Indígenas marcham em Belém durante ato paralelo à COP30 – Danilo Verpa/Folhapress

  • Ministra Sonia Guajajara participa do ato e antecipa decisão do governo sobre demarcação de novos territórios durante a cúpula
  • Policiamento na entrada da conferência foi reforçado no dia do protesto

Jorge Abreu

Belém (PA)

movimento indígena realizou uma marcha nesta segunda-feira (17) pelas ruas de Belém (PA) para pedir a demarcação de terras como política de proteção dos biomas brasileiros. A manifestação marca o início da segunda semana da COP30, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas.

O ato partiu às 8h30 da Aldeia COP, o alojamento indígena instalado na Escola de Aplicação da UFPA (Universidade Federal do Pará). O percurso terminou no Bosque Rodrigues Alves. Segundo os organizadores, o ato reuniu reuniu cerca de 4.000 indígenas do Brasil e de outros países.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, participou do ato e puxou um grupo de mulheres do povo guajajara do Maranhão com cânticos e danças tradicionais.

Mais tarde, a pasta de Sonia anunciou a preparação de quatro novas demarcações de terras indígenas, além de dez portarias declaratórias e mais seis estudos antropológicos que devem constar no pacote que o presidente Lula deve anunciar na COP30 —ele volta a Belém nesta quarta-feira (19).

A violência causada pelos conflitos territoriais com fazendeiros e garimpeiros foi abordada no ato. O caso mais recente, citado na marcha, foi de um indígena guarani-kaiowá, morto no domingo (16) na comunidade de Pyelito Kue, em Iguatemi (MS).

O território é palco de conflitos fundiários e passou por um processo recente de reocupação por parte dos guaranis-kaiowá. Além da morte de Vicente Fernandes Vilhalva Kaiowá e Guarani, 36, outros quatro indígenas ficaram feridos no ataque.

“Essa marcha é para trazer também essa mensagem importante da defesa da vida dos nossos defensores e defensoras, que estão fazendo a luta pelo nosso direito, pela luta territorial”, disse Kleber Karipuna, coordenador da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). “Não é possível que em pleno século 21 lideranças indígenas que estão lutando pelo seu direito sejam brutalmente assassinadas.”

Os manifestantes carregaram a alegoria chamada “cobra ativista”, que veio de Santarém (PA) para participar do evento.

O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Guilherme Boulos, criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante seu discurso no ato. “Vocês acompanharam os quatro anos anteriores com outro presidente, que eu não vou nem citar o nome para não trazer azar. Ele queria passar boiada, não demarcou uma única terra indígena”, disse em um carro de som.

O policiamento da COP30 foi reforçado no dia da marcha indígena. Agentes da Força Nacional e da Polícia Militar do Pará cercam o acesso à zona azul (onde se reúnem diplomatas e autoridades) com mais de uma dezena de viaturas, e o bloqueio das ruas foi ampliado.

Voluntários da COP30 passaram a exigir a apresentação da credencial para o evento na entrada do hangar, algo que não acontecia antes. O acesso ao local costumava ser aberto, com um grande portão —agora, só é possível entrar em filas. Há cinco caminhões do Exército e dois ônibus da Polícia Federal dentro do perímetro da zona azul.

Colaboraram Jéssica Maes e Geovana Oliveira, de Belém (PA)

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/11/indigenas-abrem-a-segunda-semana-da-cop30-com-protesto-contra-violencia-nos-territorios.shtml