Evento teve como foco as estratégias interculturais de promoção da vida, destacando a importância de políticas públicas sensíveis às particularidades culturais de cada etnia
Foto: Cristiane Hidaka/Sesai
No Dia Nacional de Prevenção ao Suicídio, celebrado nesta terça-feira, 10 de setembro, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) promoveu o webinário “Escutando o Bem-Viver para Viver Bem”. A atividade, realizada de forma online, discutiu a sobre a violência autoprovocada nas comunidades indígenas, uma realidade também existente nos territórios.
O evento teve como foco as estratégias interculturais de promoção da vida, destacando a importância de políticas públicas sensíveis às particularidades culturais de cada etnia. Com destaque para criação de estratégias de prevenção e cuidado que respeitem a cosmovisão indígena, uma vez que cada etnia tem sua própria percepção da morte.
De acordo com material apresentado durante o webinário, que trouxe dados da autora Monica Pechincha, para os povos Tikuna e Y’ekuana, por exemplo, as explicações para o suicídio podem envolver feitiçaria, enquanto para os Suruwahá, a morte jovem é vista como uma “boa morte”. Já entre os Guarani Kaiowá e Karajá, também há tendências a explicar o suicídio pelo enfeitiçamento.
Dados apresentados fizeram panorama dos índices nos territórios. A região Norte concentra o maior número de óbitos por suicídio entre indígenas, seguida pelas regiões Nordeste e Centro-Oeste. A faixa etária mais afetada é de 15 a 19 anos, que responde por 28% dos óbitos.
As tentativas de suicídio também preocupam. Entre os anos de 2020 e 2021, não houve notificações de tentativas de suicídio, mas em anos anteriores, a etnia Tupinambá apresentou o maior número de tentativas, seguida dos Pataxó. No Polo Base de Ilhéus, localizado na Bahia, houve o maior número de registros.
Equilíbrio entre culturas
O pesquisador Tiago Gabatz trouxe à discussão a necessidade de equilíbrio entre as culturas tradicionais e a ocidental. “Os povos tradicionais possuem uma visão de mundo que é baseada na harmonia com a natureza e com os seus antepassados. Quando esse equilíbrio é rompido, seja pela introdução de valores externos ou pela perda de identidade cultural, o impacto sobre a saúde mental é profundo. O suicídio muitas vezes é reflexo dessa desarmonia”, pontuou Gabatz.
Tiago acrescentou relatos reais de experiência de escuta na clínica Guarani Mbya, que permitiu criar um amplo espaço para reflexão desse assunto tão complexo e delicado.
Acolhimento à violência autoprovocada
Edinaldo Xukuru, psicólogo da Sesai, enfatizou a importância do acolhimento e da promoção de políticas públicas direcionadas para enfrentar a violência autoprovocada nas comunidades indígenas, especialmente entre os jovens. “O acolhimento é fundamental. Precisamos de políticas que entendam as especificidades das nossas comunidades e que promovam a vida de forma intercultural. O suicídio é uma realidade entre os nossos jovens. Precisamos de estratégias que envolvam nossos saberes e práticas tradicionais, além do suporte das redes de saúde”, declarou.
Edinaldo ressaltou ainda a importância da coexistência das medicinas tradicionais com as práticas ocidentais. Para ele, as medicinas indígenas são essenciais no enfrentamento às vulnerabilidades atuais.
Prevenção e cuidado
Entre as estratégias discutidas, destacou-se a qualificação da Vigilância Epidemiológica e do Óbito, além da construção de linhas de cuidados, com ações de vigilância e acolhimento às pessoas e famílias enlutadas. Uma das iniciativas mais promissoras é a formação de “sentinelas” ou “guardiões da vida”. Esses indivíduos, próximos das pessoas em risco de ideação suicida, são incentivados a compor uma rede de suporte comunitário e psicossocial, promovendo a proteção e valorização da vida.
O webinário terminou com a conclusão sobre a importância de unir esforços e de construir estratégias de prevenção que respeitem a diversidade e a cosmovisão de cada povo. Tanto para pessoas não indígenas, quanto para aldeados, o melhor enfrentamento ao suicídio e proteção à vida ainda é o acolhimento e o processo de escuta. A interculturalidade deve ser a base para a promoção de políticas públicas efetivas, que possam, de fato, enfrentar a violência autoprovocada nas comunidades indígenas.
Leidiane Souza
Ministério da SaúdeCategoria
Saúde e Vigilância Sanitária
Tags: saúde indígenawebináriosuicídioviolência autoprovocada
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