Indígenas estão trabalhando junto com pesquisadores do Imazon na primeira etapa do monitoramento (Foto: Ana Paula Gato – Ideflor-Bio)
Pesquisa, feita em colaboração com indígenas, visa aprofundar conhecimentos sobre fauna e flora do maior conjunto de florestas tropicais protegidas do mundo
Texto: Angélica Queiroz
No norte do Pará, onde o Brasil encontra a Guiana Francesa e o Suriname, a região abrangida pelo Programa Grande Tumucumaque abriga o maior conjunto de florestas tropicais protegidas do mundo. Entre duas unidades de conservação e três terras indígenas, estende-se um contínuo de proteção que cobre cerca de 10 milhões de hectares, numa área que chega a ser maior que alguns países, reconhecida por sua megadiversidade única. Lá vivem espécies que não existem em nenhum outro lugar do mundo e outras ameaçadas de extinção. A proteção dessa riqueza, crucial para a biodiversidade do planeta, está entre as prioridades que orientam a atuação do Programa.
Mas para cuidar, é importante conhecer. Por isso, uma das primeiras ações do Programa foi planejar uma estratégia de monitoramento da biodiversidade, construída conjuntamente com lideranças indígenas, antropólogos, biólogos, engenheiros florestais, gestores e especialistas. A pesquisa começou em novembro, na Esec Grão-Pará, uma das áreas de conservação que integram a iniciativa.
“O monitoramento é como se fosse um diagnóstico da saúde da floresta”, explica Jarine Reis, bióloga do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que está coordenando o monitoramento. Ela explica que está sendo utilizado um protocolo florestal do Programa Monitora, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que permite analisar as unidades de conservação para orientar o manejo, apoiar decisões e direcionar medidas de proteção.

O estudo é conduzido por pesquisadores do Imazon em parceria com monitores indígenas que vivem em aldeias próximas às áreas avaliadas e receberam capacitação específica para apoiar a coleta de informações em campo. “Neste primeiro momento, estamos concentrados na identificação de mamíferos de médio e grande porte e de aves utilizadas na alimentação”, explica Jarine Reis.
Nas trilhas, também estão sendo instalados equipamentos de monitoramento, como armadilhas fotográficas e gravadores de bioacústica, para registrar a fauna e para treinar a inteligência artificial e criar um banco de sons que auxilie nesse e em futuros estudos.
O acompanhamento, de longo prazo, também busca avaliar os efeitos das mudanças climáticas no Grande Tumucumaque. “Trata-se de uma área endêmica e de grande extensão territorial, fundamental para a produção de chuvas, o armazenamento de água e carbono, entre outros serviços ecossistêmicos”, afirma Jakeline Pereira, diretora do Programa de Áreas Protegidas do Imazon. Ela destaca a importância de aprofundar o conhecimento sobre a região para pensar em ações de mitigação de curto, médio e longo prazo.

O Programa Grande Tumucumaque é executado pelo Iepé e o Imazon, junto a Organizações Indígenas locais (Apitikatxi, Apiwa e Tekohara), em parceria com a Funai e Ideflor-Bio, com financiamento da Nia Tero e do LLF.
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