A Polícia Militar de Roraima feriu seis indígenas, aparentemente com balas de borracha, em ação dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, nesta terça-feira (16).
O objetivo dos policiais era destruir um posto de vigilância montado pelos indígenas para impedir o garimpo ilegal de ouro na região.
“Repudio a ação criminosa do governo contra a comunidade indígena Tabatinga. Uma atividade legítima de monitoramento territorial, feita pelas comunidades indígenas, pela ausência do poder público em combater a invasão de terras indígenas”, disse à Folha o coordenador geral do CIR (Conselho Indígena de Roraima), Edinho Batista de Souza.
Imagens de celular gravadas pelos próprios indígenas macuxis mostram uma idosa chorando após ser atingida na perna e homens com diversos ferimentos, um deles na cabeça.
A ação envolveu a invasão de ao menos uma casa. Uma faixa que citava o artigo 231 da Constituição de 1988, que versa sobre os direitos indígenas, foi retirada.
Em agosto, uma decisão da Justiça estadual determinou o fim dos postos de vigilância, a pedido da Sodiurr (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima), pró-garimpo. Na esfera policial, no entanto, a atuação dentro de terra indígena é de competência da Polícia Federal, e não da PM.
Há três semanas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) visitou uma comunidade indígena da região, no município de Uiramutã, acompanhado de lideranças da Sodiurr. No discurso, voltou a defender a legalização do garimpo, que tem contaminado os rios e levado a problemas sociais, como alcoolismo e prostituição.
Contatado, o secretário de Segurança Pública, coronel da PM Edison Prola, orientou a reportagem a procurar o comandante da PM, coronel Francisco Xavier, que, por sua vez, enviou o contato do secretário de Comunicação, Weber Negreiros, que não respondeu.
Roraima é governado pelo pecuarista e dono de frigorífico Antonio Denarium (PP), próximo de Bolsonaro.
Em nota divulgada em redes sociais, a PM afirmou que agiu em cumprimento de decisão judicial e que revidou um ataque com flechas e pedras dos indígenas. Segundo a versão policial, não foram usados armamentos letais. Um policial teria sido ferido na perna por uma flecha, sem gravidade.
“A nossa Constituição fala que o usufruto é exclusivo do indígena. Aquela área é terra pública, necessariamente o governador tem que começar a verificar a atuação da Polícia Militar, uma vez que não existia uma decisão judicial, pelo que consta da denúncia das lideranças indígenas, em relação à proteção de um bem comum, que é uma terra indígena, contra invasões, contra crimes ambientais. E é necessário o Supremo tomar uma decisão relacionada a isso”, afirmou a deputada federal indígena, Joenia Wapichana (Rede-RR).
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