No mês de julho, foi realizada a formatura da primeira turma de agentes ambientais terena na aldeia Cachoeirinha, no município de Miranda, no Estado do Mato Grosso do Sul. A ação é uma iniciativa desenvolvida no âmbito da parceria do Conselho do Povo Terena e o CTI, através do projeto Strengthening indigenous networks, organizations and rights in Mato Grosso do Sul, que teve início em 2017, para fortalecer a gestão territorial e ambiental das terras Terena.
A atividade contou também com o apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e Organização Caianas, além do financiamento da Fundação OAK, Programa Copaíbas e Embaixada Real da Noruega.
O curso de agentes ambientais terena teve início no mês de julho de 2022. A formação teve como foco as diretrizes da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial das Terras Indígenas (PNGATI) e com o objetivo principal de formar jovens indígenas comprometidos com a demarcação, proteção e gestão de suas terras indígenas, bem como com a preservação do meio ambiente.
Nesse sentido, os agentes ambientais puderam unir esforços e ajudar os caciques na defesa dos direitos indígenas e no enfrentamento dos desafios ambientais cotidianos das comunidades. A formação também pretendeu incrementar a preparação dos jovens para alguns conteúdos do ensino superior, assim como unir jovens e anciãos nos diálogos sobre conhecimentos tradicionais indígenas e conhecimentos científicos.
O grupo de agentes ambientais foi composto por jovens das terras indígenas do Buriti, Cachoeirinha e Taunay-Ipegue, acompanhados por suas lideranças, caciques e anciãos. A formação dos agentes faz parte do processo de construção dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) desses três territórios.
O caminho da formação
O trajeto da formação dos agentes ambientais terena foi estruturado em quatro grandes eixos formativos, contando com três módulos de conteúdo programático, três expedições de etnomapeamento e uma oficina de qualificação de dados georreferenciados.
Cada um dos módulos foi realizado nas aldeias com a presença dos formadores e uma etapa de trabalhos nas comunidades, que consistia na realização pelos alunos, em suas aldeias, de atividades acordadas durante as etapas de oficinas. Nesse período, foram realizados alguns encontros de acompanhamento, nos quais a equipe de formadores se reunia com os estudantes para orientar e acompanhar o andamento das atividades dos alunos.
Iniciada em 2022, na Terra Indígena Buriti, a formação dos jovens terena contou com a realização de três módulos de aula presenciais (I direitos e legislação indigenista; II conhecimento e gestão do território e III metodologias de pesquisa).
O primeiro módulo, “Direitos Indígenas e Legislação Indigenista”, foi ministrado pelo advogado Dr. Eloy Terena, durante uma semana, na aldeia Buriti (TI Buriti), em julho de 2022. O módulo II, foi conduzido pelo antropólogo Gilberto Azanha, que abordou a temática “Conhecimento e Gestão do Território Indígena”, tratando do histórico, panorama atual e desafios da situação fundiária das terras terena. O último módulo foi sobre metodologias e técnicas de pesquisa, conduzido pela antropóloga Mariana Guimarães, no qual foram trabalhadas a construção de projetos de pesquisa e processos científicos de construção de saberes.
Os agentes ambientais e a elaboração dos PGTAs Terena
Além desses conteúdos, os agentes ambientais contribuíram ativamente para a realização do etnomapeamentos das três terras indígenas envolvidas, como etapa fundamental da construção dos seus PGTAs. Durante esse processo, foram realizadas três expedições de mapeamento participativo e uma oficina de qualificação de dados. As expedições de mapeamento contaram com os agentes ambientais, caciques, anciões, conhecedores do território (caçadores, agricultores, pescadores, ceramistas), professores e demais lideranças.
As expedições foram realizadas nas Terras Indígenas Buriti, Cachoeirinha e Taunay-Ipegue. Ao início de cada expedição foi realizada uma breve oficina sobre noções básicas de cartografia e etnomapeamento e a definição do tema da expedição.
Após as expedições, foi realizada uma oficina de qualificação de dados com as três turmas das expedições, na escola da aldeia sede da TI Cachoeirinha. Durante esses dias, foram realizadas oficinas mais aprofundadas sobre noções básicas de cartografia e de uso de tecnologias para o georreferenciamento de informações, momentos de trabalho de qualificação dos mapas a partir das fichas e dos mapas mentais, verificação de dados junto dos anciões, ceramistas, agricultores, pescadores, caçadores, rezadores, e demais lideranças envolvidas nos trabalhos, e a produção de textos e mapas temáticos.
Cada turma trabalhou no processamento dessas informações para que ao final do percurso formativo, os participantes produzissem um “Caderno de Mapas” de cada território que foi entregue às lideranças como forma de contribuição para a elaboração em curso dos respectivos PGTAs.
Os Cadernos de Mapas das TIs Cachoeirinha, Taunay-Ipegue e Buriti, portanto, foram os produtos finais dessa formação e devolutiva dos jovens para suas lideranças. Desse modo, o curso também funcionou como uma mobilização para a elaboração dos PGTAs, além de proporcionar o envolvimento direto dos agentes em formação na escrita do PGTA.
A documentação audiovisual do processo de etnomapeamento também resultou em uma curta documentário que acompanha as expedições de mapeamento participativo realizadas pelos Agentes Ambientais Terena nas Terras Indígenas Buriti, Cachoeirinha e Taunay Ipegue, realizadas em 2023.
As expedições, que combinam oficinas e andanças pelo território, revelam a importância da estratégia de retomada dos territórios para a posse plena e a autonomia do povo Terena.
O documentário destaca também o papel fundamental dos jovens, que, ao longo desse processo, tiveram a oportunidade de aprender sobre a história de luta e resistência de seu povo.
Ao todo, mais de 100 pessoas, entre estudantes, lideranças, caciques, artesãs, líderes espirituais e anciãos, participaram e frequentaram as expedições, oficinas e atividades do curso. No final do ciclo formativo, em julho de 2024, foram formados 33 agentes ambientais, que percorreram todo o percurso descrito a seguir, acompanhados de perto por cinco anciãos conselheiros da turma.
Fonte: https://trabalhoindigenista.org.br/conselho-terena-cti-agentes-terena/
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