Após acordo com a Polícia Militar, indígenas desistem de protesto em rodovia e seguem para o pico do Jaraguá – Felipe Iruatã/Folhapress
Justiça paulista proibiu manifestação de guaranis contra marco temporal em rodovia
SÃO PAULO
Após acordo com a Polícia Militar, indígenas guaranis desistiram de ocupar a rodovia dos Bandeirantes para protestar contra o marco temporal a tarde deste domingo (4), optando por seguir pela rua Pico do Jaraguá, na zona norte de São Paulo
É a segunda manifestação do grupo em menos de uma semana. Na terça-feira (30), cerca de cem pessoas, entre indígenas e apoiadores, bloquearam a rodovia dos Bandeirantes. Na ocasião, a Tropa de Choque da Polícia Militar respondeu com uso de bombas de efeito moral e balas de borracha.
Neste domingo, o quórum era maior. Por volta de 12h30, mais de 200 de pessoas se aglomeravam em frente à Terra Indígena do Jaraguá. Compareceram muitos membros de sindicatos e movimentos sociais, além de lideranças políticas, como o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP).
A passeata começou às 12h30. Antes de seu início, o clima era de apreensão. Ao menos seis viaturas da Polícia Militar rondavam a terra indígena. A líder indígena do Jaraguá, Ara Poty, temia investida truculenta dos agentes de segurança a deixar feridos.
Outra expectativa a causar aflição era sobre a postura ante decisão judicial anunciada no sábado (3) a proibir manifestação na rodovia dos Bandeirantes, local preferido pela visibilidade.
Resolução da desembargadora Maria Lúcia Pizzotti, do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), estabelecia multa de R$ 20 mil e respaldava o uso de força policial em caso de descumprimento. Após deliberação das lideranças indígenas junto ao coronel Carlos Forner, da Polícia Militar, foi decidido pela realização do protesto.
“Temos que ser firmes e seguir. Desistir nunca. Isso é por todos nós”, declarou Matheus Werá, uma das lideranças da terra Indígena Jaraguá. “Estão tentando deslegitimar nosso direito a essas terras.”
Para marcar o início do ato, foi realizada na aldeia central uma cerimônia com cânticos em tupi-guarani a exaltar a união do povo pela natureza. Logo, todos os presentes marchavam rumo à via enquanto entoavam palavras de ordem contra o marco temporal, estendiam faixas e erguiam cartazes com súplicas pela proteção dos povos originários do país.
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No local da manifestação, a massa encontrou uma dezena de viaturas da Polícia Militar, que agora os protegia.
“Eu faço uma promessa para vocês. Agora, a Polícia Militar estará os apoiando e protegendo. Nada de violência”, anunciou aos presentes o coronel Carlos Forner.
Durante a caminhada em direção ao pico do Jaraguá, os indígenas, à frente, cantavam em tupi. Os acompanhando, simpatizantes da causa, muitos com pinturas indígenas nos rostos, aproveitavam para manifestar insatisfação com o governo do estado, liderado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), e a gestão municipal, comandada por Ricardo Nunes (MDB).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi poupado pelos não-indígenas, mas não pelos nativos. Eles cobraram mais empenho do petista na pauta ambiental e afirmaram que o chefe de Estado não fala pelos povos originários.
MARCO TEMPORAL
Aprovado na Câmara dos Deputados na última terça-feira (30), o marco temporal enfrenta oposição de ambientalistas, que enxergam brechas para permitir o garimpo e apontam dificuldades na demarcação de novas terras indígenas. Parlamentares da bancada ruralista, por outro lado, argumentam que a proposta dá segurança jurídica ao agronegócio.
A tese do marco determina que as terras indígenas devem se restringir à área ocupada pelos povos na data da promulgação da Constituição Federal de 1988. O projeto ainda deverá ser analisado pelo Senado e pode voltar à Câmara antes de ser remetido à sanção do presidente Lula.
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