Com o tema “sem território não existe vida”, o Conselho Indígena de Roraima (CIR), promoveu a I Reunião Ampliada Deliberativa, na comunidade indígena Pium, na terra indígena Manoá-Pium, região da Serra da Lua, município de Bonfim, fronteira com a Guiana. Realizada na última semana, 4 a 6, a Ampliada reuniu membros conselheiros, coordenação, departamentos, lideranças e convidados.
A reunião Ampliada é um órgão deliberativo do CIR destinado para debates, prestações de contas, avaliação e deliberações de ações voltadas às comunidades indígenas e à organização. São realizadas duas reuniões ao ano, uma no primeiro e outra no segundo semestre do ano.
“É um órgão importante no organograma dentro da organização. A Ampliada nasce para ser um órgão fiscalizador que acompanha todas as atividades da instituição, principalmente a coordenação geral do CIR que é um colegiado”, esclareceu o coordenador.
Lideranças em plenária/ Malocão da Comunidade Pium – Região Serra da Lua
Com três dias de programação, ocorreram debates com temas sobre a “política do malocão”, “saúde e educação indígena”, “análise de conjuntura – Marco Temporal”, “proteção territorial e ambiental”. Os debates contaram com a participação das organizações indígenas, Organização dos Professores Indígenas de Roraima(Opir), Organização das Mulheres Indígenas Roraima (Omir), Hutukara Associação Yanomami, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira(Coiab) e União das Mulheres Indígenas da amazônia Brasileira(Umiab), além dos representantes das instituições, coordenação regional da Funai/RR, Distrito Especial Indígena do Leste de Roraima (Dsei-Leste/RR), Diocese de Roraima, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Femarh/RR.
Os departamentos de Comunicação, Administrativo e Financeiro, Gestão Territorial e Ambiental, Núcleo da Juventude, Projetos, Jurídico, Emergencial, Mulheres e Coordenação Executiva, também prestaram informações sobre as atividades desenvolvidas nas comunidades.
Coordenação da Juventude Indígena de Roraima/ Departamento Administrativo do CIR realizando a prestação de contas para as lideranças
Na ocasião, lideranças das etnoregiões, Murupu, Baixo Cotingo, Amajari, Serra da Lua, Surumu, Serras, Raposa, Alto Caumé e Tabaio apresentaram informações regionais sobre os dados das comunidades indígenas referentes à população, projetos sustentáveis, saúde e educação, além dos desafios com as invasões, como garimpo ilegal, não indígenas no território, agronegócio, poluição do meio ambiente e outros problemas.
A Tuxaua da comunidade indígena Morcego, Leirijane Macuxi, ressaltou que cada organização presente na ampliada é a soma da outra, e que as lideranças indígenas são o fortalecimento das bases.
“O movimento indígena é uma escola, e eu estou diante de lideranças que tenho orgulho e respeito. É importante participar desses momentos, porque nós tuxauas levamos para nossas bases, os aprendizados e as discussões que fazemos aqui”, finalizou a tuxaua.
O Coordenador do Cir, Edinho Batista, reforçou a importância da organização, sendo uma instituição reconhecida mundialmente pela luta em defesa dos direitos dos povos originários, e tem servido de exemplo e apoio para as demais organizações indígenas.
“Há 50 anos, não tínhamos uma organização que lutasse por nós, e hoje estamos aqui, lutando por nossos direitos enquanto povos indígenas. A política do Conselho Indígena de Roraima é de respeito e dignidade. A posição do CIR é de defender vidas, e estamos numa era de viver ou morrer. Enquanto estamos aqui reunidos, nossos irmãos Yanomami estão morrendo e no Congresso estão votando projetos que afetam nossas vidas”, disse o coordenador.
A presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, e o presidente da Hutukara e líder Yanomami, Davi Kopenawa, participaram do último dia. Nas falas, relataram a triste situação que vive o povo Yanomami na luta contra o garimpo ilegal. A presidenta reforçou que a operação de combate ao garimpo continua no terrítório, com a presença do Exército e outros órgãos federais na região.
Presidenta da FUNAI Joenia Wapichana e a Liderança Yanomami Davi Kopenawa
Ela aproveitou para parabenizar o CIR, pela atuação junto ao movimento indígena de Roraima e reforçou que o povo indígena vive um momento histórico sendo a primeira vez que uma indígena ocupa o cargo de presidente da Funai.
“Hoje estamos no governo que deu oportunidade aos indígenas para ocupar esses espaços. Pela história do Brasil nunca houve um presidente da Funai indígena. Estou há cinco meses à frente da instituição, mas ainda há muito o que fazer, nessa reestruturação. Vi que a Funai foi sucateada pelo governo de Bolsonaro e o órgão tem um orçamento que não atende as necessidades dos povos indígenas” informou.
No último dia também foram deliberadas e aprovadas pelos conselheiros, as propostas debatidas ao longo dos três dias de Ampliada. Foram aprovadas 20 propostas, tais como: a criação do fundo indígena com nome “Rutu” – Jamanxim na língua indígena Macuxi; o acordo de cooperação Técnica entre o CIR e FUNAI; a reativação das bases de monitoramento em áreas estratégicas para o fortalecimento da proteção territorial e ambiental das terras indígenas; e outras aprovações. Aprovaram a realização da segunda reunião Ampliada na comunidade Arapuá, região do Alto Cauamé.
Coordenador da Região Serra da Lua Clóvis Ambrósio e seu Vice, Coordenador Lázaro Wapichana
Carta da Ampliada
Na carta final da Ampliada, aprovada, os conselheiros repudiaram os ataques contra o povo Yanomami, especificamente, o último no dia 3 de julho, e exigiram investigação e punição dos culpados, além de uma operação permanente e que combata definitivamente o garimpo ilegal no território.
A carta reforça o apoio aos representantes das instituições como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste de Roraima (Dsei-Leste), e nos setores de educação do Estado, repúdio a qualquer manobra e desrespeito à atual gestão indígena. Os conselheiros pediram respeito e permanência dos representantes indicados pelo movimento indígena de Roraima, sem interferência política.
Também repudiaram a ação do governo do Estado, que tem levado projetos às comunidades indígenas sem consulta prévia, como o “projeto grãos” voltado à produção de soja e outros transgênicos. Pontuaram que os povos indígenas de Roraima, tem sua própria sustentabilidade e trabalham para continuar avançando e executando projetos que valorizem e fortaleçam a agricultura familiar indígena a base de produtos orgânicos.
Coordenação executiva do CIR/ Diálogos durante a Ampliada, Secretária Kelliane Wapichana e a Liderança Telma Taurepang
A gestora ambiental e coordenadora do departamento de Gestão Ambiental e Territorial (DGTA) do CIR, Sineia Bezerra do Vale, do povo Wapichana, há mais de 30 anos atuando na organização, recebeu o reconhecimento da Ampliada por toda sua trajetória e dedicação às comunidades indígenas, especialmente, as pautas sobre mudanças climáticas, gestão territorial e preservação ambiental.
Recentemente, Sineia, também reconhecida como liderança climática, assumiu a coordenação nacional do Comitê Gestor de Mudanças Climáticas.
Os membros finalizaram com a reflexão, “Somos um movimento indígena secular, com mais de cinquenta anos, e assim seguiremos na resistência pela defesa dos nossos direitos e também por nossas vidas, atuando no presente e planejando o futuro”.
Deliberações Finais da 1ª Ampliada do Ano
Leia a Carta da Ampliada: Carta final_1 a Ampliada CIR 2023
Fonte: https://cir.org.br/site/2023/07/10/membros-conselheiros-e-coordenacao-geral-do-cir-aprovam-deliberacoes-na-1a-reuniao-ampliada-do-ano/
Comentários