SALVADOR
Autor do disparo está foragido; imóvel foi depredado por manifestantes após a morte
A jovem liderança da etnia pataxó Vitor Braz de Souza, 22, foi assassinada na madrugada desta segunda-feira (14), em Porto Seguro, na Bahia, após reclamar do som alto de uma festa clandestina que impedia o filho recém-nascido de dormir.
A informação é da Polícia Civil baiana que, por meio de nota, disse que o autor do disparo –um homem não indígena– já foi identificado após o depoimento de testemunhas, mas está foragido e é procurado pela 1ª Delegacia Territorial. O nome do suspeito não foi divulgado.
O crime ocorreu durante a realização de um evento anunciado como Sigilo Fest, na praia da Ponta Grande, em um território reivindicado pela etnia, mas que ainda não teria sido homologado pela Funai, divulgou no Twitter a liderança Thyara Pataxó.
Na manhã desta terça-feira (15), os pataxós voltaram a bloquear a BR-367, na altura do quilômetro 77, para cobrar solução do caso. Na véspera, o protesto durou quase três horas e terminou com a destruição do imóvel onde a festa do tipo “paredão” ocorreu.
Também conhecida como Vitor Pataxó, a vítima foi sepultada no final da tarde desta segunda-feira, em Porto Seguro. Depois do funeral, manifestantes fizeram uma caminhada pelas ruas da cidade, já no início da noite.
Por meio de nota, a Prefeitura de Porto Seguro informou que não houve solicitação por parte dos organizadores da festa para liberação do evento realizado em uma residência localizada na BR-367, na localidade de Ponta Grande.
Segundo informações do cacique Zeca Pataxó, o evento ocorreu em um imóvel dentro da área da aldeia Novos Guerreiros, próximo à casa onde a vítima morava com a mulher e o filho, uma criança com apenas 10 dias.
Conforme o cacique, Souza teria ido reclamar com os responsáveis pelo evento que o bebê não conseguia dormir por causa do alto volume do som, quando foi atingido por um tiro disparado por um homem que estava na festa.
“O cacique, mais outras duas lideranças, foi ao imóvel pedir para abaixarem o som, pois, a princípio, o evento estava previsto para encerrar às 23h”, contou. “Como estenderam até mais tarde, houve uma discussão na qual ele foi atingido.”
Ainda de acordo com ele, a Polícia Militar acompanhou a manifestação, mas não houve confronto. “Solicitamos às autoridades a elucidação desse crime e a prisão do autor o mais rápido possível”, cobrou a liderança.
Por meio de um vídeo publicado nos stories —que fica no ar por apenas 24 horas— do Instagram, um dos organizadores do evento, Bell Caast, lamentou a morte do indígena, mas alegou não ter sido informado pelos donos do imóvel que a área seria uma reserva.
“Aconteceram coisas muito tristes. Estamos aqui dispostos para o que precisar. Fizemos uma festa para todo mundo curtir. O pessoal da casa não avisou que aquela era uma área indígena. O que aconteceu não foi no evento, mas próximo”, disse.
Procurado pela reportagem, Caast, que tem mais de 40 mil seguidores na rede social, respondeu que um dos organizadores parceiros chegou a redigir a solicitação, mas que não houve tempo hábil para protocolar o documento na prefeitura.
“Eu não sei direito explicar essa parte burocrática, mas parece que foi muito em cima [a solicitação], na sexta para o sábado, mas aí não tinha como adiar, pois as pessoas já tinham comprado ingresso”, afirmou.
De acordo com ele, o evento teria começado às 21h, mas terminado antes do programado, às 23h30, porque o público teria sido aquém do esperado. “Havia pouco mais de cem pessoas na casa. Mas é lamentável o que aconteceu”, disse.
A prefeitura informou haver leis municipais que regulamentam o uso de equipamentos sonoros em eventos, mas que nenhuma delas trata dos limites de decibéis, que são impostos pela NBR 10.151/2019. No entanto, não respondeu como é feita a fiscalização nos casos de poluição sonora.
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