Garimpo e mineração trazem a morte pela água em pequenas doses diárias
Os conceitos de garimpo e mineração ainda confundem a população do país —e em especial alguns indígenas. Mas estes têm claro que ambas as atividades prejudicam os seus territórios e causam danos à saúde física e mental dos povos originários.
Imagem de satélite do Google de 2007 mostrava uma draga de garimpo na Terra Indígena Sete de Setembro, nos estados de Mato Grosso e Rondônia. A imagem da draga está lá, fácil de ver. O que não se vê é o Estado brasileiro agindo para acabar com isso. Na imagem de 2023 não se vê mais a balsa, no entanto o garimpo triplicou de tamanho, assim como o desmatamento e a degradação ambiental. Isso apenas evidencia a falta de fiscalização nos últimos 16 anos.
Os paiter suruís exigiram a retirada dos garimpeiros. Nada foi feito. Estariam os órgãos responsáveis pela questão coniventes com os invasores?
Outras terras e áreas protegidas também sofrem com a ausência do poder público. Além de garimpo, poluição e desmatamento, há violência, estupros. Mas os gritos de crianças e adolescentes não são ouvidos pelas pessoas de bem, do lar, das igrejas e da pátria.
No país onde o vil metal turva as decisões e comumente se põe a favor dos anti-indígenas, o que vemos são yanomamis, mundurukus, kayapós, paiters, jupaús sendo constantemente vilipendiados em seus próprios territórios.
Vivemos num eterno retorno, num espaço-tempo em que tudo se repete numa história sem fim.
Garimpo e mineração trazem a morte pela água em pequenas doses diárias.
Fala-se em mineração sustentável. Mas o que isso significa? Que transformações e danos isso produz? Precisamos entender as lacunas existentes nessa discussão. Precisamos buscar soluções que garantam saúde e bem-estar nas terras indígenas.
É importante saber que os setores de garimpo e de mineração pressionam pela aprovação do PL 191/2020, que saiu da pauta da Câmara dos Deputados a pedido do presidente Lula. Mas não há garantia de que não vá voltar, já que a maioria dos deputados federais tem interesse em vê-lo aprovado.
Recentemente, o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) vem tomando posição contrária ao garimpo em terras indígenas e em unidades de conservação. Esse posicionamento parece ser um avanço no setor de mineração. Mas surgem então as perguntas: e as mineradoras e associações de garimpeiros, como pensam? E o governo brasileiro, vai fiscalizar?
Quero muito olhar novamente para a imagem do satélite sobre a Terra Indígena Sete de Setembro e lá não ver mais nenhum sinal de garimpeiros.
Este artigo foi escrito em conjunto com Neidinha Suruí
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