Indígenas mundurukus ocupam a entrada da principal entrada da COP30, em Belém (PA) – Danilo Verpa/Folhapress
- Mundurukus fizeram ato pacífico na entrada da conferência um dia após reclamação da ONU por falta de segurança
- Brasil quer agrupar temas sensíveis para driblar impasses; diplomatas do Itamaraty se queixam de excesso de trabalho
São Paulo
Um dia depois de a ONU escrever uma carta à organização da COP30, reclamando principalmente da falta de segurança após manifestantes invadirem uma zona restrita, um novo protesto indígena bloqueou o acesso na principal entrada da conferência nesta sexta (14). O governo federal correu para lidar com a situação.
Nas salas de negociações, o Brasil também tenta resolver um impasse com os temas mais sensíveis da conferência. Dessa vez com uma estratégia já usada no G20 e no Brics para driblar possíveis divergências e impedir que as decisões fiquem estagnadas.
E as pessoas que participam dessas negociações, do lado brasileiro, fizeram queixas contra as jornadas exaustivas. São diplomatas que acusam, sob anonimato, o Itamaraty de assédio institucional.
Veja a seguir um resumo do que é mais importante saber sobre esta sexta-feira na COP30.
1.Mundurukus protestam em frente à COP30 contra planos do governo Lula
A sexta-feira começou com um protesto de cerca de 40 indígenas mundurukus na entrada principal da COP30. Eles pedem a revogação do Plano Nacional de Hidrovias e o cancelamento da Ferrogrão, afirmando que grandes empreendimentos ameaçam seus territórios. A manifestação, pacífica e com muitas crianças, levou o Exército a fechar temporariamente o acesso ao evento.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e a CEO da conferência, Ana Toni, conversaram com as lideranças indígenas pela manhã, e o grupo foi convidado a se reunir com as ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas). As ministras explicaram o andamento de processos como a demarcação de terras e esclareceram que a Ferrogrão não tem licença liberada, além de prometer encaminhar outras queixas aos ministérios responsáveis.
Após a reunião, Alessandra Munduruku reforçou a necessidade de que os povos indígenas sejam efetivamente ouvidos na conferência. Com o fim do protesto, o acesso principal foi reaberto, mas longas filas se formaram devido às revistas de segurança. O ato ocorreu poucos dias após outra manifestação ter invadido a zona azul da COP, em meio a críticas das Nações Unidas sobre falhas de segurança e infraestrutura no evento.
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2. COP30 estuda decisão em pacotes para driblar impasses
A presidência brasileira da COP30 tenta evitar que quatro temas considerados sensíveis emperrem as negociações: financiamento, metas climáticas, medidas comerciais e transparência. A ideia é juntar assuntos que, isoladamente, não avançam —principalmente o debate sobre dinheiro, travado pela resistência de países ricos em ampliar recursos para nações em desenvolvimento. Ao empacotar temas interligados, o Brasil busca criar um avanço simultâneo, ainda que parcial, para todos.
A estratégia não é nova: já apareceu em fóruns como G20 e Brics. A presidência avalia diferentes arranjos —de uma decisão única envolvendo os quatro temas até pares de decisões conjuntas. A lógica é garantir algum equilíbrio: ninguém leva tudo, mas ninguém fica completamente travado. Apesar disso, não está descartado que parte desses assuntos volte para a agenda formal de negociação. O encaminhamento deve ser anunciado neste sábado (15), após mais rodadas de discussão.
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3. Diplomatas se queixam de estafa e denunciam assédio institucional
Funcionários de carreira do Itamaraty relatam jornadas exaustivas na COP30, com turnos de até 16 horas por 20 dias seguidos, sem descanso ou compensação. O sindicato dos diplomatas recebeu dezenas de queixas, que serão levadas ao Ministério Público do Trabalho. O Itamaraty reconheceu a carga elevada de trabalho em eventos multilaterais e afirmou que compensará as horas extras.
Segundo o sindicato, parte dessas horas nem aparece nos registros porque o sistema não permite lançar mais de dez horas por dia, criando “horas invisíveis”. Diplomatas descrevem condições improvisadas em Belém, falta de escalas e um regime de plantão permanente, especialmente para os mais jovens —que, por dependerem de chefes para promoções e postos no exterior, acabam aceitando jornadas abusivas. A prática já havia causado burnout em eventos anteriores, como G20 e Brics.
A entidade lembra que já acionou a Justiça este ano cobrando mudanças, mas afirma que os problemas se repetiram na COP30. Para o sindicato, o tema expõe a necessidade de garantir direitos trabalhistas, preservar a saúde dos servidores e alinhar as condições da diplomacia brasileira ao discurso oficial de direitos humanos.
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