A permanente ameaça do governo do Estado de Rondônia e da

Assembleia Legislativa às áreas protegidas se volta agora para duas

unidades de conservação: Reserva Extrativista Jaci-Paraná e Parque

Estadual Guajará-Mirim. Governador e deputados pretendem entregar as

áreas públicas, um bem do povo, a grileiros e desmatadores, por meio de

projeto de lei que tramita com prioridade na Assembleia Legislativa e

pode ser aprovado nos próximos dias. O projeto do governador e dos

deputados é desmembrar cerca de 161.599 mil hectares dessas duas

unidades de conservação e entrega-los à exploração, principalmente para

a criação de gado.

As duas áreas têm sofrido invasões crescentes nos últimos 20 anos.

Seringueiros da RESEX foram expulsos com violência por jagunços

armados a serviço dos grileiros. Entregar essas áreas aos invasores é

premiar e legitimar a ação do crime organizado no Estado. É assumir que o

crime compensa e incentivar novas invasões em outras unidades de

conservação, a exemplo do que ocorre na RESEX Aquariquara e outras

reservas na região de Machadinho e Vale do Anari.

A desafetação dessas unidades impactam diretamente as Terras

Indigenas Uru-eu-wau-wau, Karipuna, Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão,

Karitiana e os povos que estão em isolamento voluntário na região que

envolve as áreas protegidas, ameaçando a integridade física, cultural e

territorial podendo levar a eminência de um genocídio de culturas

milenares.

Entendemos que as unidades de conservação não são empecilho

para o desenvolvimento e que, ao contrário, podem ser aliadas na geração

de emprego e renda, como por exemplo, na exploração sustentável da

biodiversidade. O ataque a elas mostra ao Brasil e ao mundo que o estado

não está preocupado em cuidar da Floresta Amazônica, nosso maior

patrimônio.

As unidades de conservação: Jaci-Paraná e Guajará-Mirim não

podem perder nem um hectare e precisam ser recuperados em sua

integridade, o que seria outra oportunidade de geração de emprego e

renda. O povo rondoniense não precisa de menos florestas. Precisa de

mais. O uso das áreas públicas para a criação de gado beneficia apenas um

pequeno grupo, além de ser crime previsto em lei.

As justificativas de invasões de áreas protegidas para desafetá-las

utilizadas pelo PLC: nº 80/2020, só demonstra a incapacidade do Poder

Público de governar e gerir o território, deixando a mercê do crime

organizado.

Diante do exposto as entidades que assinam esta nota, exigem:

1. A retirada desta matéria da pauta do poder legislativo estadual;

2. Retirada dos invasores de todas as áreas protegidas;

3. Recondução das comunidades tradicionais aos seus territórios;

4. Proteção, monitoramento e fiscalização das Terras Indígenas e

Unidades de Conservação;

5. Que o gado seja apreendido, leiloado e os recursos sejam aplicados

na recuperação das áreas degradadas;

6. Que o programa de reflorestamento do estado priorize as referidas

áreas para recomposição florestal.

Porto Velho-RO, 01/12/2020.

Assinam:

Arquidiocese de Porto Velho;

Associação de Defesa Etnoambiental – KANINDÉ;

Conselho Indigenista Missionário/CIMI – RO;

ONG Raiz Nativa;

SOS Amazônia;

Grupo de Pesquisa em Gestão do Território e Geografia Agrária da

Amazônia – GTGA/UNIR;

Associação do Povo Indígena Karipuna-APOIKA;

Associação do Povo Indígena Uru-eu-wau-wau/Jupaú;

WWF-Brasil;

Comitê Chico Mendes;

Revista Xapuri;

Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia – AGIR;

ECOPORÉ-Ação Ecológica Guaporé;

Fundação Luterana de Diaconia;

Conselho de Missão Entre os Povos Indígenas;

Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia-FDL;

COMIN – Conselho de Missão Entre Povos Indígenas;

CAPA;

OPIROMA;

Associação Alternativa Terra Azul;

Organização Indigenista da Diocese de Guajará-Mirim;

Pastoral Indigenista da Diocese de Ji-Paraná;

IMV – Instituto Madeira Vivo;

Associação Metareila do Povo Indígena Suruí;

Conselho Nacional das Populações das Populações Extrativistas-CNS;

Diretório Regional do Partido dos Trabalhadores-PT;

Rede Sustentabilidade;

Juventude Indígena de Rondônia;

FETAGRO – Federação de Trabalhadores na Agricultura de Rondônia;

Via Campesina RO;

IPÊ – Instituto de Pesquisa Ecológica;

FVA – Fundação Vitória Amazônica;

Grupo de Pesquisa Geografia, Natureza e Territorialidades Humanas –

GENTEH-UNIR;

Fórum de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Rondônia –

Fórum DCA/RO.

 

 

Fonte: https://amazoniareal.com.br/nota-publica-nem-um-hectare-a-menos/

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