aldeia Extrema. Foto: Simen Kokkvoll

Com o objetivo de fortalecer as ações de vigilância, gestão e proteção ambiental no território, a Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre), em parceria com a Associação Manxinerune Ptohi Phunputuru Poktshi Hajene (MAPPHA), realizou entre os dias 8 e 13 de outubro a Oficina de Atualização do Plano de Monitoramento Territorial da Terra Indígena (TI) Mamoadate.

O encontro reuniu lideranças, comunicadores, jovens, mulheres e crianças dos povos Manxineru e Jaminawa, em um total de 67 participantes, promovendo trocas de saberes, informações e o domínio no uso de geotecnologias como os aplicativos Timestamp e Avenza Maps. A atividade contou com representantes das aldeias Betel, Cojubim, Salão, Laranjeira, Cachoeira, Lago Novo, Peri e Extrema, ampliando a rede de monitoramento e o compromisso coletivo com a proteção da Terra Indígena.

O monitoramento territorial é uma estratégia central de gestão ambiental e proteção indígena, permitindo a sistematização de informações sobre ameaças ao território, como invasões e extração ilegal de madeira. Para fortalecer essas ações, a oficina incluiu práticas de mapeamento, uso de GPS, discussão sobre leis e regulamentações de participação indígena nas atividades de monitoramento territorial, além da atualização dos dados sobre a presença de isolados e ameaças ambientais.

A TI Mamoadate demarcada em 1986 e homologada em 1991. Possui 313.646 hectares e está localizada no rio Iaco, afluente da margem direita do rio Purus, abrangendo os municípios de Assis Brasil e Sena Madureira. No território é onde vivem os povos Manxiineru, da família linguística Arauak, organizados em 12 aldeias, e Jaminawa, da família linguística Pano, distribuídos em 4 aldeias. Também há registro de grupos em isolamento voluntário, conhecidos como Mashco Piro, provenientes do Peru.

Por estar situada em área de fronteira entre o Brasil (estado do Acre) e o Departamento de Madre de Dios, no Peru, a TI Mamoadate é palco de dinâmicas transfronteiriças que afetam tanto os povos Jaminawa e Manxineru quanto outros moradores da região. Madeireiras ilegais, invasões, atividades ilícitas, empreendimentos petrolíferos na fronteira peruana e propostas de obras de infraestrutura viária, como abertura de ramais e estradas, estão entre as principais ameaças.

O presidente da MAPPHA, Lucas Manchineri, destacou a importância da oficina para reforçar a autonomia das comunidades e a defesa dos territórios: “A Oficina de Atualização sobre o Monitoramento da Terra Indígena Mamoadate trouxe uma grande importância para nós, o povo Manxineru, porque aumenta a nossa responsabilidade sobre a proteção do território. O monitoramento é cuidar da integridade da nossa terra, avisar as comunidades sobre qualquer perigo e fortalecer nossas articulações políticas em defesa do território e dos parentes isolados. A oficina também serviu para fortalecer as alianças com os parentes do Peru e reforçar nossas ações contra as ameaças do entorno.”

Atualmente, a TI Mamoadate conta com sete equipes de monitoramento, que vêm ampliando as áreas de vigilância e adaptando suas estratégias às ameaças e às mudanças climáticas. A formação dessas equipes é resultado de um processo contínuo iniciado em 2004, com oficinas de etnomapeamento, e atualizado em 2025, com a revisão do Plano de Monitoramento.

A coordenadora do Setor de Geoprocessamento (SEGEO), Branca Medina, ressaltou o papel do Setor nesse processo: “O monitoramento territorial é uma ferramenta viva de gestão e defesa dos territórios indígenas. Cada atualização dos planos representa um avanço na autonomia das comunidades e na qualidade das informações que orientam suas ações de proteção. O SEGEO busca fortalecer a capacidade técnica das equipes, valorizando o conhecimento tradicional aliado às geotecnologias.”

Durante a oficina, foram revisadas as etapas históricas do monitoramento da TI Mamoadate e definidas novas metas: fortalecer as equipes de campo, melhorar a comunicação com comunidades do lado peruano, articular parceiros institucionais (CPI-Acre, Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato – OPI, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB e Fundação Nacional dos Povos Indígenas – FUNAI) e elaborar um plano de contingência para situações de contato com povos isolados.

A comunicadora indígena Joengrydy Manxineri, participante das atividades de monitoramento em sua aldeia, destacou o papel das mulheres nesse processo: “A oficina foi muito importante porque reuniu os jovens, as mulheres e as lideranças para falar sobre o nosso território. Quando a gente aprende a usar o GPS e os aplicativos, entende melhor o que está acontecendo na terra e pode ajudar a proteger. As mulheres também têm um papel importante nisso, porque a gente observa muita coisa no dia a dia, nas caçadas, nas plantações e nas viagens. Participar me deixou mais segura para registrar e compartilhar as informações com a comunidade.”

O encontro também fortaleceu a organização MAPPHA, criada em 2022 para representar o povo Manxineru da aldeia Extrema. Desde então, a associação tem garantido avanços em educação, saúde e conectividade, fatores que vêm facilitando a articulação entre as aldeias e a participação em reuniões e incidências políticas. (Comunicação CPI-Acre)

Fonte: https://cpiacre.org.br/monitoramento-territorial-comunitario-fortalece-a-vigilancia-na-terra-indigena-mamoadate/