Entre os dias 31 de agosto e 6 de setembro de 2020, viajei de Manaus à Terra Indígena Andirá Marau, que fica no baixo rio Amazonas. Toda a viagem foi de barco de motor e durou seis dias.Fui acompanhar minha mãe Sonia da Silva Vilacio Sateré , de 46 anos, coordenadora da Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM) na entrega de 100 cestas básicas, 100 kits de higiene e 3.000 máscaras de tecido confeccionadas pelas mulheres indígenas da associação às duas comunidades Nova Esperança, no rio Marau, e Guaranatuba, no rio Andirá, no território Sateré-Mawé.
A viagem começou de tarde e foram 12 horas pelo baixo rio Amazonas até chegar ao município de Maués à noite. No barco, os passageiros viajam acomodados em redes atadas na embarcação.
Chegando em Maués, fomos ao Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), que nos apoiou com um barco. Saímos de lá às 3 horas da tarde e chegamos na Aldeia Nova Esperança, no rio Marau, às 2 horas da madrugada. Ficamos no barco e às 8 horas da manhã saímos para fazer as entregas das cestas básicas até ao meio dia.
Depois voltamos para Maués, onde chegamos às 8h da noite. Trocamos de embarcação e dormimos no barco que ia para Parintins. Foram mais 12 horas de viagem. Chegamos em Parintins na manhã do outro dia. De lá fomos para o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), que também nos apoiou com diesel, pois não havia barco disponível. O barco do Dsei estava a caminho de Nhamundá, levando o corpo de um parente Hixkaryana morto por Covid -19 no dia anterior.
A Aldeia Guaranatuba fica no rio Andirá (Foto AMISM)
Conseguimos um barco emprestado do Tuxaua Eudes, que nos levou para o rio Andirá. Na Aldeia Guaranatuba chegamos de manhã do outro dia. Fizemos as entregas das cestas. Depois voltamos para Parintins e de lá seguimos de barco de motor para Manaus.
Em Nova Esperança vivem 450 pessoas e, em Guaranatuba mais 60 pessoas. Nas duas comunidades entregamos folders informativos na língua Sataré-Mawé sobre o coronavírus. A pandemia está bem grave entre os povos.
A AMISM vem ganhando destaque durante a pandemia do Coronavírus pela iniciativa de confecção de máscaras de tecido que são comercializadas e doadas aos indígenas do Amazonas.
Esta iniciativa ressignificou o trabalho e a renda dessas mulheres que antes viviam apenas da comercialização do artesanato.
As mulheres da associação sonhavam em ajudar também as outras associadas que vivem na Terra Indígena Andirá Marau, pois a situação estava muito difícil e temiam pela vida destas.
Foi quando um edital de projeto promovido pela SITAWI, com fundo Coca Cola, foi encaminhado à AMISM.
Sou a secretária da associação e rapidamente escrevi uma proposta para ser submetida. Queria ajudar o próprio povo com alimento, higiene e proteção. Fomos contempladas.
As mulheres das comunidades ficaram muito agradecidas. Elas Lembraram da minha avó, Zenilda da Silva Vilacio (falecida em 2007), de quando ela ia lá. E nos disseram: Waku; que na nossa língua Sateré-Mawé significa Obrigada.
A produção de máscaras de pano dos Sateré-Mawé (Foto AMISM)
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