Segundo os indígenas, as duas meninas, de 12 e 14 anos, foram atacadas no território ancestral Tujury Guapo’y Mirin
último dia 29 de maio, indígenas Guarani Kaiowá denunciaram que duas crianças de 12 e 14 anos foram sequestradas por fazendeiros em retaliação à retomada do território ancestral de Tujury Guapo’y Mirin, em Amambai-MS. Segundo os indígenas, elas foram estupradas e ameaçadas de morte.
Dois dias depois, a menina de 14 anos foi encontrada distante do território, com sinais de tortura e abuso sexual, mas a de 12 anos ainda permanece desaparecida. Os indígenas informaram que até o momento a Fundação Nacional do Índio (Funai) e os órgãos públicos locais não tomaram providências.
De acordo com a Organização de mulheres Kaiowá e Guarani – Kuñangue Aty Guasua, as vítimas foram arrastadas no meio do milharal por fazendeiros. De longe, podia-se ouvir os pedidos de socorro no galpão onde ficam os seguranças privados da fazenda localizada nos arredores da retomada. Para a organização, tudo indica que os “seguranças” sequestraram as crianças como forma de intimidar a ação do povo indígena.
Conforme relatos das lideranças Guarani, após o resgate da primeira criança, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e a polícia não quiseram prestar atendimento e registrar um boletim de ocorrência.
“Estamos retomando os nossos territórios por uma questão de sobrevivência. As crianças estão sendo violentadas, estupradas e a Funai, militarizada, não fez nada até agora. Ninguém apareceu no território para prestar atendimento médico a essa criança que foi torturada. Estamos com medo de novos ataques”, alertou uma integrante da Organização de mulheres Kaiowá e Guarani – Kuñangue Aty Guasua, que pediu para não ser identificada por motivos de segurança.
A luta pelo território indígena em Amambai-MS, localizado a 355 km de Campo Grande, começou em meados de maio de 2022. Segundo informações dos indígenas, eles foram esbulhados de suas terras por fazendeiros e os indígenas estão reivindicando seu território. “Resolvemos retomar a nossa terra tradicional”, diz o documento, que faz um apelo aos órgãos responsáveis para garantir a proteção do povo que está se organizando autonomamente pelos seus direitos.
Ataques
O povo Guarani Kaiowá vêm sofrendo ataques de fazendeiros locais de forma constante. Desde 21 de maio, outros dois indígenas foram assassinados. Alex Guarani Kaiowá, jovem de apenas 18 anos, foi morto brutalmente a tiros quando sua família tentava voltar para o Jopará, do Tehoka Takuapury, localizado no município Coronel Sapucaia e outro jovem indígena foi morto atropelado por uma camionete, nas margens da mesma região reivindicada pelos indígenas.
Por isso, o povo teme novos ataques e cobra a presença da Funai, do Ministério Público de Ponta Porã (MS) e dos demais órgãos públicos responsáveis.
“É fazendeiro que fuzila e assassina o nosso parente, é caminhoneiro que passa a carreta em cima da família Kaiowá e Guarani, tirando a vida de criança e mais duas pessoas de nossos povo, é o ódio, o racismo que percorrem os espaços urbanos e rodovias contra nós”, diz o povo Guarani em nota nas redes sociais.
O STF determinou a paralisação das reintegrações de posse contra indígenas até o julgamento do Recurso Extraordinário 1.017.367 ou até o final da pandemia. A continuidade do julgamento do recurso estava prevista para o próximo dia 23, mas foi retirada da pauta pelo Presidente do STF.
De acordo com o Relatório “Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil”, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a violência contra os povos indígenas aumentou no governo Bolsonaro. As violências praticadas contra os povos indígenas e seus territórios são condizentes com o discurso e as práticas do presidente, que tem como projeto a abertura das Terras Indígenas à exploração predatória e desde a campanha prometia paralisar as demarcações de terras.
Diversas medidas foram editadas com a finalidade de disponibilizar essas áreas para a apropriação privada e favorecer os interesses de grandes empresas do agronegócio, da mineração e de outros grandes grupos econômicos, como a Instrução Normativa nº 9/2020 da Funai e o PL 191/2020.
Nos três anos de governo Bolsonaro, houve um considerável aumento dos assassinatos de indígenas no Brasil. Em 2020, segundo relatório do Cimi, 182 indígenas foram assassinados – um número 61% maior do que o registrado em 2019, quando foram contabilizados 113 assassinatos.
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