Mais de 300 terras indígenas, incluindo o meu lar, estão sendo invadidas por garimpeiros

Txai Suruí

Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé

Garimpo próximo de comunidade indígena na regiã do Polo Base Xitei, na Terra Terra Indígena Yanomami, em Roraima – – Lalo de Almeida – 12.jan.24/Folhapress

Nos últimos anos, especialmente a partir de 2019, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, houve um aumento significativo nas atividades de garimpo ilegal, particularmente em terras indígenas. Relatórios do Ibama, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e de organizações não governamentais como ISA, WWF e Kanindé indicam que essa prática cresceu de forma alarmante, especialmente na Amazônia brasileira.

Estima-se que mais de 300 terras indígenas estão sendo invadidas por garimpeiros. Entre as mais afetadas estão a Terra Indígena Yanomami, a Terra Indígena Munduruku e a Terra Indígena Kayapó, mas muitos outros territórios também enfrentam essa dura realidade. A legislação brasileira, em especial a Constituição e a lei nº 9.985/2000, proíbe expressamente o garimpo em terras indígenas, reconhecendo o direito dos povos nativos à proteção de seus territórios e à preservação de suas culturas.

Segundo dados do Inpe, a atividade de garimpo é uma das principais responsáveis pelo desmatamento na Amazônia. A degradação ambiental provocada pelo garimpo ilegal impacta diretamente a biodiversidade e os ecossistemas locais, além de prejudicar as comunidades que dependem desses recursos. A utilização de mercúrio na extração de ouro é uma das maiores preocupações, pois as grandes quantidades desse metal despejadas nos rios resultam na contaminação das águas e dos peixes, afetando a saúde das comunidades indígenas.

Além disso, a invasão de terras indígenas por garimpeiros gera conflitos diretos entre os povos indígenas e os invasores. A violência, a intimidação e as ameaças tornaram-se comuns em várias regiões, com registros de assassinatos e agressões. A presença de garimpeiros também expõe as comunidades indígenas a doenças e outras ameaças à saúde e à segurança.

A Terra Indígena Sete de Setembro, localizada em Cacoal, Rondônia, meu território, lar do povo Paiter Suruí, enfrenta uma grave ameaça devido ao avanço alarmante do garimpo ilegal. Em janeiro deste ano, as áreas impactadas pelo garimpo totalizavam 79.357 hectares. Em outubro, esse número saltou para 102.865 hectares, um aumento de 23.508 hectares em apenas nove meses —o equivalente a mais de 102 campos de futebol devastados.

Esse avanço descontrolado afeta diretamente a saúde, a segurança alimentar e a cultura do nosso povo, além de provocar sérios danos ambientais. Conflitos, poluição e desestruturação das comunidades indígenas são algumas das consequências desse crime.

O núcleo de geoprocessamento da Associação Kanindé tem monitorado essa devastação no território Paiter Suruí por meio de imagens geoespaciais (Planet/NICFI e Google Earth), evidenciando a urgência de medidas efetivas. Embora as operações da Polícia Federal e do Ibama tenham combatido as invasões, os números indicam que ainda há muito a ser feito.

A proteção das terras indígenas é fundamental para a preservação da biodiversidade amazônica, da nossa cultura e da vida das futuras gerações. Não aceitamos a destruição das nossas florestas e do nosso bem viver; rejeitamos o garimpo ilegal em nosso território ancestral. Exigimos ações urgentes e políticas de longo prazo para barrar esse avanço devastador!

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2024/12/quem-vai-parar-o-avanco-do-garimpo-ilegal.shtml

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