Com profunda dor, indignação, raiva e tristeza, repudiamos o massacre genocida que ocorreu ontem, 29 de outubro, no resguardo indígena de Tacueyó, território ancestral do povo indígena Nasa, epicentro da resistência indígena pacífica em Cauca-Colômbia. Ali ocorre a construção de uma nova sociedade, na qual mulheres valentes e lutadoras, comprometidas com as lutas de seu povo, têm um papel importante, como nossa colega Cristina BautistaNeehwesx do resguardo de Tacueyó, profissional em serviço social da Universidad del Valle, esteve nas Nações Unidas e nos Estados Unidos fortalecendo o movimento de mulheres indígenas. Acadêmica, mulher intelectual e liderança política, foi covardemente assassinada junto aos guardas Asdruval Cayapu, Eliodoro Finscue, José Gerardo Soto e James Wilfredo Soto, bem como às autoridades Neehwe’sx, que ficaram feridas: Crescencio Peteche José Norman Montano, Matías Montano, Dora Rut Mesa Rogelio Taquinas.

Infelizmente, em um país em que um boi tem mais terra do que uma família indígena, devido à enorme concentração de terra nas mãos de poucos e na ausência de políticas rurais com uma abordagem étnico-territorial (como indicado no ponto 1 do Acordo de Paz), não é de surpreender que a produção de cultivos ilegais (cannabis e coca) tenha crescido cada vez mais nos resguardos do Norte de Cauca, mesmo ante a forte oposição das autoridades tradicionais quem, diferentemente do exército colombiano, realizam operações de apreensão e queima de mercadorias e se opõem ao uso dos territórios como corredores do narcotráfico e outras atividades ilegais.

Nossa colega Cristina denunciou de frente e com a cabeça erguida a desarmonização que trouxe a cultura mafiosa e a necessidade de uma transição econômica que venha desde dentro da mesma comunidade e dos resguardos porque nada pode ser esperado do estado colombiano e dos acordos de paz que hoje são violados. Atualmente, o contexto nos mostra que o principal inimigo são as organizações narco-paramilitares e dissidentes da guerrilha articuladas às cadeias globais de valor que suprem a demanda pelo uso de drogas nos países capitalistas do Norte global. Este novo inimigo não tem contemplações e atua como uma quadrilha criminosa de capitalistas selvagens lumpenizados, tornando necessária a  articulação como poder comunitário dentro e fora dos territórios indígenas para expulsá-los, assim como a nossa união com a  guarda indígena para assumir o seu papel quando for necessário, fortalecendo as obras espirituais e solicitando a orientação constante dos T-Walas.

Nós, profissionais indígenas e não indígenas, comprometidos com as lutas do povo Nasa, nos juntamos a sua dor e simpatizamos com todas as famílias vítimas deste genocídio de 520 anos.

Acadêmicos Solidários.

Brasília – D.F., Brasil 04 de novembro de 2019

Fonte: http://ela.unb.br/pt-br/laboratorios/laepi/documentos

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