Comunidades indígenas das etnias Guarani e Kaingang começaram a coleta da safra de erva-mate nas Terras Indígenas Mangueirinha, Rio de Areia e Marrecas, no Paraná. Cerca de 100 indígenas coletores deverão trabalhar na colheita da produção, que será comercializada para uma empresa multinacional. Realizada em uma área de aproximadamente 30 mil hectares entre ervais nativos e cultivados, a atividade produtiva beneficiará entre 90 e 120 famílias. A produção da erva-mate indígena conta com o apoio da unidade da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Guarapuava (PR).

Após receberem o reconhecimento de produção orgânica no Brasil, Estados Unidos e União Europeia, em 2020 os produtores indígenas de erva-mate do Paraná obtiveram uma Carta de Anuência assinada pelo presidente da Funai, Marcelo Xavier, autorizando a exportação do produto por meio da Guayakí Yerba Mate Brasil, empresa responsável pelo beneficiamento e exportação da safra. Em 2021 a produção alcançou um volume total de aproximadamente 340 toneladas de erva-mate colhidas pelas comunidades Guarani e Kaingang juntas.

As Terras Indígenas onde a produção é desenvolvida possuem ecossistemas florestais que possibilitam aos indígenas realizarem a colheita tanto na safra, entre os meses de junho e setembro, quanto na safrinha, que vai de novembro até o início de fevereiro. De acordo com o diretor executivo da empresa, Thiago Gomes, a parceria com os produtores indígenas tem se estendido por meio de apoio técnico como o edital da Funai denominado Caminhos Regenerativos da Erva-Mate. “Essa colaboração envolve o estabelecimento de viveiros de mudas de espécies nativas e implantação de áreas modelo para restauração ecológica em sistemas com erva-mate”, explica Gomes.

História

O servidor do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial (Segat/CR Guarapuava) Rodrigo Thuler Nacif conta que a extração da erva-mate nas Terras Indígenas do Paraná é uma prática de longa data das populações Kaingang e Guarani. “A erva sempre foi usada para consumo, mas passou por diferentes ciclos de exploração pelos quais os indígenas foram muitas vezes prejudicados. Uma grande diferença é que hoje eles são os responsáveis pelas quadras de erva plantadas e também das de erva nativa, trabalhando de acordo com seus próprios interesses ambientais, econômicos e sociais”, destaca.

Rodrigo Nacif relata que o manejo da erva-mate ocupa entre 30 e 40 famílias da etnia Guarani e entre 60 e 80 famílias Kaingang em cada temporada de safra. “As famílias produtoras atribuem à atividade de coleta não apenas o valor comercial, mas também um grande valor cultural. Seu uso ritual pelos Guarani está relacionado ao batismo das crianças, enquanto os Kaingang relacionam o uso da erva a presságios. Ambos fazem uso do chimarrão, chamado kógúnh pelos Kaingang, e ka’ay ou ka’y pelos Guarani”, explica o servidor da Funai.

Atuação da Funai

Conforme o coordenador regional substituto da Funai, Elton Fernandes Alzão, os produtores indígenas de erva-mate contaram com o a aprovação de três projetos pela Coordenação-Geral de Gestão Ambiental (CGGAM) por meio de um convênio com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). “Dessa forma, a CR Guarapuava conseguiu atuar principalmente no fortalecimento da cadeia de valores e de uma rede sociotécnica baseada em Sistemas Agroflorestais voltados para as Terras Indígenas”, afirma Elton Alzão.

No primeiro trimestre desse ano, a Funai já havia promovido o curso Construção de Saberes sobre Recuperação da Vegetação Nativa em Terras Indígenas, realizado na Terra Indígena Marrecas, município de Turvo (PR). A iniciativa reuniu servidores da CGGAM e das Coordenações Técnicas Locais (CTLs) ligadas à unidade da Funai em Guarapuava, além de lideranças indígenas.

A Funai também promoveu a aproximação das comunidades indígenas com o Centro de Desenvolvimento e Educação dos Sistemas Tradicionais de erva-mate (CEDErva) e a Embrapa Florestas, com o objetivo de integrar essas comunidades à proposta de inserção dos Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de erva-mate no programa Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Elton Alzão pontua que o benefício do cultivo da erva-mate vai além da necessidade de geração de renda e a autonomia econômica nas aldeias. “Essa atividade produtiva estimula a preservação, pois é importante na regeneração de nascentes, na recuperação de áreas degradadas e da mata ciliar, amenizando impactos ambientais que seriam causados pelo eventual uso do solo na agricultura convencional”, conclui.

Assessoria de Comunicação / FunaiCategoriaAgricultura e PecuáriaTags: AutonomiaGeração de rendaEtnodesenvolvimentoCoordenações Regionais

Fonte: https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2022/no-parana-etnias-guarani-e-kaingang-comecam-a-colheita-da-safra-de-erva-mate

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